quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Eis os novos centenários: Guerra de 1914 e morte da Beata Maria de Araújo



O Berro, em comemoração aos fatos históricos e centenários de nossa região, faz uma importante viagem ao passado para contar um pouco da Revolta de 1914 (conhecida como Sedição de Juazeiro) e, num segundo momento, discorrerá sobre o falecimento da Beata Maria de Araújo. Dois fatos que estão prestes a completar 100 anos e que têm relevância histórica para o Cariri e o Ceará.

A história da Sedição é rica, com muitos fatos ainda por serem descobertos, debatidos e (re)interpretados. Vale sempre lançar luz à memória dos que fizeram parte dela, além de poder destacar "filhos e netos da batalha" ainda vivos, já que aquele conflito não foi feito apenas por Generais e Políticos, mas, sobretudo, por nordestinos de fé, vindos de vários cantos do Nordeste, que escolheram Juazeiro do Norte (à época "Joaseiro") em defesa do padre Cícero. Esperamos que nessa viagem possamos conhecer pessoas como Francinilton — bisneto do beato Roque Pinto de Miranda, que era amigo do Padre Cícero e fundador da Irmandade do Santíssimo Sacramento — que luta para que histórias como a do seu bisavô permaneçam vivas na memória de Juazeiro.

No último dia 9 de dezembro completaram 100 anos da invasão de Floro Bartolomeu (juntamente com jagunços e um capitão da seção da Guarda Municipal) ao destacamento policial de Juazeiro, recolhendo rifles e trancafiando soldados atrás das grades. Com aquela investida podia-se dizer que a "revolução" era um caminho sem volta, o que fez com que rabelistas residentes no município partissem em debandada. Mostrava-se, portanto, que o então presidente do Ceará, Franco Rabelo, passava a ter seu poder cada vez mais ameaçado pelo seu antecessor, Nogueira Accioly, e pelo aliados do Padre Cícero.

Realmente muitos acontecimentos estariam por vir: menos de uma semana após a tomada de armas por Floro e seus jagunços, no dia 15 de novembro de 1913, a população de Juazeiro começou a construir um enorme valado, que ficou conhecido como o "Círculo da Mãe de Deus". Milhares de homens, mulheres e até crianças, lançando mão de ferramentas rudimentares (incluindo colheres e garfos), entrincheiraram o Juazeiro, preparando-se para a iminente invasão de tropas rabelistas, que se deslocariam de Fortaleza e outras localidades cearenses, objetivando derrotar o exército arregimentado por Floro Bartolomeu.

O "Círculo da Mãe de Deus", fruto dos trabalho dos devotos e amigos fiéis ao Padre Cícero, foi determinante para o desenrolar dos capítulos que aconteceriam naquela virada de 1913 para 1914. E detalhes de tais episódios acompanharemos no blog d'O Berro nos próximos dias e semanas.

Faz-se necessário frisar que rememorar tais fatos, trazendo à tona muitos dos personagens e episódios daquele conflito,significa, acima de tudo, conhecer um pouco mais da nossa história, saber como se formou a Região do Cariri que conhecemos hoje, sócio, político e economicamente. Entender como a virada do século XIX para o século XX, com a atuação do Padre Cícero, que exercia, inegavelmente, o papel de líder político e religioso naquele contexto.

Nosso interesse vai muito além (ou não nem chega a se valer) de questões que tentaram historicamente resumir aqueles conflitos a uma rixa entre Crato e Juazeiro, por exemplo. Até porque, como veremos nas próximas postagens sobre o assunto, as disputas políticas faziam com que houvessem defensores de um lado ou de outro do conflito em diversas localidades. Não podemos, portanto, esquecer da diversidade política e cultural de cada localidade, nem engessar em categorias estanques e estereótipos que muitas vezes tacharam "essa ou aquela cidade" como símbolo de determinadas características. É preciso entender a conjuntura política e a cultura diversa daquelas comunidades naquele contexto histórico.

Portanto, muito mais importante do que reduzir o conflito a uma disputa entre povos de diferentes localidades, faz-se necessário lançarmos luz ao desenrolar político, social e econômico daquelas disputas, verificando o que isso significou para o desenvolvimento do Cariri no século XX. É buscar entender como tudo aquilo teve que ser superado em algum momento, para que muitos coadunassem com a ideia de colaboração mútua entre as cidades vizinhas, que hoje formam a Região Metropolitana do Cariri, fruto da conurbação entre Juazeiro do Norte, Crato e Barbalha (e a soma de outros municípios circunvizinhos).

Já a personagem Maria de Araújo (que mencionamos no início da postagem), a Beata que protagonizou, ao lado do Padre Cícero, os famosos milagres da hóstia transformada em sangue em Juazeiro, impulsionando as primeiras romarias para o município, merece o devido reconhecimento pela sua importância na história da cidade. É preciso recontar a história de uma Beata que, na condição de mulher negra, pobre, analfabeta, acabou sendo perseguida e condenada ao isolamento, como que tivesse de pagar os pecados por um suposto embuste, por uma suposta farsa contra as regras da Igreja do Vaticano.

Independente do que significava aquele sangue da Beata Maria de Araújo durante as comunhões, tais eventos serviram para alimentar a crença de diversos nordestinos que elegeram Juazeiro como a capital da fé, como o espaço sagrado da sua religiosidade. Isso foi determinante (juntamente com a liderança política e religiosa exercida pelo Padre Cícero) para que Juazeiro se tornasse uma das grandes cidades do Nordeste brasileiro, um destino certo para milhões de romeiros anualmente. Que a Beata Maria de Araújo tenha o reconhecimento por seu importante (e decisivo) papel nessa história, mesmo que apenas agora, quando já se completam 100 anos da sua morte (a Beata faleceu no dia 17 de janeiro de 1914). Clique aqui e confira poema e ilustração sobre a Beata Maria de Araújo.
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Equipe O Berro

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