segunda-feira, 12 de novembro de 2012

70 anos de Paulinho da Viola



Grifo nosso # 56

Neste dia 12 de novembro de 2012, um dos maiores nomes do samba, o cantor e compositor Paulinho da Viola, completa 70 anos de idade. E destacamos um recorte (temático) de sua obra, feito pelo pesquisador e crítico musical Tárik de Souza.

Um breve recorte temático da obra de Paulinho da Viola, por Tárik de Souza:

"Sambista cardíaco
A tradicional dor de cotovelo ocupa um lugar de destaque nos discos de Paulinho. Mas ele prefere situá-lo no peito e no coração, o órgão do corpo mais mencionado nos sambas alheios que escolheu e nos que assina sozinho ou com parceiros.

'Coração imprudente', 'Mente ao meu coração', 'Coração', 'Coração leviano', 'Sentimento perdido' (tirei do meu coração uma sombra perdida/ tirei'), 'Chuva' ('Começou bem cedo aquela chuva/ sem fazer ruído e me roendo/ como se saudasse o inverno no meu coração'), 'Nova alegria' ('afinal uma nova alegria/ surgiu dentro do meu coração'), 'Vido' ('vamos lá, deixa o coração/ recolher os pedaços do sonho perdido'), 'Duas horas da manhã' ('parece até que o coração me diz/ sem ela eu não serei feliz').

Bamba dissonante
Mesmo sem violentar o formato tradicional, Paulinho tomou liberdades com o velho ritmo. 'Meu samba não se importa se eu não faço rima/ se pego uma viola e ela desafina' como ele mesmo anuncia em 'Roendo as unhas', uma de suas gravações mais próximas do atonalismo [veja a letra e escute 'Roendo as unhas' clicando aqui]. Experimentando combinações como um solo de caixa de fósforos versus cravo, Paulinho abriu espaço em seu repertório para novos timbres (e temas) no universo do samba ortodoxo.

'Sinal fechado', 'Comprimido', 'Vinhos finos, cristais', 'Cidade submersa', 'Não quero você assim', 'Orgulho', 'Num samba curto', 'Para ver as meninas', 'Consumir é viver'.

Protesto discreto
Sem ser panfletário, combatendo o maniqueísmo com doses medidas de dialética, ele atirou farpas contra as injustiças sociais, a descaracterização do samba e a deterioração do ecossistema.

'Argumento', 'Atravessou', 'Pode guardar as panelas', 'Amor à natureza', 'Reclamação', 'Falso moralista', 'Meu novo sapato', 'Sinal fechado'.

O chorão
Ao lado do sambista celebrado por grandes sucessos, Paulinho construiu uma obra instrumental ligada ao choro, uma de suas origens, somando alguns títulos que já se tornaram standards do gênero.

'Choro negro', 'Abraçando Chico Soares', 'Sarau para Radamés', 'Beliscando', 'Oração de outono', 'Inesquecível', 'Choro de memórias', 'Rosinha, essa menina'.

Cronista de costumes
Com humor agudo e sensibilidade social, Paulinho traçou um quadro da vida periférica, em que se juntam a pobreza, a poesia e a marginalidade pré-AR-15. Só retratos musicados (alguns de outros autores) que oscilam entre a picardia e a revolta surda.

'Zumbido', 'Um certo dia para 21', 'O velório do Heitor', 'Vela no breu', 'Pelos vinte', 'Uma história diferente', 'Nega Luzia', 'Papo furado', 'Dívidas', 'Chico Brito', 'Dona Santina e Seu Antenor', 'Coisas do mundo, minha nega'."
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Tárik de Souza, no Jornal do Brasil, 1/12/1996.
Reproduzido no seu livro Tem mais samba: das raízes à eletrônica (Editora 34).

"Chuva" (Paulinho da Viola):


"Dona Santina e Seu Antenor" (Paulinho da Viola):

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