sábado, 7 de maio de 2011

Mãe

I “carne da minha carne...”

Você já pensou no que vai dar a sua mãe no dia em que o mercado consagra a ela? Do que você acha que ela está precisando para se sentir mais completa e feliz? Uma Brastemp? Uma Consul? Um microondas? Uma máquina digital? O quê? Mas talvez você seja um daqueles filhos modernos que preferem dar um Blu-ray Player ou então um celular da marca tal, um desses que tem um monte de utilidades, tantas que dificilmente se chega a usar todas, além do básico falar-ouvir-mandar-receber-mensagem, igualzinho ao que aparece na propaganda da tevê, onde mãe e filha sorriem e brincam de trocar celulares em forma de presente, passando a sensação de felicidade para quem as assiste, quem sabe sua mãe não vai se sentir feliz assim como a mãe da tv?

Você também pode pensar em oferecer um outro tipo de presente a sua mãe, o sistema capitalista tem qualquer coisa que você precise. Se ela for do tipo vaidosa que assiste sempre ao programa da Hebe ou da Ana Maria Braga ou qualquer uma coisa dessas (é tudo igual, tudo cópia), você pode oferecer a ela uma cirurgia plástica, uma lipoaspiração, ou um final de semana em uma clinica de estética para que ela encontre a fonte da juventude que a tevê anuncia em horário nobre. Se ela for do tipo que gosta de aventura, ofereça-lhe um safári na África ou quem sabe uma participação no rali Dacar. Não precisa se preocupar com nada, o sistema já se pensou em tudo, em todas as formas de como fazer sua mãe feliz, tentou até classificar as mães de acordo com os produtos da prateleira, é só você identificar que tipo de mãe é a sua e em seguida pagar no caixa ou pela internete em suaves parcelas...

Veja quanta comodidade, quantas opções para fazer sua mãe feliz, tudo pode ser resolvido com uma simples ligação e ela vai receber o presente em casa, mas você já parou pra pensar no significado de um presente para quem o recebe? Ao entregar um presente a alguém, não é apenas o objeto que traz o significado para quem o recebe, um presente é também uma forma de se conceituar uma pessoa, sendo você a mãe, em que situação se sentiria melhor, recebendo um microondas do seu filho ou recebendo carinho e atenção dele?

Estamos sempre preocupados em como agradar às pessoas que amamos, procurando uma forma de traduzir a expressão: eu te amo por um presente que simbolize o quanto o sentimento é verdadeiro (quanto mais caro, mais sincero), mas você já parou pra pensar que algumas vezes tudo o que a pessoa a quem se ama quer de você apenas um gesto e não um presente? Celulares, tevês, Blu-ray Player, vídeo – games, viagens, cirurgias estéticas, livros, tudo isso é perfumaria perto de um sentimento verdadeiro, dito com toda a alma, com todo o tremor e emoção da voz... e a cena se repete, chega o sábado, e você está correndo pelo centro comercial da cidade ou em lojas de departamento em Shopping Center's à procura de algum presente que diga a sua mãe o quanto você a ama, e esse ritual se repete desde que o comércio fez você se entender por consumidor.

II – “sangue do meu sangue...”

Já parou pra pensar no que sua mãe significa pra voce? (não apenas sua mãe, mas seu pai e todos aqueles que lhe amam), já parou pra pensar neles em qualquer dia da semana e não apenas em datas comerciais? Escrever sobre minha gênese nunca me foi fácil, mas isso não quer dizer que não saiba o que ela significa pra mim. Eu a considero a personificação do amor, a depositaria fiel de todos os ensinamentos do Cristo crucificado, minha mãe é um ser que está acima do bem e do mal e de toda relatividade que isso possa trazer. Eu não vejo minha mãe, eu a sinto. Ela pra mim vai muito além do meio físico que ela ocupa ou que se ocupa dela, ela transcende todo conceito que eu possa criar a respeito, talvez seja por isso que eu encontre dificuldade em falar sobre ela, defini-la. Filosoficamente eu apenas posso dizer que ela é.

Pense no que sua mãe significa pra voce e lhe demonstre isso. Aproveito para lançar aqui uma proposta, melhor que isso, lanço um desafio: que tal nesse dia das mães ao invés de perder tempo procurando um presente caro para presenteá-la e depois de entrega-lo sair com os amigos e deixá-la só curtindo o presente, deixe-a curtir você, saia com ela, faça por ela o que ela fez e faz por voce desde sempre: doe a ela um pouco de você.

Inove, faça-lhe uma surpresa realmente, ao invés de celebrar o dia das mães no segundo domingo de maio, celebre hoje quando você chegar em casa. Ao invés de comprar ou enviar presentes caros, faça coisas simples por ela, dê-lhe flores, leia uma crônica bonita ou uma poesia, cante uma canção antiga, aquela que voce sabe que ela gosta de cantar, conte-lhe uma história. Pode, mesmo, ser a história da sua vida, faça o almoço e sirva quem sempre lhe serve, ou então saia com ela, aproveite para passarem o dia junto, como há muito vocês não fazem. Parece simples e banal, mas às vezes pode ser o melhor presente.

Você deve achar que tudo isso é uma grande bobagem e que ela vai preferir o presente caro, não o condeno por pensar assim, muitas vezes compactuo da mesma, essa não é uma lógica sua nem minha, é uma imposição do mercado -esse-monstro-desalmado-sem-mãe-nem-coração. E não me surpreenderia se após você ter se ficado com ela por todo o dia, ela ainda pergunte se não vai ganhar nada, isso já virou um costume, é cultural, amamos apenas o palpável, mas não por culpa nossa, certos valores são implantados por imposições de um sistema invisível mas que nos bombardeia com sugestões desde a hora em que acordamos até a hora em que vamos dormir.

III – Eu te amo, mãe...
O que mais posso dizer depois disso?
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Xico Fredson!

(dedicado a Lucia Vanda Ferreira e Veridiana Goes Ferreira)

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Um comentário:

  1. Cara, que verdade! Não devemos nos conformar com o papel da sociedade sobre nós, nos fazendo de marionetes e impondo em nossas mentes mentiras que dizem que são verdades! Onde está a nossa identidade? Desceu pelo ralo?

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