terça-feira, 11 de outubro de 2011

Grifo nosso # 17

"Caetano [Veloso] não chegara a assistir à hilariante estreia musical de Tom Zé na televisão, dois anos antes, em 1960, mas se lembrava da repercussão entre os colegas do colégio no dia seguinte. A cena aconteceu durante um popular programa de calouros, chamado Escada para o Sucesso:

'Como é o nome da sua música?', perguntou o apresentador, logo depois de apresentar o calouro Antônio José.

'Rampa para o Fracasso...'

'O quê? Tá bulindo com o meu programa?', duvidou ainda o apresentador, antes de cair na risada.

O sucesso foi imediato. Além da provocação bem-humorada do título, Tom Zé tinha começado a explorar uma nova forma de compor. Como não achava nenhuma de suas músicas muito apropriadas para aquela ocasião, resolveu fazer uma especial. Pegou todos os jornais daquela semana, espalhou-os pelo quarto e acabou compondo uma canção com as manchetes mais chamativas, unidas numa espécie de colagem.

Nessa época, apesar de também ser um apreciador da bossa nova, Tom Zé já tinha consciência de que sua aproximação com a música era diferente do padrão mais comum. Pouco depois de começar a tocar violão, aos 17 anos, percebeu que não era capaz de fazer uma canção bonita para a namorada. Porém, em vez de desistir da música, Tom Zé encontrou a maneira de transformar seu aparente defeito em virtude.

O mais importante numa canção, pensou, consistia em aqueles dois ou três minutos de diálogo entre voz e violão chamarem a atenção do ouvinte de alguma maneira. Deixando de lado suas tentativas frustradas de compor canções românticas ou bem-acabadas, Tom Zé passou a fazer letras utilizando as personagens curiosas da sua terra, os doidos de Irará. Uma delas, por exemplo, homenageava a popular Maria Bago Mole, iniciadora sexual dos filhinhos de papai da cidade: 'Guilherme se requebra / Rufino bota pó / Euclides morde o braço / Das Dores fala só / Mas todos passam bem com Maria Bago Mole'."

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Carlos Calado, em seu livro Tropicália: a história de uma revolução musical (Editora 34).

Ainda em homenagem aos 75 anos de vida de Tom Zé, completados hoje (dia 11 de outubro de 2011).

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