terça-feira, 31 de julho de 2012

Aventuras agropecuárias no quintal de casa

por Hudson Jorge

Desde novinho que via meu pai trabalhando a terra do quintal para cultivo de alguma hortaliça ou leguminosa. Com jeito e experiência de quem já foi agricultor, transformava um aparente pedaço de terra sem vida numa micro propriedade produtora. Cebolinhas, coentros pimentões, jiló, andu, feijão e milho foram algumas coisas que vi florescer em nossos quintais e que foram consumidas com aquela satisfação enorme de termos produzidos nosso próprio alimento.

Hoje, tento fazer o mesmo que meu pai, aproveitando o terreno ao lado da casa para a realização de minhas aventuras agropecuárias. Sempre que possível, mostro pras minhas meninas como funciona aquele pedacinho da Natureza. Estou indo um pouco além de papai, criando no mesmo espaço algumas galinhas que nos presenteiam com ovos saudáveis e saborosos, quase que diariamente.

Enquanto vejo o nosso progresso agropecuário de fundo de quintal, não deixo de notar e refletir sobre a generosidade da natureza que nos presenteia gratuitamente com alimento, belas paisagens e belos sons pedindo em troca apenas respeito e trabalho.

Show do quinteto Kaoll (SP) interpretando músicas do Pink Floyd



O quinteto de música instrumental Kaoll, que tem seu estilo marcado pela fusão do rock progressivo, jazz contemporâneo e música clássica, apresenta sua nova incursão sonora: uma interpretação cronológica da obra do Pink Floyd.

Kaoll interpreta Pink Floyd
Sexta-feira, dia 03 de agosto de 2012, 19h30
No Centro Cultural Banco do Nordeste Cariri (Juazeiro do Norte-CE)
Entrada gratuita.

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segunda-feira, 30 de julho de 2012

Entrevista com Geddy Lee, do Rush, para a Revista Bizz no ano 2000

Do papel # 11

Ontem, dia 29 de julho de 2012, o baixista e vocalista do trio canadense Rush, Geddy Lee, completou 59 anos de vida. Para não passarmos em branco com a data (e já pagando com atraso) resolvemos tirar da estante uma entrevista que Geddy Lee concedeu à Revista Bizz na época do lançamento do seu disco solo My Favorite Headache. O baixista falava da expectativa de um dia tocar no Brasil com o Rush, coisa que acabou se realizando dois anos depois, em 2002. E a banda ainda retornaria aos palcos brasileiros em 2010.

A entrevista foi publicada na Bizz 185, de dezembro de 2000. Confira!
Para ampliar as páginas da revista, clique nas imagens.
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Enquanto o Rush não vem
Geddy Lee, a alma do trio canadense mais famoso do mundo, estreia em carreira-solo e promete que, um dia, ainda tocará no Brasil

Quando toca o telefone, a voz de Pato Donald do outro lado não deixa dúvidas: é Geddy Lee, a "bruxa véia", vocalista, multiinstrumentista e alma do trio canadense Rush. Descontraído, bem-humorado, nos 40 minutos seguintes ele não só anteciparia seu aguardado disco-solo, My Favorite Headache, como repassaria a vitoriosa trajetória de sua banda — 23 álbuns e 25 milhões de cópias vendidas.

Pretensiosa e glacial para uns, apenas rock com tutano para legiões de seguidores, a verdade é que a pomposa fórmula do Rush (hard rock + letras viajantes + rock progressivo + virtuosismo instrumental) já contabiliza quase três décadas driblando punk rock, new wave, thrash metal, grunge e outras correntes que surgiram e sumiram. Atualmente, seus ecos reverberam em várias subderivações do chamado metal progressivo-melódico.

Em 1997, logo após a turnê de Test for Echo (o último trabalho de estúdio, que gerou o CD ao vivo Different Stages), o trio experimentou um ano trágico: em poucos meses, o baterista e letrista Neil Peart perdeu a mulher para o câncer e a filha num acidente de carro. Com o recesso, o guitarrista Alex Lifeson enveredou por trilhas sonoras e se entregou a jams com bandas de bar de Toronto, onde mora. Lee convocou um velho amigo, o guitarrista Bem Mink, uma espécie de local hero canadense ("Na adolescência, tocando em bares, ele lembrava Jeff Beck", exagera), e com ele teceu seu primeiro voo-solo, o segundo de um membro do Rush (Lifeson puxou a fila em 1996 com o estranho Victor).

Espirituosamente intitulada My Favorite Headache (Minha Dor de Cabeça Predileta), a bolacha chegou às prateleiras em novembro. Lee não faz feio: power pop, lirismo e guitarras, muitas guitarras, saciarão a sede dos fãs até a próxima investida da banda, programada para 2001. No final do bate-bola, o músico profetizou: “ainda iremos ao Brasil” um dia.

BIZZ - O Rush tem milhares de fãs no Brasil e é das poucas bandas consideradas grandes que nunca tocou aqui. Por quê?
GEDDY LEE -
Primeiro quero pedir desculpas aos nossos fãs brasileiros por nunca termos nos apresentado aí. A verdade é que, quanto mais cresce a demanda, mais fica difícil tocar onde queremos. Nossa última turnê foi há três anos e já vínhamos num crescendo de lugares para nos apresentar. Só estivemos no Japão uma única vez, e faz um tempão que não vamos à Europa. Mas ainda iremos ao Brasil.

Seu vocal é tão marcante que a primeira impressão sobre My Favorite Headache é que se trata de um disco do Rush. Está preparado para comparações?
Quando você é cantor de uma banda por 25 anos, torna-se "a voz" do grupo. Isso não me incomoda, sabia que seria inevitável. Tenho orgulho do papel do Rush — foi minha escola, onde aprendi tudo. Cresci nessa banda e é claro que isso afeta meu jeito de escrever e fazer música.

Por que um título tão engraçado?
Porque eu sou engraçado (risos)! É um título flexível, único. Ouvi essa frase pela primeira vez do pai de um amigo, chamando sua esposa de "minha dor de cabeça predileta". Caí na risada e achei que era uma grande frase para descrever relacionamentos — por exemplo, o meu com a música é o que mais gosto, mas ele me deixa louco! Isso se aplica à vida em geral, àquela coisa que as pessoas não conseguem parar de fazer, mas que, por outro lado, as deixa malucas.

Por que você optou por estruturas musicais mais simples que as do Rush?
Esse foi um projeto muito estimulante para mim porque, com o Rush, a espinha dorsal rítmica do som é muito mais complicada. Mas, nesse caso, a complexidade ficou reduzida às melodias e às texturas. Para mim, foi uma mudança radical e uma agradável experiência, aprendi muito sobre experimentação com melodias.

My Favorite... está numa direção mais melódica, que muitos sempre quiseram que o Rush desenvolvesse um pouco mais.
Interessante ouvir isso. Para mim, foi apenas uma face natural que trabalhei musicalmente. Claro que o rock está presente, mas há muita melodia e passagens evocativas, porque eu estava me sentindo meio assim. Quanto a ter desenvolvido mais isso com o Rush, quando você está no estúdio com mais duas pessoas opinando, tudo é possível. Mas acho difícil comparar esse disco com o que o Rush faz.

O que faz da música do Rush ainda uma experiência única, após todos esse anos?
É uma combinação de fatores. Sempre gostamos de hard rock e de progressivo. É divertido combinar duas coisas diferentes em algo inusitado. Também há o fato de que muitos grupos que faziam um som parecido desapareceram, e nós não. E estar na estrada por tanto tempo com certeza nos deu identidade própria.

O que ainda falta para o Rush atingir musicalmente?
Quando nos juntamos para fazer música, sempre aparece algo diferente. Há sempre o ideal da música perfeita, da performance perfeita. Você sempre descobre uma maneira não necessariamente nova, mas interessante de se expressar.

Muitos criticam a banda por sua suposta pretensão, mas o elemento rock’n’roll nunca deixou de estar presente.
Concordo, não acho que temos algo em comum com o pop, por exemplo. Por outro lado, achamos divertido estruturar nossas músicas de uma maneira mais dramática. Não acho que isso seja uma atitude hermética ou elitista.

Cada um dos quatro álbuns ao vivo da banda encerra um ciclo. Qual o seu preferido?
Boa pergunta. Acho o A Show of Hands (1989) um grande disco e o comparo com Different Stages (1998). Gosto de colocar lado a lado o Rush de hoje com o do fim dos anos 70. Colocar os dois lado a lado é importante para mostrar de onde viemos e aonde chegamos. Há também uma certa energia bruta em All The World’s A Stage, que para meu gosto é um pouco bruta demais (risos). Mas ele é o que é, ao menos é um disco honesto.

Entre tantos seguidores, há alguém que o faça sentir-se orgulho em ter influenciado?
Primus, Soungarden e Pearl Jam são bandas de que gosto e que já manifestaram admiração pelo Rush. Sempre há gente chegando e dizendo: "olha, sou fã do Rush". Essa é a maior honra para um músico: saber que inspirou ou influenciou outros músicos.

Quando vocês voltam à ativa?
Só no ano que vem. A última vez em que trabalhamos juntos foi em 1997. A época ainda não está definida, mas espero que no fim de 2001 já tenhamos um disco pronto.

Você, Neil e Alex são amigos ou apenas colegas de profissão?
Acredite, esses caras são meus irmãos de alma. Claro que já tivemos divergências, nos anos 80 a imprensa chegou ao exagero de dizer que a banda ia acabar, mas, se superamos problemas, foi devido à amizade. Alex é um dos meus maiores amigos na face da Terra. Nos falamos direto e, ao menos de 15 em 15 dias, saímos juntos. Com Neil, ainda somos muito chegados, mas não o vejo frequentemente porque ele mora na Califórnia. Mas estamos sempre em contato, por carta ou e-mail.

Há algo que o estimule musicalmente no rock hoje em dia?
Björk, Radiohead, Foo Fighters... Há outros artistas interessantes, mas esses têm uma identidade mais própria.

O Rush é das raras bandas que nunca de meteu em grandes confusões. Ser canadense contribui para uma atitude positiva no circo do rock?
(Risos) Por quê? Você acha os canadenses normais demais?

Pelo menos os que conheci eram todos calmos e tranquilos.
Bem, nosso sucesso não foi da noite para o dia. E, à medida que fomos nos dando bem, nossa atitude nunca era em torno da fama, e sim do trabalho. Quando o sucesso surge de forma devagar, além de aproveitá-lo melhor, você consegue colocá-lo numa perspectiva positiva em sua vida. E temos sorte de vir de famílias estáveis, que nos ajudaram a manter a sanidade. Talvez isso seja parte da natureza tímida do canadense.

Sabia que no Brasil há uma banda chamada Engenheiros do Hawaii, um trio que auto-intitula o Rush local simplesmente porque, além da formação similar, lança um disco ao vivo a cada três de estúdio?
Verdade? Engraçado, nunca ouvi falar deles... De qualquer maneira, espero que tenham mais sorte em sua música do que tiveram ao escolher seu nome (risos).
Revista Bizz, dezembro de 2000.

"My favorite headache" (Geddy Lee / Ben Mink):

'Perdoa-me por me traíres': texto de Nelson Rodrigues nos palcos do Cariri



A Companhia de Teatro Engenharia Cênica entrou no circuito nacional das Comemorações aos 100 Anos do Anjo Pornográfico, através do Prêmio Funarte Nelson Brasil Rodrigues 2012, com a montagem do espetáculo Perdoa-Me Por Me Traíres.

O espetáculo tem como foco principal os sentimentos humanos que envolvem relações passionais de amor, traição, ódio e vingança! Mesmo escrito na década de 50 do século passado, o texto ainda é polêmico, pois trata da hipocrisia social, da falsa moral, corrupção, relações incestuosas e assassinato por amor em desmedida. Outro ponto de discussão são as cenas que trazem textos como: "o marido que bate tem suas razões", "amar é ser fiel a quem nos trai", "a adúltera é mais pura porque está livre do desejo que apodrece dentro dela", "com que roupa a polícia vai prender deputados?".

O ciúme, a dissimulação, a prostituição juvenil, a exploração sexual por políticos de grande respeitabilidade, clínicas clandestinas de aborto são temas suscitados em Perdoa-Me Por Me Traíres – que com quase meio século depois da sua estreia, ainda causa espanto. A encenação propõe uma mistura de estilos dramáticos, há a presença do trágico, trágico-cômico, melodramático, expressionismo e muita brasilidade. (sinopse da divulgação do evento)
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Engenharia Cênica apresenta:
Espetáculo Perdoa-me por me traíres (texto de Nelson Rodrigues)
Direção: Luiz Renato
Elenco: Jerônimo Vieira, Rita Cidade, Faeina Jorge, Cecília Raiffer, Carla Hemanuela, João Dantas, Flávio Rocha

No Teatro Patativa do Assaré (SESC Juazeiro do Norte-CE):
Dias 1, 2, 24 e 25 de agosto de 2012, às 20h
No Teatro Adalberto Vamozi (SESC Crato-CE):
Dias 9 e 10 de agosto, às 20h
Entrada: R$10,00 (inteira) e R$5,00 (meia).
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Entrevista com Michel Macedo, da banda Glory Fate, no site Whiplash

Ponto de fuga # 16 | Arquivo Cariri # 21


Glory Fate - Michel Macedo é o primeiro da direita para a esquerda

No último sábado, dia 28 de julho, o Black Dog Rock Bar de Juazeiro do Norte realizou o show comemorativo de 20 anos da banda Glory Fate. A banda, que é do Cariri cearense, é a pioneira e a mais resistente do interior do estado, tocando heavy metal desde 1992.

E ontem, no domingo, 29, o maior site de rock do Brasil, o whiplash.net, publicou uma entrevista com Michel Macedo Marques, guitarrista-fundador e o único remanescente da formação original da Glory Fate (que começou como StormBringer). A entrevista foi concedida a Vicente Reckziegel, e você pode conferir o bate-papo clicando no link abaixo:

http://whiplash.net/materias/entrevistas/159990-gloryfate.html

E para baixar e curtir o som do mais recente CD da Glory Fate, Ride on the Roller Coaster, clique aqui.

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domingo, 29 de julho de 2012

Apresentações de Ivan Timbó no Cariri nesta semana



Shows de Ivan Timbó (Fortaleza-CE)
Quarta-feira, 01 de agosto de 2012, 20h, no SESC Crato-CE
Quinta-feira, 02 de agosto de 2012, 19h30, no CCBNB Cariri
Entrada gratuita.

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'Visões de Brecht' em exibição no Cinemarana



Cinemarana
(com mediação de Elvis Pinheiro)
Mostra Brecht no Cinema

Exibição de Visões de Brecht
Título original: Visões de Brecht
Elenco: Profa. Iná Camargo Costa, Prof. Marcos Soares, Profa. Maria Silvia Betti
Duração: 110 minutos
Ano: 2010
País de origem: Brasil

"Depoimentos de especialistas na obra brechtiana: a Profa. Iná Camargo Costa (USP) com a palestra 'Brecht na República de Weimar: Militância Política e Teatro Épico' (45 min.); o Prof. Marcos Soares (USP) com a palestra 'Brecht e a Indústria Cinematográfica Alemã' (30 min.) e a Profa. Maria Silvia Betti (USP) com a palestra 'A Obra de Brecht no Brasil' (34 min.)." (sinopse da divulgação do evento)

Exibição na segunda-feira, dia 30 de julho, às 19h
No SESC Crato-CE. Entrada franca.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Palco Giratório apresenta espetáculo 'Cabeção de Nego' em Juazeiro



Cabeção de Nego leva ao palco uma reflexão provocativa sobre as mudanças tecnológicas e sociais causadas pela nova era Cyber Digital. O título refere-se a essa explosão, ao grande boom tecnológico causador de profundas, inquietantes e inesperadas alterações sociais.

A peça versa sobre a riqueza da possibilidade do repertório corporal da dança e do mundo de aparências que parece se anunciar como primeira medida para os jovens. Cabeção de Nego tanto reporta a uma possibilidade de intensa vivência inesperada como à leitura do ser humano como refugo observado pelo capitalismo tardio.

Palco Giratório 2012 - Rede SESC de Intercâmbio e Difusão das Artes Cênicas
Espetáculo Cabeção de Nego (Laso Cia. de Dança - RJ)
Sábado, 28 de julho de 2012, e domingo, 29 de julho, 19h
No SESC Juazeiro. Entrada franca
+ info: (88) 3587.1065.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Show com a banda Tiro Certeiro nesta sexta no 'Música nas Férias'



Música nas Férias 2012
Banda Tiro Certeiro - Tributo a Chico Science & Nação Zumbi
Sexta-feira, dia 27 de julho de 2012, 20h
No Estacionamento do SESC Crato
Entrada gratuita
+ info: (88) 3523.4444.

Show especial de 20 anos da Glory Fate



Em 1992, num tempo em que ainda nem tinha internet, quando se gastava uma hora e meia pra gravar uma fita k7 de 60 minutos, quando se arranhava o disco de vinil parando para pegar a letra de ouvido... Após o primeiro “grande” show de rock no Cariri-CE, o primeiro URCASTOCK, quatro meninos beirando os 20 anos, cheios de sonhos e com uns instrumentos "fulerage" inventaram de formar uma banda para tocar heavy metal. No começo foi meio difícil — poque ninguém sabia tocar direito — e começaram com punk rock mesmo. O tempo foi passando, a maturidade foi chegando (bem devagarinho, claro), alguns foram ficando pelo caminho, deixando sua contribuição. Hoje já não existem tantos sonhos de menino, mas o que importa é que a banda virou um SER de vida própria, e tem nos dado muitos momentos bons, de muita diversão, de novas amizades, de novos lugares e de novos desafios.

Então sintam-se convidados para festejar conosco os 20 anos da Glory Fate! Vai ser um show de duas horas de duração, com clássicos da banda, o novo CD (Ride on the Roller Coaster) na íntegra, além de muitos covers que fizeram a história do heavy metal, de bandas que nos influenciaram, como Iron Maiden, Judas Priest, Deep Purple, Accept, Megadeth, Black Sabbath, Running Wild, entre outros. Vamos aproveitar pra contar alguns “causos” da nossa história, regados a projeções de vídeos durante o show.
Michel Macedo Marques
(guitarrista da Glory Fate)


Show Glory Fate - 20 anos de Heavy Metal
No telão: retrospectiva da banda e especial Judas Priest
Sábado, 28 de julho de 2012, a partir das 21h
No Black Dog Rock Bar - Av. Virgílio Távora, 950 (Bairro Timbaúbas)
Juazeiro do Norte (no caminho do Aeroporto)
Entrada: R$5,00.

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'Os Intocáveis' em exibição no Cine Café



Cine Café (com mediação de Elvis Pinheiro)
Exibição do filme Os Intocáveis
Título original: The Untouchables
Direção: Brian De Palma
Roteiro: David Mamet
Elenco: Robert De Niro, Kevin Costner, Sean Connery, Charles Martin Smith, Andy Garcia
Duração: 119 minutos
Ano: 1987
País de origem: Estados Unidos

"Um clássico moderno. É assim que definimos o filme que reuniu direção, atores e roteiro impecáveis para contar a história real de como o agente federal Eliot Ness (Kevin Costner) ensinado pelo experiente policial Malone (Sean Connery) enfrenta o gângster Al Capone (Robert De Niro) durante o período da Lei Seca no EUA." (sinopse da divulgação do evento)

Exibição no sábado, 28 de julho de 2012, às 17h30
No Centro Cultural Banco do Nordeste Cariri (Juazeiro do Norte). Entrada gratuita.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Mais shows do 'Música nas Férias' nesta semana em Crato



Música nas Férias (julho de 2012)
Quinta-feira, dia 26 de julho: Vismundo (Sousa-PB)
Sexta-feira, dia 27 de julho: Tiro Certeiro (Cariri-CE)
A partir das 20h, no Estacionamento do SESC Crato
Entrada gratuita
+ info: (88) 3523.4444.

terça-feira, 24 de julho de 2012

Cinematógrapho exibe 'O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro'



Cinematógrapho (com mediação de Elvis Pinheiro)
Festival Glauber Rocha
Exibição de O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro
Título original: O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro
Direção e roteiro: Glauber Rocha
Elenco: Maurício do Valle, Odete Lara, Othon Bastos, Hugo Carvana, Jofre Soares
Duração: 99 minutos
Ano: 1969
País de origem: Brasil

"Numa cidadezinha chamada Jardim das Piranhas, aparece um cangaceiro que se apresenta como a reencarnação de Lampião. Seu nome é Coirana. Anos depois de ter matado Corisco, Antônio das Mortes (personagem do filme Deus e o Diabo na Terra do Sol) vai à cidade para ver o cangaceiro. É o encontro dos mitos, o início do duelo do dragão da maldade contra o santo guerreiro. Outros personagens vão povoar o mundo de Antônio das Mortes. Entre eles, um professor desiludido e sem esperanças; um coronel com delírios de grandeza, um delegado com ambições políticas; e uma linda mulher, que vive uma trágica solidão." (sinopse da divulgação do evento)

Exibição na quarta-feira, dia 25 de julho de 2012, às 19h
No SESC Juazeiro do Norte-CE. Entrada gratuita.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Embalado pra viagem # 67

Domingo

E eu, que sou mais novo?!
E eu, que não sou militante?!
Eu não sou milionário
Que não sou engajado
Que não sou malabarista
Que não sou graduado, pós-graduado, pós pós graduado

E eu, que nunca fui preso?!
E eu, que não sou perfeccionista?!
Que não sou percussionista
Que não sou poeta
Que não sou professor
Que não sou partidário, prefeito, presidente

E eu, que sou bobo?!
E eu, que caio no conto do vigário?!
Que compro o falso bilhete premiado
Que sonho com a sorte grande
Que assisto novela das oito
Que erro juízo, caio em falácia, cometo engano

E eu, que sou fraco?!
E eu, que sou feio?!
Que fico pelos cantos
Que falo frases ininteligíveis
Que faço furdunços frouxos
Que falseio filosofando frivolidades

E eu, que sou insone?!
E eu, que não me adequo?!
Que não me voluntario
Que não ingresso
Que não vou junto
Que não me curvo

E eu, que sou inapto?!
E eu, que muito observo?!
Que tenho bons amigos
Que sei dos dias melhores
Que percebo, agora, minha violência, meus medos, a incompatibilidade com o real
Que, agora, só, sorrindo, vivo

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Matos é caririense, e atualmente vive em Cuiabá-MT. Mesmo se dizendo um não-poeta, faz de suas palavras poesia.

domingo, 22 de julho de 2012

'A Vida de Bertolt Brecht' em exibição no Cinemarana



Cinemarana
(com mediação de Elvis Pinheiro)
Mostra Brecht no Cinema

Exibição de A vida de Bertolt Brecht
Título original: Brecht – Die kunst zu leben
Direção e roteiro: Joachim Lang
Elenco: Paula Banholzen, Bertolt Brecht, Barbara Brecht-Schall, Marianne Brün
Duração: 90 minutos
Ano: 2006
País de origem: Alemanha

"Premiado documentário de Joachim Lang que traça um retrato apaixonante de Brecht, a partir de raras imagens de arquivo e entrevistas." (sinopse da divulgação do evento)

Exibição na segunda-feira, dia 23 de julho, às 19h
No SESC Crato-CE. Entrada franca.

Texto de Daniel Walker para os 101 anos de Juazeiro do Norte

Ponto de fuga # 15

Confira no Portal de Juazeiro (www.portaldejuazeiro.com), o editorial "Da humilhação à consagração: um milagre aconteceu!", do escritor Daniel Walker sobre os 101 anos de Juazeiro do Norte. Ele fala do salto que a cidade deu: dos rótulos negativos que recebeu durante muito tempo até o reconhecimento como um grande centro comercial, industrial, universitário, etc.

Para ler o texto, clique aqui.

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Juazeiro retratado no cordel de Maria do Rosário Lustosa da Cruz

Arquivo Cariri # 20

Neste dia 22 de julho de 2012, em que Juazeiro do Norte completa 101 anos de emancipação política, transcrevemos o cordel Retrato de Juazeiro, de autoria de Maria do Rosário Lustosa da Cruz (a xilogravura da capa do folheto é de Áurea Brito), lançado através do Projeto SESCordel Novos Talentos (do SESC Juazeiro).

Como o folheto foi escrito em abril de 2001, naturalmente há informações que não condizem com o retrato atual da cidade (como informar a existência do Colégio Geo, por exemplo). Mas no geral vale o registro desses versos em homenagem ao Juazeiro do Padre Cícero.

Retrato do Juazeiro
Maria do Rosário Lustosa da Cruz

É um grande privilégio
conhecer o Juazeiro
esta terra abençoada
pelo Padim do romeiro
cidade do Ceará
Nordeste bem brasileiro

Do Cariri é querido
e também é coração
no Ceará se destaca
com grande população
e quem a ele visita
adota como torrão

Grande em população
disto eu não vou duvidar
é pequeno o território
dá até pra reclamar
porém tem arquitetura
para a cidade formar

Cidade do Ceará
Pernambuco e Piauí
do Rio Rio Grande do Norte
também visitam aqui
Maranhão e Paraíba
conhecendo o Cariri

Nas casas comerciais
pras suas compras fazer
veja todas as opções
da sandália ao laquê
do mercado para o shopping
muita coisa tem pra ver

Na entrada do Juazeiro
está o Shopping Cariri
você pode comprar tudo
bom também pra divertir
gente de Crato e Barbalha
também se encontra ali

Tem o mercado central
onde você acha ouro
tem tempero, barro e louça
rede e tudo de couro
rapé, mala e rapadura
e brinquedos de estouro

É no centro Mestre Noza
que está a produção
de artistas, aqui da terra
do cordel, do artesão
tudo pode se encontrar
com arte e com perfeição

Centros de abastecimento
rádios e clubes sociais
ginásio poliesportivo
as igrejas e os jornais
rodoviária e cinema
Sefaz, paróquias e hospitais

Tem o Panorama Hotel
ótica e joalharia,
o importado, o perfume
boutique e sapataria
a nossa boa cajuína
Sebra e maçonaria

É na farmácia dos pobres
que podemos encontrar
o nosso Bálsamo da Vida
que tudo pode curar
feito por Seu Zé Geraldo
remédio melhor não há

Nosso time, o Juazeiro
o Cartório Eleitoral
os bancos e o museu
e a Guarda Municipal
Sine, Rotary e AABB
e Distrito Industrial

O maior investimento
está é no cultural
Faculdade de Medicina
não é sonho é real
é a melhor, no Nordeste
não existe outra igual

Sesi, Urca e Apuc
e o Passo Municipal
aeroporto ferrovia
banda e Memorial
a nossa Praça Pe. Cícero
e o Frigorífico Industrial

quinta-feira, 19 de julho de 2012

'Butch Cassidy', de George Roy Hill, em exibição no Cine Café



Cine Café (com mediação de Elvis Pinheiro)
Exibição do filme Butch Cassidy
Título original: Butch Cassidy and Sundance Kid
Direção: George Roy Hill
Roteiro: William Goldman
Elenco: Paul Newman, Robert Redford, Katharine Ross, Strother Martin
Duração: 110 minutos
Ano: 1969
Países de origem: Estados Unidos

"História verídica dos dois mais simpáticos foras-da-lei do velho-oeste, o esperto Butch Cassidy e o mais veloz atirador, Sundance kid. Este faroeste recebeu inúmeros prêmios, possui cenas antológicas e mistura inúmeros gêneros, entre eles, aventura, drama, romance e comédia." (sinopse da divulgação do evento)

Exibição no sábado, 21 de julho de 2012, às 17h30
No Centro Cultural Banco do Nordeste Cariri (Juazeiro do Norte). Entrada gratuita.

terça-feira, 17 de julho de 2012

Algumas palavras sobre 'Terra em transe', de Glauber Rocha

Grifo nosso # 37

No primeiro semestre do ano de 1967, era lançado no Brasil, uma das grandes obras-primas da cinematografia nacional, o filme Terra em transe. Terceiro longa-metragem do cineasta baiano Glauber Rocha, realizador muito importante não só para o cinema novo, ainda em voga à época, como também um grande revolucionário da nossa arte cinematográfica. Depois de inúmeras controvérsias Glauber conseguiu exibir Terra em transe, em Cannes, no ano de 1967, conseguindo também, posteriormente, a liberação da exibição pública e integral de seu filme, que continha claras cenas que poderiam ser consideradas “subversivas”, pelo regime ditatorial vigente no período, nos cinemas do Brasil.

Mas Terra em transe não seria apenas isso, sendo considerado tanto na época de seu lançamento como durante esses 45 anos de sua História um grande marco do cinema político mundial. Um filme que através de elementos simbólicos, desvela-nos os segredos do artista como possível agente de mudanças políticas e sociais, no entanto nesse homem (Paulo Martins) reinam sentimentos paradoxais, sobre a vida, o amor, a poesia. Em determinado momento a personagem Sara nos braços de Paulo lhe diz, ao pé do ouvido, com uma ternura mórbida “Você não entende. Um homem não pode se dividir assim. A política e a poesia são demais pra um só homem...”

Aqui temos um trecho de um artigo escrito pelo professor e crítico de cinema José Carlos Avellar, com o título “Um filme ópera como um documentário em transe”, publicado na Revista de cine mais outras questões audiovisuais, pela Editora Aeroplano, em janeiro/março de 2005.

“(...) 2.
A ideia surgiu em janeiro de 1965, em Roma. Glauber acabara de debater sua Estética da fome no seminário Terzo Mondo e Comunità Mondiale na Rassegna del Cinema Latino Americano organizada pelo Columbianum, em Gênova.

Em nove páginas datilografadas, a ação dividida em seis tempos e 26 sequências, anotou pouco mais que uma sinopse de um projeto que se chamaria América nuestra, a terra em transe. Depois, em abril de 1966, no Rio de Janeiro, desenvolveu este esboço – na verdade, fez mais uma livre reinvenção do que propriamente um desenvolvimento da primeira anotação. Antes disso, no entanto, a primeiríssima sinopse gerou um outro projeto. Ainda em Roma, Glauber começou a escrever Terra em transe – para contar não exatamente a mesma história mas o mesmo conflito (a poesia como um gesto político, a política como uma ação poética) ambientado no Brasil, entre o mar do Rio de Janeiro e o sertão do Nordeste. Terra em transe, tal como surgiu na tela no começo de 1967, resulta a um só tempo do roteiro escrito em Roma, fevereiro/março de 1965, das várias versões feitas antes das filmagens e do jamais transformado em filme roteiro de América nuestra. São dois roteiros gêmeos: um personagem comum está no centro dos dois: um poeta dividido entre o jornalismo e a política, entre a poesia e a luta armada. Ele se chama Juan Morales em América nuestra, Paulo Martins em Terra em transe. É como se este novo personagem de duas cabeças (esta possível nova figuração de pelo menos um dos aspectos de Corisco, o cangaceiro de duas cabeças de Deus e o diabo na terra do sol) tivesse necessariamente gerado dois roteiros simultâneos. É como se Glauber estivesse procurando a história ideal para dizer que o cinema deveria ocupar um espaço entre a poesia e a política – nem num ponto nem noutro mas numa constante tensão, transe, movimento entre um e outro.

A ideia de um filme que se chamaria América nuestra, a terra em transe parece ter gerado um só roteiro de duas cabeças. Na primeira página da versão mais longa de América nuestra, (a segunda, a de abril de 1966, que ele escreveu no Rio de Janeiro) metade do título datilografado está rabiscado. Glauber escrevera: América nuestra (A terra em transe). Depois, entre correções e acréscimos feitos à mão, riscou o pedaço do título entre parênteses. Por longo tempo, mesmo depois de Terra em transe concluído, como é possível observar no texto que escreveu para a divulgação do filme, Glauber se referiu ao filme com o que anotou entre parênteses depois do título de América nuestra: A terra em transe. Deste modo talvez se possa dizer que Terra em transe surgiu como se Glauber tivesse riscado o pedaço do título antes dos parênteses: mais exatamente, um pedaço da história. Sonho duplo, fusão, um dentro do outro, poesia e política, América nuestra pode ter sido sonhado como se o movimento entre poesia e política partisse da política (agir urgentemente); Terra em transe, como se o movimento partisse da poesia (pensar a ação); os dois, o efetivamente realizado e o que existe só como anotação, podem ter sido sonhados como projeções do que Amor, no primeiro, diz para Juan e Sara, no segundo, diz para Paulo: a poesia e a política são demais para um homem só.

Um ponto de partida comum para este sonho duplo: Deus e o diabo na terra do sol:

“Senti a necessidade de prosseguir a estória de Manuel e Rosa correndo para um mar libertador. Esse mar banhava uma nova terra, esta terra estava em crise, dividida, estraçalhada – era uma terra possuída pelas paixões políticas e atormentada pelos problemas sociais”; uma terra de luz tropical e “mau gosto operístico nas mansões milionárias”; um “país ou ilha interior” onde os partidos “ofereciam ideologias fechadas, os capitalistas estavam às portas da falência, os escritores mudos, o povo esquecido de sua própria condição”.*

O sonho de um cinema entre a poesia e a política pode, na verdade ter começado com a experiência de Barravento: a consciência dos “problemas primários de fome e escravidão regionais” e de que o “cinema só será quando o cineasta se reduzir à condição de poeta e, purificado, exercer o seu ofício com seriedade e sacrifício”. E ter sido sonhado mais forte com a Estética da fome, a consciência de que o cineasta deve estar “pronto a por seu cinema e sua profissão a serviço das causas importantes de seu tempo.” (...)”
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* Glauber Rocha, Uma aventura perigosa, depoimento para a revista Fatos & Fotos, Rio de Janeiro, abril de 1967.

Mais sobre Terra em transe:
Aqui uma matéria de 1997, com o título “Glauber radical” , quando então se completava 30 anos do lançamento de Terra em transe, publicada no caderno Vida e arte, do jornal O POVO, e escrita pelo professor de cinema e cineasta Firmino Holanda. Segue o link para acessar à matéria na íntegra, resgatada e publicada em O POVO Você online, por Rebeca Sousa, em 2012.

Glauber radical - O POVO Você Online

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segunda-feira, 16 de julho de 2012

Cinematógrapho exibe 'Terra em Transe', de Glauber Rocha



Cinematógrapho (com mediação de Elvis Pinheiro)
Festival Glauber Rocha
Exibição de Terra em transe
Título original: Terra em transe
Direção e roteiro: Glauber Rocha
Elenco: Jardel Filho, Glauce Rocha, José Lewgoy, Paulo Autran, Paulo Gracindo
Duração: 106 minutos
Ano: 1967
País de origem: Brasil

"Num país imaginário chamado Eldorado, o jornalista e poeta Paulo Martins hesita entre as diversas forças políticas em luta pelo poder. Dom Porfírio Diaz é líder de direita, político paternalista da capital litorânea de Eldorado, Felipe Vieira é um político populista e Júlio Fuentes, dono do império de comunicações. Em conversa com a militante Sara, Paulo conclui que o povo de Eldorado precisa de um líder político, e apoia Vieira." (sinopse da divulgação do evento)

Exibição na quarta-feira, dia 18 de julho de 2012, às 19h
No SESC Juazeiro do Norte-CE. Entrada franca.

domingo, 15 de julho de 2012

Exibição do filme 'Os Carrascos Também Morrem' no Cinemarana



Cinemarana
(com mediação de Elvis Pinheiro)
Mostra Brecht no Cinema

Exibição de Os carrascos também morrem
Título original: Hangmen also die!
Direção: Fritz Lang
Roteiro: John Wexley (baseado em estória de Fritz Lang e Bertolt Brecht)
Elenco:
Brian Donlevy, Anna Lee, Walter Brennan, Gene Lockhart, Dennis O'Keefe
Duração: 134 minutos
Ano: 1943
País de origem: Estados Unidos

"Um nazista é assassinado na Tchecoslováquia ocupada. Como represália, a Gestapo começa uma sangrenta caçada. Obra-prima de Fritz Lang. Roteiro de Bertold Brecht." (sinopse da divulgação do evento)

Exibição na segunda-feira, dia 16 de julho, às 19h
No SESC Crato-CE. Entrada franca.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

A História do Rock no Cariri (capítulo 'dos anos 80 a 2002')

Arquivo Cariri # 19 | Do papel # 10

Neste 13 de julho, Dia Mundial do Rock, resolvemos resgatar uma história escrita há 10 anos. Em 2002, a Revista Geral publicou um texto de Michel Macedo — atualmente professor do Curso de Letras da URCA e integrante das bandas Glory Fate e Rei Bulldog — contando a História do Rock no Cariri cearense. Na época, a Revista dividiu o texto em três partes, nas edições 09, 10 e 11.

Hoje, 10 anos após a impressão do relato, resolvemos (re)lançá-lo no nosso blog. Além de servir como um registro da história do movimento roqueiro na região, sua (re)publicação também serve para informar da volta da Revista Geral, que brevemente lançará nova edição impressa. E O Berro e o Geral neste momento reforçam uma parceria que remete ao início dos anos 2000, quando as equipes das duas publicações se juntavam na organização de eventos, como o Rock Pop Cariri (no Navegarte).

Este texto de Michel é o primeiro da Revista Geral que será reproduzido pelo Blog, mas em breve teremos outros conteúdos, tanto antigos como os que sairão na nova edição.

E sem mais delongas, vamos à História do Rock no Cariri. Apenas lembramos que a matéria foi escrita em 2002 e que, obviamente, de lá pra cá muita água já rolou (mas esses últimos 10 anos serão assunto pra outro momento). Clique nas imagens para ampliá-las.
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A História do Rock no Cariri
por Michel Macedo

Parte 1 (Geral, ano 3, n.9 - Fev/Mar de 2002)

A história do rock no Cariri é algo que não foi muito bem documentado. Talvez haja algumas lacunas que não serão exatamente explicadas neste texto, mas essa é, particularmente, a história que eu vivi e vi meus amigos viverem.

As primeiras grandes bandas que vieram ao Brasil foram o Van Halen e o Kiss, daí, em 1985 aconteceu o primeiro Rock in Rio (o de verdade). Em Juazeiro do Norte havia um calçadão na Rua Santa Luzia, entre a Padre Cícero e a São Pedro. Lá, nos fins de semana se reuniam os jovens mais enturmados cansados de dar voltas na Praça Padre Cícero.

Aos domingos bandas de baile animavam as noites com aquele hard rock dos anos 80. Havia também o Bar de Téo, cheio de pôsteres nas paredes, onde a juventude mais “maluca” se reunia para beber e ouvir rock. Naquela época o que havia de mais pesado era o Kiss, Van Halen, Europe e o guitarrista da vez era o Peter Frampton.

Uns dois anos depois o calçadão foi desfeito e todos ficaram órfãos. Nesta época surgiu a loja Et Cetera, uma verdadeira escola para os pretendentes a rockeiros da época (como eu), que nos fazia deixar de lanchar no colégio para comprar sonhos gravados em vinil.

Por volta de 1986/1987 surgiu a primeira banda de rock, pelo menos que eu tenha conhecimento, a Pombos Urbanos, formada por jovens de Juazeiro e Crato. Era também época de final de ditadura militar, o movimento estudantil ainda era muito forte, os universitários buscavam alguma razão de viver. E isso se manifestava nos shows promovidos no auditório da [Rádio] Educadora, em frente à URCA (Campus do Pimenta), onde a Pombos Urbanos enlouquecia a noite.

A Pombos Urbanos mudou de nome para Fator RH, nome que lhes deu fama, e depois para Lerfa Um (com o qual gravaram a primeira fita demo de rock do interior do Ceará). Apesar de cantarem em português, fizeram com que o movimento crescesse muito no Crato, que chegou a ter uma enorme tribo de headbangers (como eram conhecidos os adeptos do heavy metal, os batedores de cabeça: camisa preta, cabelo grande e as famosas botas Comander). Nesta época também aconteciam festas monumentais apenas com som mecânico, nas casas de alguém da turma que os pais viajassem.

Era um movimento jovem que crescia muito rápido na época. Uma época em que não havia ainda a MTV e os vídeos cassetes ainda eram escassos, todas as informações e discos novos eram trazidos por alguém que viajasse para alguma capital.

Com o passar do tempo, novos ex-meninos, agora rapazes, já começavam a sonhar com sua própria banda, influenciados pelos shows do Fator RH e também pela mídia, o hard rock americano e bandas como Legião Urbana, Barão Vermelho e Camisa de Vênus eram o som do momento.

Tudo isso seria revelado no primeiro grande festival de rock que aconteceu no Crato, organizado pelos estudantes de Letras da URCA, o URCASTOCK, que será dissecado na próxima edição.


Parte 2 (Geral, ano 3, n.10 - Jun/Jul de 2002)

O ano agora era 1990. Nova década. Naqueles tempos havia o Festival Estudantil da Canção, no Crato, e as então famosas “feiras de ciências” dos colégios em Juazeiro. Nesta época surgiu a banda Eutanásia, que tocava covers do que havia de melhor no rock pop nacional da época. Esta banda brilhou em várias “feiras de ciências”, em particular as do Colégio Salesiano, em seus tempos áureos.

A década de 90 foi muito boa em termos de divulgação do rock, já havia a MTV por aqui (nas parabólicas) e o mundo do rock ficou menor. Várias bandas iam surgindo e daí veio a ideia do primeiro festival unicamente de rock na região, encabeçado pelo então Centro Acadêmico de Letras da Universidade Regional do Cariri - URCA. Houve, na época, um certo temor se tudo daria certo, mas o I URCASTOCK FESTIVAL foi um sucesso absoluto, dois dias de shows, contando com 9 bandas, das quais vinagaram a Shadows (punk rock, covers do Ramones e Sex Pistols), Calliope (rock'n'roll & heavy metal ?!?!?!), Lynx (rock pop e baladas hard rock) e Náusea (hardcore).

Este festival abriu muitas portas para o movimento que tomava ares de profissionalismo. Houve ainda uma segunda versão deste festival, mas foi muito descaracterizada, em outro local e sem o glamour do primeiro. Estas quatro bandas ainda fizeram várias outras apresentações em Festas de Barbalha, Exposição do Crato, Arte na Praça em Juazeiro e barzinhos.

No segundo semestre de 1992 o heavy metal crescia muito em todo o Brasil, surgindo então a StormBringer (foto ao lado), a primeira banda realmente com intenções de rock pesado, com composições próprias e covers de bandas como Iron Maiden, Judas Priest, Helloween, Viper, etc. A StormBringer reinou absoluta até 1994, tocando em Exposições do Crato, Festas de Barbalha e até em outras cidades, como Iguatu e Milagres. Outro bom momento foi a comemoração dos 10 anos de Xá de Flor (tradicional bar no Crato que era encontro do pessoal cabeça e bicho-grilos de plantão), foram 3 dias de shows, com a participação do Fator RH, StormBringer, Leninha e muitos outros.

Também aparecia a primeira loja exclusivamente Rock da região, a Porão Discos, que muito contribuiu para o crescimento do cenário de bandas, fãs e shows na região. Nessa época, Juazeiro do Norte até entrou na lista dos grandes centros de heavy metal do Nordeste, e até do Brasil, aconteceram vários shows considerados grandes para o porte da cidade, várias bandas de Fortaleza tocaram aqui, como as finadas Beowulf, Darkside, G.S. Truds, Tribunos da Plebe, Hefestus e, as ainda na ativa, Insanity e Obskure. Também tocaram o Restless (de Brasília) e o Krisiun e Nervochaos (São Paulo) — lembrando que o Krisiun é hoje uma das grandes bandas do Brasil, fazendo bastante sucesso na Europa.

Era uma época animada, quando havia uma grande galera unida que não media esforços para ir aos shows e dar apoio às bandas, houvesse chuva ou sol, todos estavam lá para gritar e agitar durante todo o show, que acontecia em locais de fácil acesso — como a Iguatemi — ou mesmo lugares obscuros — como uma tal de Brasília Casa de Shows ou mesmo o antigo Jackson, bairro Pio XII [em Juazeiro].

Em 1994 a StormBringer praticamente acabou e virou duas bandas (a outra era a Rising Hammer), voltando em 1996 com nova formação. O movimento do rock, agora mais punk e heavy metal, era dos melhores ainda, com novas bandas, como Traumatismo Craniano (que foi a primeira banda pesada a gravar fita demo na região), Mesocrânio, Chemichal Death, Fuzor (eu espero não estar esquecendo ninguém, pelo menos ninguém que mereça destaque).

Já por volta de 1997 surgia por aqui uma febre importada dos Estados Unidos chamada Nirvana, que influenciou todo um movimento, as antigas bandas punk estilo Ramones e Sex Pistols cederam ao grunge vindo de Seattle. Vale destacar bandas como a Hidrophobia (que inclusive gravou uma fita demo que hoje é tida como raridade) e a Neurize, ainda na ativa.

No próximo e último capítulo falaremos da evolução das bandas, dos trabalhos gravados, da atual cena rocker da região e do que o futuro talvez nos espera.


Parte 3 - Última, mas não a final (Geral, ano 3, n.11 - Set/Out de 2002)

Antes de começar, gostaria de agradecer os e-mails que me refrescaram a memória, afinal errar é humano, ainda mais pra um já dinossauro do rock como eu, todo enrugado e com poucos neurônios devido a tantas Exposições do Crato mal dormidas.

Esqueci, no capítulo anterior, de mencionar 3 bandas que tiveram grande influência: a Prisma 777, que durou pouco mas viveu intensamente, participando de vários shows, inclusive abrindo shows importantes como o do Darkside (Fortaleza); a The Brothers, que tocava rock nacional, depois virou cover do (argh!) Legião Urbana e hoje toca jovem guarda com o nome de Banda Arquivo; e também a Fator X, que tocava músicas próprias e tinha Adriano como vocalista, com sua performance peculiar vestido de Edward Mãos de Tesoura misturado com Peter Gabriel, só vendo pra crer.

Agora era final da década de 90, a febre do Nirvana ainda dominava o mundo, a StormBringer mudava de nome para Glory Fate; os meninos do Dr. Raiz já começavam a ensaiar, com o nome de UTI, tocando covers do Ramones; o Death e o Black Metal também já chegavam ao Juazeiro; várias bandas surgiam a cada dia, outras acabavam, tudo fervia movido a rock. Dessa época só sobreviveram os mais teimosos. Também surgiam bandas de outras localidades, como o Sétimo Selo, de Mauriti, que chegou a gravar um CD. No Crato, um maluco de Curitiba montava um bar destinado ao rock, o Saint's, depois chamado Darkside, onde a galera se reunia nos fins de semana pra curtir a night. Foi lá que o Dr. Raiz fez seu primeiro show, num palco minúsculo, no quintalzinho do bar.

Também no Crato, tínhamos ótimas Exposições, com a consagração total da barraca Los Zetas — a única diferente —, e havia um espaço para os artistas da terra. Essa época marcou muito as bandas pela busca do profissionalismo, vendo que os shows estavam meio parados aqui, muitos gravaram demo tapes que tiveram boa aceitação em nível nacional e até internacional: a StormBringer gravou duas demo tapes, em seguida o CD, já com o nome Glory Fate e se mandou Nordeste afora, tocando em cidades como Recife, Fortaleza, São Luís e João Pessoa. Surgiram também grandes bandas como a Mesocrânio (death metal) que teve boa repercussão com seu CD demo, e a Malebouge (black metal), que também gravou uma demo, ambas também foram ver o mar e tiveram ótima aceitação em nossa capital. Outros deixaram a cidade em busca de novas oportunidades, como o famoso Junior Grunge, que foi para São Paulo e de lá trouxe sua banda Insânia para a cidade.

Já no ano 2000 surgiu o Navegarte, no Crato, marcando outra época mágica e efêmera. Lá, quinzenalmente, aos domingos, sob a responsabilidade do Geral e do Berro aconteciam verdadeiras tertúlias (encontros de amigos), ao som de bandas como a Glory Fate, Post Scriptum, Dona Persona, Maria Doida, Sétimo Selo e outras, a galera se divertia bastante.

Hoje podemos dizer que o rock veio para ficar em nossa(s) cidade(s), as bandas já estão mais estruturadas, já existem estúdios para ensaios, e os jovens se encontram nesta forma de linguagem tão peculiar que nunca vai envelhecer, sobrevivendo às raízes das ervas daninhas (nada a ver com o Dr. Raiz, e sim com essa moda do forró pé no saco) e aos modismos em geral, podemos gritar a uma só voz, duas frases eternas:

Long Live Rock'n'Roll!!!
& Heavy Metal is the Law!!!

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quinta-feira, 12 de julho de 2012

Canções e o teatro de Chico Buarque em debate no Clube do Leitor



Clube do Leitor
A configuração da sociedade nas canções da Ópera do Malandro

"Hino de Duran", "Tango do Covil" e "Uma Canção Desnaturada" serão três das composições da Ópera do Malandro que mostrarão a sociedade e a ditadura militar no Brasil. As décadas de 60 e 80 vistas através do teatro de Chico Buarque. (sinopse da divulgação do evento)

Facilitadora: Prof. Edivânia Frutuoso
Produção / Mediação: Ravena Monte
Coordenação: Maria Isabel Leal
Sexta-feira, dia 13 de julho de 2012, 17h30
No Centro Cultural Banco do Nordeste Cariri (Juazeiro do Norte-CE)
Entrada gratuita.
+ info: (88) 3512.2855.

'Vende-se': segunda edição da Feira do Bando Coletivo nesta sexta-feira 13



Vende-se - Feira do Bando
Segunda edição
Sexta-feira, dia 13 de julho de 2012, abertura da feira às 15h
Local: Teatro Marquise Branca, Juazeiro do Norte
Entrada: R$2,00.

A partir das 21h
Performance 'Liquidificador'; Dança do Ventre; Recital de Poesias e Intervenções.

A partir das 22h
Discotecagem com os DJ's:
Dukke, Xamex, Ramon Kesslen, Diego Linard e Daniel Batata.
Shows com as bandas:
Al Capone Tá é Bêbo e Verónica Decide Morrer.

Encontro de Twitteros Culturais do Cariri acontecerá neste sábado

Neste sábado, dia 14 de julho, acontecerá no Centro Cultural Banco do Nordeste a primeira edição do Encontro de Twitteros Culturais do Cariri, pelo programa Troca de Ideias.

O evento é um desdobramento do Encontro de Twitteros Culturais que já acontece em mais 17 cidades brasileiras, além de Espanha, Holanda e Turquia.

O tema do encontro será “Redes sociais conectando culturas pelo Brasil” e terá como objetivo relatar experiências sobre o uso das redes sociais no encurtamento de distâncias entre usuários brasileiros, além de experiências na web como um todo.

A mesa debatedora contará com as presenças de José Luiz Goldfarb, de São Paulo e Samuel Sobreira, de Juazeiro do Norte. A mediação será de Hudson Jorge, também de Juazeiro do Norte.

A entrada é franca e o evento será transmitido via twitter: @ccbnbcariri e @etc_cariri.

Participantes:

José Luiz Goldfarb @jlgoldfarb

Bacharel em Física (USP), mestre em Filosofia e História da Ciência (McGill University, Canadá), doutor em História da Ciência (USP). Vice-coordenador do Programa de Estudos Pós-Graduados em História da Ciência, presidente da Cátedra da Cultura Judaica e coordenador do Twitter, na PUC-SP. Curador do Prêmio Jabuti, Câmara Brasileira do Livro (CBL). Assessor da presidência para a área de Comunicação e Redes Sociais da Associação Brasileira 'A Hebraica' de São Paulo. Consultor de programas de incentivo à leitura, de projetos do terceiro setor, e de desenvolvimento de ações sociais,culturais e educacionais no Twitter. Coordenador do projeto #REDEMIS do Museu da Imagem e do Som de São Paulo e do programa Rio uma Cidade de Leitores da prefeitura do Rio de Janeiro.

Samuel Sobreira @SamuelSobreira
Consultor em projetos e treinamentos para Captação de Recursos para Setor Público e Social. Instrutor de recursos avançados para internet.

Mediação:
Hudson Jorge @hudsonjsilva
Produtor de eventos, diagramador e social media no Centro Cultural Banco do Nordeste @ccbnbcariri

Serviço:
Encontro de Twitteros Culturais – ETC Cariri
Sábado, dia 14 de julho de 2012, 17h30
No teatro do Centro Cultural Banco do Nordeste - Cariri
Transmissão online através do twitter (@ccbnbcariri / @etc_cariri)
Entrada gratuita.

Centro Cultural Banco do Nordeste Cariri
Rua São Pedro, 337, Centro, Juazeiro do Norte – CE
Fone: (88) 3512.2855
www.twitter.com/ccbnbcariri | www.facebook.com/ccbnbcariri

Exibição de 'Ajuste Final' no Cine Café



Cine Café (com mediação de Elvis Pinheiro)
Exibição do filme Ajuste Final
Título original: Miller’s Crossing
Direção: Ethan Coen e Joel Coen (Irmãos Coen)
Roteiro: Joel Coen, Ethan Coen, Dashiell Hammett (romance)
Elenco: Gabriel Byrne, Albert Finney, Marcia Gay Harden, John Turturro
Duração: 115 minutos
Ano: 1990
Países de origem: Estados Unidos

"Em 1929, na era dos gângsteres, dois rivais se enfrentam pelo domínio do território para venda de bebidas alcoólicas. História repleta de traições e humor negro e com a envolvente fotografia e excelente movimentação de câmera característica dos irmãos diretores." (sinopse da divulgação do evento)

Exibição no sábado, 14 de julho de 2012, às 17h30
No Centro Cultural Banco do Nordeste Cariri (Juazeiro do Norte). Entrada gratuita.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Embalado pra viagem # 66

manifesto da poesia 2012

minha vida não será televisionada
feito novela sem graça
programa de plateia barata.

prefiro a infâmia
de qualquer hermetismo
a solidão de falas heróicas ao vento

o som desse intravenoso tempo
entre as folhas mortas que voam no céu
bramindo azuis pela madrugada.

quero é lenha na fogueira
porre de sexta-feira
e o velho incômodo de acordar perdido

nada de salutares paisagens
"poeta me passa outro cigarro"
não posso deixar quedar o trago.

outro dia e horas a serem desbravadas
mas minha vida não será televisionada
feito novela sem graça...

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Da série "Poemas heroicos", parte do livro Obras completas, ainda inédito.

Ythallo Rodrigues é poeta e cineasta.

terça-feira, 10 de julho de 2012

Um pouco sobre 'Deus e o diabo na terra do sol'

Grifo nosso # 36

Amanhã será exibido em Juazeiro do Norte, um dos grandes filmes do cineasta baiano Glauber Rocha, Deus e o diabo na terra do sol (1964). Para atentarmos um pouco melhor e para que debrucemo-nos sobre sua obra, trago abaixo um insert de um livro do crítico e professor de cinema José Carlos Avellar. Nesse livro, Deus e o diabo na terra do sol – a linha reta, o melaço de cana e o retrato do artista quando jovem¹, Avellar nos aponta algumas questões desse filme, trilhando em diversos momentos do seu texto uma reflexão muito pessoal, sem deixar de forma alguma a análise fílmica de lado.

“A primeira vez que vi Glauber, na verdade eu principalmente ouvi Glauber. E é possível que esta lembrança tenha contribuído forte para pegar esta cena como ponto de partida para uma conversa sobre Deus e o diabo na terra do sol.

Foi num cinema, durante uma sessão especial, pré-estreia de Porto das caixas (1963) de Paulo César Saraceni. Sala cheia, muita gente sentada no chão e eu, que chegara meio em cima da hora, entre eles. A certa altura da projeção algumas pessoas começaram a dizer baixinho uma qualquer coisa contra o filme. O falatório se tornou um ruído incômodo, desviando a atenção da tela até que de repente um vozeirão por trás de meu ouvido berrou um protesto que, se bem me lembro, era um acúmulo de xingamentos:

“Cala a boca idiota, burro, cavalo, animal, cafajeste, sem mãe!”

Era ele.

Ainda não o conhecia pessoalmente, fiquei conhecendo ali. Mal terminou a sessão, olhei para trás e Glauber abriu um papo com todo mundo em volta, falando bem do filme e mal da gente que atrapalhara a projeção.

'Martin Scorsese contou a dona Lúcia, mãe de Glauber, uma história parecida. Ele estava num cinema em Roma quando alguns espectadores começaram a dizer uma qualquer coisa contra o filme italiano que passava. Um vozeirão explodiu na sala exigindo silêncio e a plateia ficou quieta. No final da sessão Scorsese ficou sabendo que o vozeirão era de Glauber, que ele admirava sem conhecer por causa de Terra em transe. A partir de então sua admiração cresceu. Uma voz apaixonada que berra em defesa de um filme: uma imagem que ficou de Glauber.'

É possível também que uma outra lembrança sonora de Glauber tenha contribuído para trazer esse fragmento do filme mais forte na memória.

No final dos anos 1970, uma sessão especial, fechada, só para ele, de Cabezas cortadas (1972). Estava ali ao lado, por acaso, ele me chamou, acabei vendo o filme ao lado dele. Vi, na verdade, com um olho na tela e outro em Glauber, que, debruçado sobre meu ouvido, comentou o filme o tempo todo, sussurrando observações sobre o que lhe parecia bom e o que não lhe agradava, analisando o ator, a fotografia, a montagem – transformando a projeção na ilustração de uma crítica de cinema.

É possível ainda que o trabalho de voz de Othon Bastos – em Deus e o diabo na terra do sol² – tenha igualmente contribuído para pensar o filme a partir de um momento em que a fala, o jeito de falar do ator, carrega a cena. Além das vozes que faz quando Corisco conta o que se passou em Angicos para o cego Júlio, Othon Bastos faz ainda uma outra voz, a do Santo Sebastião – algo mais grave que as de Corisco e Lampião. A ideia surgiu na montagem, usar a mesma voz para deus e o diabo, de modo a que o espectador pudesse identificar uma certa semelhança entre as propostas e mais rapidamente concluir com o filme que a terra é do homem, nem de deus nem do diabo.

E mais, filme marcante por sua invenção visual, Deus e o diabo na terra do sol deixa gravada na memória um bom número de vozes: frases-imagens como a do Corisco gritando “Mais forte são os poderes do povo!”, a de Sebastião repetindo o Conselheiro, “o sertão vai virar mar e o mar vai virar sertão”, uma outra de Corisco, “homem nessa terra pra ter validade tem de pegar nas armas pra mudar o destino”, ou como a do cantador que conclui a história lembrando “que assim mal dividido esse mundo anda errado, que a terra é do homem, não é de deus nem do diabo”. Palavras de plasticidade idêntica à das imagens, observou o escritor Alberto Moravia: “a partir do momento em que entra em cena Corisco, a representação alcança efeitos estranhos e terríveis, de notabilíssima eficácia expressiva. O grande achado de Rocha esteve em acampar a figura do bandido, bárbara, atroz, tetricamente retórica, sinistramente racional, bem no meio de uma solitária e desolada clareira do sertão, durante toda uma espécie de monólogo que toma a segunda metade do filme. Corisco, o rosto e as mãos sujas de sangue, fala e fala; em torno dele, rodam, arquejantes e estupefatos, os outros bandidos; atrás dele, aprofunda-se o sertão, maligna estepe de areia e sarça: a palavra, que no cinema é quase sempre subsidiária, aqui, nesta imobilidade alucinante, adquire um valor representativo e plástico não inferior àquele da imagem”.

Mais forte no entanto que tais lembranças existe o sentimento de que nesta cena, ao apresentar Corisco como um homem de duas cabeças – uma por fora, agindo, e outra por dentro, pensando – e ao tornar visível a tensão do olhar (a câmera se fixa no cangaceiro, o ator se representa pra ela), Glauber sugere um modo de se relacionar com o cinema. Com este filme em particular e com tudo quanto é filme de um modo geral. Sugere um espectador igual a Corisco, de duas cabeças: uma sentimento, outra razão; uma, de olhos fixos na imagem, vendo o movimento, a outra, cega como o cego Júlio, pensando o movimento; uma pensando a cena, a outra vendo o olhar.

Mais forte ainda, uma observação de Glauber três anos depois da estreia do filme: “Quando filmei Deus e o diabo gostei muito da paisagem e também da figura de Corisco. E inclusive, assumi uma atitude crítica mas sentia-me ligado a este personagem.”

As duas vozes do cangaceiro na tela, as duas vozes de Glauber na memória, as muitas vozes de Othon Bastos, a observação de Glauber reforçam a sensação de que a imagem de Corisco como Lampião, embora se encontre na metade da história, é um dos pontos de partida de Deus e o diabo na terra do sol.”

Trailler original do filme Deus e o diabo na terra do sol, de Glauber Rocha, 1964.


Música “Manuel e Rosa”, da trilha sonora de Deus e o diabo na terra do sol

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¹ AVELLAR, José Carlos. Deus e o diabo na terra do sol: a linha reta, o melaço de cana e o retrato do artista quando jovem. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 1995. (Artemídia).
² Grifo meu.

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Cinematógrapho exibe 'Deus e o diabo na terra do sol', de Glauber Rocha



Cinematógrapho (com mediação de Elvis Pinheiro)
Festival Glauber Rocha
Exibição de Deus e o diabo na terra do sol
Título original: Deus e o diabo na terra do sol
Direção: Glauber Rocha
Roteiro: Glauber Rocha e Walter Lima Jr.
Elenco: Geraldo Del Rey, Yoná Magalhães, Maurício do Valle, Othon Bastos, Lídio Silva, Sônia dos Humildes
Duração: 118 minutos
Ano: 1964
País de origem: Brasil

“Revoltado contra a exploração de que é vítima por parte do coronel Morais, o vaqueiro Manuel mata-o durante uma briga. Começa então a fuga de Manuel e de sua esposa Rosa, que são perseguidos por jagunços até se integrarem aos seguidores do beato Sebastião, no lugar sagrado de Monte Santo. Ao mesmo tempo, o matador de aluguel Antônio das Mortes, a serviço dos latifundiários e da Igreja Católica, extermina os seguidores do beato, o que faz com que o casal tenha de continuar fugindo e se encontre com Corisco, cangaceiro remanescente do bando de Lampião.” (sinopse da divulgação do evento)

Exibição na quarta-feira, dia 11 de julho de 2012, às 19h
No SESC Juazeiro do Norte-CE. Entrada franca.