quinta-feira, 9 de junho de 2011

O artesanato de Juazeiro nos versos de Pedro Bandeira

Centenário de Juazeiro do Norte # 57

Hoje, na postagem sobre o centenário de Juazeiro do Norte, destacamos o poema "Artesãos de Juazeiro", de Pedro Bandeira. O poeta, repentista, escritor e radialista, que nasceu no município de São José de Piranhas, na Paraíba, chegou em Juazeiro em 1961 e tornou-se um dos grandes nomes da cultura juazeirense.

O poema "Artesãos de Juazeiro" foi reproduzido no primeiro livro de poesia de Pedro Bandeiro, O sertão e a viola, com primeira edição nos anos 70.

Transcrevemos abaixo a apresenteção e o poema, como estão dispostos no livro citado. É importante levar em consideração que, como se trata de um poema feito há mais de 40 anos, naturalmente muitas coisas mudaram na cidade de Juazeiro do Norte. Outra ressalva é a respeito do elogio aos políticos do município, que nos versos são apresentados como "bons", "dinâmicos". Essa era a leitura do poeta que, ao fazer versos de exaltação à cidade, naturalmente procura valorizar tudo e todos no município.
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Poema feito na Guanabara e ali publicado e distribuído por ocasião da exposição “Nordeste da bússola”, no Museu de Arte Moderna e que mereceu os melhores encômios do crítico carioca [mineiro, na verdade] Carlos Drummond de Andrade, do “Jornal do Brasil”, em abril de 1970.

Artesãos de Juazeiro
Pedro Bandeira

Desperta, cidade linda,
glória da nossa Nação!
escuta um poeta nato,
falando da Exposição,
dizendo ao Rio de Janeiro
o que há no Juazeiro
do Padre Cícero Romão.

Juazeiro, de artesão,
é grande e milionário!
E eu sem exagerar
nada direi ao contrário.
E aqui começo a dizer
o que sabemos fazer
sem precisar maquinário.

Faca, revólver, espingarda,
— cano grosso e cano fino —
pistola, foice e machado,
trinchete — tipo colino —
peixeira feita com arte,
cravinote, bacamarte,
e mosquetão boca de sino.

Juazeiro é a cidade
que cresce porque tem sorte!
Na indústria é gigantesca,
na Educação é forte,
arborizada e bonita
e é feliz quem visita
o Juazeiro do Norte!

Nossa cidade é poética,
romântica e hospitaleira!
Bons clubes, lindas piscinas
doce vida domingueira...
E agora levanto a voz
para dizer o que nós
fabricamos da madeira...

Da madeira nós fazemos
“Dois de Ouro”, “Lampeão”,
apito, santo, oratório,
cinzeiro, mão-de-pilão,
cocho, cabaça, gamela,
cabo coronha, janela
terço, rosário e portão.

Centro, Maria Bonita,
Metro, régua, tabaqueiro,
mesa, cadeira, tripé,
pilão de pisar tempero
e antes que alguém mande:
— A escultura do grande
fundador do Juazeiro.

Quem fizer uma visita
à Igreja dos Franciscanos,
ao Museu do Padre Cícero,
à Matriz dos Salesianos,
sente tanta sensatez
que vem pra passar um mês
se agrada e passa dez anos.

Temos mais de vinte praças,
bons colégios, matadouro,
somos o primeiro lugar
em fabricação de ouro,
e agora, procurei rima
para dizer com estima
o que fazemos do couro.

Do couro fazemos roupa
de o vaqueiro entrar no mato,
saia e blusa pra mulher
com tudo do artesanato.
Sela, cilha, rabichola,
camisa para viola,
peitoral, loro e sapato.

Funda, pelego, correia,
manta, cinturão, esteira,
cochim, corona, morcega,
bainha para peixeira,
bolsa, depósito pra bala,
chicote, chibata, mala,
chapéu, rédea e cartucheira,

Do couro ainda fazemos
rabicho, peia, arrieira,
barbicacho, arreiador,
marra, cabresto, coleira,
cinta, chinela, ginete,
corda, valise, tapete,
alpargata e focinheira.

Sem falar nas grandes fábricas
que enriquecem o Ceará
como a Coca-Cola e a Fanta,
no triângulo “Crajubá”,
Eletromáquina, Icasa,
a Cirol e Inboplasa,
e a Cariri S.A.

A Estátua do Padre Cícero
é em quem mais me aferro;
fica na serra do Horto,
dá-me perdão quando erro,
peço a Ele inspiração,
para dizer à Nação
o que fazemos do ferro.

Do ferro e metal fazemos
martelo, prego, armador,
“bridge”, estribo, cortadeira,
“lavanca”, pá, cavador,
ferrolho, porta, suvela,
dobradiça, escopo e vasador.

Chuncho, esfera, marcador,
punhal, cabide, chocalho,
enxada, peso, balança,
botijão, marreta, malho,
trinco, roseta de espora,
o relógio que marca a hora
do descanso e do trabalho.

Juazeiro tem seis bancos,
cinco feiras semanais,
noventa grupos escolares,
boas rádios, bons jornais,
antes que a veia malandre,
eu vou explicar do flandre
o que Juazeiro faz.

Do flandre fazemos lata,
lamparina, açucareira,
bule, bacia, caneco,
caçarola, frigideira,
candieiro, aguador,
friso, grampo, pegador,
funil, copo, ratoeira.

Do flandre ainda fazemos
coisa muito mais bonita —
brinquedo em todo modelo
que só quem vê acredita;
chamador, cofre, leiteira,
luva, abrasador, peneira,
concha, fivela e marmita.

Os nossos pontos turísticos,
São belos e naturais.
Lions, Rotary, Câmara Júnior,
SENAI, CITELC, Hospitais,
Clubes Sociais, Hotéis,
Canal Dois e breve o Dez,
“pegando” limpo demais.

Do ouro fazemos cruz,
terço, rosário, anelão,
anel, aliança, broche,
trancelim, letra, cordão,
volta, colar e pulseira,
medalha, abotoadeira,
chave, chaveiro e botão.

— Aliança pra noivado,
figa, sino, coração,
berloque, “Agnus Dei”,
braceleta, medalhão,
fivela para sapato
e encartucho do retrato
do Padre Cícero Romão.

Juazeiro tem cinema,
ruas saudosas e boas,
visitadas por Bahia,
Pernambuco e Alagoas,
parece uma capital
e sua vida anual
é mais de cem mil pessoas.

Do sinal, palha e agave
fazemos rede sem nó,
trança, coberta, esteirão,
saco, patuá, ioió,
chapéu, relho, espanador,
arupemba, abanador,
barbante, corda e bornó.

De bebidas, temo vinho,
guaraná e aguardente,
cajuína S. Geraldo...
Nosso futebol é quente,
e quem visita o Romeirão,
vê a administração
de um prefeito “p’ra frente”

Do barro fazemos prato,
forno, papeiro, panela,
texto, pote, garrafão,
jarra, roseira, gamela,
touro, vaca, coelho, galo,
urso, elefante, cavalo,
porquinho, filtro e tigela.

As flores, fazemos todas
— flores artificiais — ...
Rosa rendeira é mais típica,
tudo de renda ela faz,
pra frente vamos marchando
e só estamos precisando
das ajudas federais.

Da pólvora, fazemos todos
festejos do Cariri;
Pra óleos aproveitamos
mamona, algodão, pequi,
andu, milho, amendoim,
mandioca, gergelim,
tomateiro e buriti.

Do cimento fabricamos
lousa, mosaico, cruzeiro,
viga, poste, armário, pedra,
porta-joia, fogareiro,
banco, banca, balde, busto
e exportamos sem susto
de nós para o mundo inteiro.

Do cipó fazemos tudo
sem precisar ensaio:
cadeira, aros, balões,
pras noites do mês de maio,
lindos arranjos de flores,
“Jiqui”, cestão, bastidores
caçuá, cesta e balaio.

Juazeiro é a cidade
que cresce desde o início...
Os nossos artistas fazem
sem precisar sacrifício,
viveiro, caricatura,
gaiola, xilogravura,
talismã e artifício.

Fabricamos os melhores
instrumentos musicais —
sanfona, harmônica, pandeiro,
caixa, contrabaixo e mais:
violão pra qualquer tarra,
bandolim, banjo, guitarra,
reco-reco e outros tais.

Juazeiro tem boêmio
artista, compositor,
tocador de violino,
rebeca, cítara e bongô,
repentista, violeiro,
sambista, cancioneiro,
romancista e trovador.

Em gesso, nós fabricamos
tudo em alta quantidade.
Pia, estátua, imagem, santo,
moldura da antiguidade
e, em ótimo acabamento,
tem o mini-monumento
do fundador da cidade.

Temos cento e vinte mil
habitantes na cidade;
dezoito mil residências,
rica coletividade,
bar, restaurantes e tabernas,
cobertos pelas lanternas
da nossa eletricidade.

Juazeiro, em muitas coisas,
não se humilha a ninguém.
Ônibus, táxi, via aérea,
misto, caminhão e trem.
E temos como documento
o terceiro monumento
que o globo da Terra tem.

Temos o “Tiro” e a Guarda,
assegurando a cidade;
o Segundo Batalhão,
Justiça, Lei e Verdade,
loiras, morenas rosadas,b
bailarinas, delicadas,
enfeitando a sociedade.

Nossos políticos são bons,
ninguém trabalha pra si.
Nosso Prefeito é dinâmico,
Quase o melhor que já vi,
e para o melhor conforto
temos o Aeroporto
Regional do Cariri.

Tudo que nós fabricamos
tem bastante exportação,
vendendo a todos Estados
da nossa Federação
e pra crescer o valor,
vendemos ao Exterior,
prestigiando a Nação.

Em folclore o Juazeiro
é capital nordestina!
É onde a literatura
de Cordel sabe e ensina...
Juazeiro de madrugada
é uma rosa orvalhada
na vastidão da campina.

Juazeiro do comércio
desenvolvido e potente,
do amigo Anderson Borges,
da ACJ, Presidente,
Associação Comercial
que, na festa artesanal
brilhou mais que toda a gente...

Juazeiro que cresceu
e diz consigo: — Não caio,
Juazeiro dos Bezerra,
do Doutor Mauro Sampaio,
do suor do próprio punho,
das festas do mês de junho
e das rezas do mês de maio...

Juazeiro dos poetas,
das noites da Lua clara,
comparar-te com o Rio,
só o poeta compara.
Teus filhos não te esquecem,
teus novenários parecem,
as festas da Guanabara.

Teus professores são muitos,
— teu nome é mais brasileiro.
Eu te quero, eu te adoro,
eu te amo, oh! Juazeiro!
Se eu pudesse eu te arrancava,
te suspendia e botava
dentro do Rio de Janeiro!

Digo assim, porque estimo
as duas lindas cidades.
Vim de lá por precisão,
volto por necessidades.
Sinto alegria e pesares
parto alcatifando os ares
dos aviões das saudades.

Niterói e Guanabara:
o isqueiro e o cigarro...
Se eu pudesse ficaria,
mesmo morando no jarro
olhando esta carioca
cheirosa como pipoca,
torrada em “caco” de barro.

No Juazeiro da gente,
as noites são mais nubladas.
No Rio, a neve é mais baixa,
há mais gente nas calçadas,
não há grota, nem regato,
só o mar tira o retrato
destas morenas queimadas.

Guanabara, terra boa
que a civilidade veste!
Povo meigo, gente esbelta!
Te adorei, passei no teste
estou que eu mim não confio...
Não sei se fico no Rio
Ou se volto ao meu Nordeste!

Não fico porque sou fraco
e só parto porque sou forte...
Vou, mas meu livreto fica,
provando que tive sorte.
Ficam aqui, neste papel,
eu e a cópia fiel
do Juazeiro do Norte.

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