sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

'Pérola Negra', disco de Luiz Melodia, na Discoteca Básica da Revista ShowBizz

Do papel # 25

Hoje compartilhamos um texto de Luís Antônio Giron, da seção Discoteca Básica da Revista ShowBizz, antiga Bizz (edição 136, novembro de 1997), sobre o clássico álbum Pérola Negra, de Luiz Melodia, lançado em 1973. Para ampliar a página da revista, clique na imagem.


Discoteca Básica 
Pérola Negra - Luiz Melodia

Algumas vidas se revelam como nota de rodapé, a sombra, o apêndice de um único gesto da juventude. Por mais que um artista queira se subtrair do estigma, este se impõe contra a vontade do criador, como letra marcada a ferro.

Aos 46 anos de idade, o compositor e cantor carioca Luiz Melodia tenta esquecer em que ano estamos — exatamente como nos versos de "Pérola Negra", a faixa-título do seu primeiro LP, de 1973. Houvesse ele abandonado a carreira para virar contrabandista na África, como o poeta Arthur Rimbaud (outro maldito pelos feitos juvenis), ainda assim seria lembrado por causa de Pérola Negra. Estacou ali, aos 23 anos, num ano que todo mundo já esqueceu, salvo ele.

Melodia extraiu material do Estácio, bairro-berço do samba clássico, cuja forma foi fixada em 1931 pelos bambas do local, como Ismael Silva, Bide, Balaco e Brancura. Seu pai, o violonista Osvaldo Melodia, frequentava a roda de bambas, e o influenciou. O auxílio do pandeiro foi luxuoso. Mas Luiz não se via como pagodeiro. O blues e o pop tropicalista lhe eram também fundamentais. O Rimbaud do morro estreou aos 15 anos, num grupo de baile. Compunha sambas acartolados e rocks lisérgicos.

Pouco antes de os poetas Torquato Neto e Waly Salomão descobrirem suas músicas numa visita ao morro de São Carlos (hábito desenvolvido pelo artista plástico Hélio Oiticica), Melodia pensou em parar, em trocar a música pelo serviço de garçom numa academia de ginástica. Waly, então, levou uma fita com "Pérola Negra" para Gal Costa. Ela gravou a música e passou a atuar como divulgadora do seu trabalho. Contratado pelo empresário Guilherme Araújo, ele terminou por ser convidado para gravar um disco pela Philips.

Pérola Negra traz dez faixas arranjadas pelo violonista Pedrinho Albuquerque. Um solo de flauta de Canhoto, acompanhado por seu regional, dá a largada à eternidade de Melodia, no samba "Estácio, Eu e Você" inspirado em Cartola. A segunda faixa já é um blues, "Vale Quanto Pesa", em instrumentação acústica. O destaque é o refrão dos metais, enquanto Melodia canta "Ai de mim, de nós dois", Rildo Hora preludia com a gaita o samba-canção "Estácio, Holly Estácio", peça fundamental do desbunde setentista: "Trago não traço / Faço não caço / E o amor da morena maldita / Domingo no espaço". Versos assim vincaram uma geração.

O rockão "Pra Aquietar" — em estilo Dededrim (inseticida) traçado pela guitarra do soul man carioca Hyldon — conserva em formol um passeio suburbano à calorenta Ilha de Paquetá. "Abundantemente Morte", "Pérola Negra" e "Magrelinha" são blues interligados pelo cordão de amor e morte. Dificilmente superada, essa trilogia de canções forma o tesouro nacional do oxímoro — das frases que se contradizem ("Baby te amo! Nem sei se te amo") para definir uma situação existencial. A verdade é que a sombra sobrevém na obra do compositor a partir das três faixas seguintes. "Farrapo Humano", "Objeto H" e "Forró de Janeiro" já adentram pela rota da variação sobre os primeiros temas.

Pérola Negra é ápice e lápide estética. Ouvimos hoje o Melodia desse disco, ainda que ele cante outros e melhores blues. Todos os seus atos são e serão regidos pelo LP. Não tem por que se lamentar da reprodução do mesmo modelo. O grande artista é sempre resultado de uma cena originária.
Luís Antônio Giron

Performance:
Ano de lançamento: 1973
Direção de Produção: Guilherme Araújo
Direção de Estúdio: Sérgio M. de Carvalho
Arranjos: Perinho Albuquerque e Arthur Verocai
Direção Musical: Perinho Albuquerque
Faixas: "Estácio, Eu e Você", "Vale Quanto Pesa", "Estácio, Holly Estácio", "Pra Aquietar", "Abundantemente Morte", "Pérola Negra", "Magrelinha", "Farrapo Humano", "Objeto H", "Forró de Janeiro"
Músicos: Regional de Canhoto; Perinho Albuquerque (violão e guitarra); Anotnio Perna (piano); Hyldon (guitarra); Rubão Sabino (baixo).

Pérola Negra foi lançado pela Philips/PolyGram. Há alguns anos, a faixa-título ganhou destaque ao virar trilha de um comercial de calça jeans. Outro grupo que viajou na música de Luiz Melodia foi o Barão Vermelho, que regravou o blues "Vale Quanto Pesa". Pérola Negra foi relançado este ano [1996] em CD.
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"O Morro e o Asfalto no mesmo disco. Luiz Melodia mostra em suas composições que já sabia muito da vida naqueles tempos. Do Estácio para o mundo, um Canário Universal." (Guto Goffi, Barão Vermelho)

"Estácio, Holly Estácio" (Luiz Melodia):

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quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Laboratório de Produção Cultural: oficina gratuita em Juazeiro



"A fim de fortalecermos as ações criativas no Cariri, esta oficina visa promover um espaço de sistematização de conhecimentos, gestão de projetos e interação. Abordará as dimensões sociais, econômicas e políticas das etapas de uma produção bem sucedida. Uma vez que se amplia a democratização do acesso à Cultura no país, este laboratório pretende contribuir com a qualificação dos profissionais locais para cadastro reserva do CCBNB Cariri." (sinopse da divulgação do evento)

Oficina de Formação Artística
Laboratório de Produção Cultural
Facilitadora: Paula Izabela (escritora, professora e produtora cultural)
Convidado: João Dumont (professor da UFCA)
De 11 a 14 de fevereiro de 2014, das 17h às 21h
50 vagas; público alvo: artistas e produtores culturais
Carga horária: 16h/a (exigência de 75% de presença para o certificado)
Inscrições gratuitas na recepção do CCBNB Cariri (Juazeiro do Norte-CE)
Inscrições de 29 de janeiro a 04 de fevereiro de 2014, das 13h às 21h
Entrevista e entrega de currículo: 04 e 05 de fevereiro de 2014 (horário a agendar)
Resultado da seleção: 07 e 08 de fevereiro de 2014.
+ info.: (88) 3512.2855.

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quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Vem, Vai Ter Música 2014 com shows de Tibério Azul, Zeremita e outras atrações



Vem, Vai Ter Música
Shows com Tibério Azul, Zeremita, Verônica Decide Morrer, David Brito, The Clivis, Ramon Kesllen e Águas em Marte
Sábado, 01 de fevereiro de 2014, 19h
Na Xoperia (Crato-CE)
Entrada (uma das opções):
1) 2 pacotes de vitamilho, 1 kg de feijão e 1 pacote de macarrão
ou
2) 2 pacotes de leite em pó (ou uma lata), 1 kg de açúcar e 1 kg de arroz.

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terça-feira, 28 de janeiro de 2014

'Cousa estranha', soneto de Patativa do Assaré

Embalado pra viagem # 97

Cousa estranha

Esta noite, já quase madrugada,
No silêncio melhor de toda gente,
Despertei do meu sono inocente
Pelo doido ladrar da cachorrada.

E fiquei a dizer: não devo nada,
Criminoso não sou, vivo contente.
Quem me vem perturbar, tão insolente,
O repouso feliz desta morada?

Me fugiram os pulsos, pois sou fraco
E lembrei-me de gato, de cassaco
E raposa, mexendo no poleiro.

Porém logo notei estranha coisa:
Nem cassaco, nem gato, nem raposa.
Era um vice-prefeito em meu terreiro.
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Patativa do Assaré em Cante lá que eu canto cá: filosofia de um trovador nordestino (15 ed., Editora Vozes, 2008).
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O Padre Cícero na 'Revolução de 1914' (no livro 'Padre Cícero na berlinda')



Em uma postagem de dezembro, que lançava neste blog a missão de lembrar o centenário da Guerra de 1914 (ou "Revolução de 1914", e que alguns também chamam de "Sedição de Juazeiro"), comentávamos sobre a necessidade de recontar e (re)interpretar as histórias daquele conflito armado, deflagrado no Ceará no final de 1913 e início de 1914.

Temos em mente a importância de se entender aquele contexto histórico e perceber que há muito mais de emaranhado político e disputa de interesses do que uma "simplificação histórica", que já tentou abreviar aquele conflito a uma "guerra entre Crato e Joaseiro (hoje Juazeiro do Norte)". É preciso verificar que por trás da contenda estavam interesses que envolviam não só políticos dos dois municípios, mas também o Governo do Estado e até mesmo a Presidência da República. E em meio a isso tudo, a grande influência de coronéis de diversas localidades — que poderiam, por exemplo, morar no Crato e defender o Padre Cícero, ou morar em terra juazeirense e ser adversário político do Patriarca.

E em meio a essas nuances, o papel do Padre Cícero naquela batalha bélica e política é um dos que até hoje rende discussão, é motivo de discórdia.

Para tentar esclarecer o assunto, ou adicionar novos elementos e visões históricas sobre essas questões, Daniel Walker reuniu no livro Padre Cícero na berlinda diversos depoimentos colhidos em documentos e livros históricos, ajudando a iluminar (ou aumentar a discussão de) alguns dos fatos ocorridos entre 1913 e 1914.

Abaixo reproduzimos a seção "Que participação teve o Padre Cícero na Revolução de 1914?", com esses depoimentos. Confira abaixo:
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Livro Padre Cícero na berlinda, de Daniel Walker (edições IPESC/URCA, 2ª edição, 1995, p. 61-66):

Que participação teve o Padre Cícero na Revolução de 1914?

Padre Cícero: "Posso afirmar, sem nenhum peso de consciência, que não fiz revolução, nela não tomei parte, nem para ela concorri, nem tive nem tenho a menor parcela de responsabilidade, direta ou indiretamente, nos fatos ocorridos. Não tenho culpa de que, por um despeito mal-entendido e de ordem política, houvesse e ainda exista quem me queira tornar por ela responsável. Estou certo de que, quando se fizer a verdadeira luz sobre esses fatos, meu nome realçará limpo como sempre foi."

Otacílio Anselmo, militar e escritor: "O movimento armado foi organizado por Floro e liderado pelo Padre Cícero. Deflagrado o movimento, o Padre Cícero pretendeu estendê-lo a outros municípios. Neste intuito mandou Floro e Pedro Silvino a Missão Velha, à frente de numerosa comitiva armada, onde esperava receber a adesão de Domingos Furtado, José Inácio e Manoel Chicote."

Rodolpho Theophilo, escritor: "O Padre Cícero esperava o momento oportuno para insurgir-se contra o governo do Estado. Manhoso e precavido, ia contemporizando, sujeitando-se a certas exigências dos poderes públicos dentro dos seus domínios, à espera da ordem de ataque do Rio de Janeiro. Não precisava ser muito arguto para verificar que Padre Cícero agia de comum acordo com o Governo Federal. Caso a deposição de Franco Rabelo não pudesse ser feita em Fortaleza pelos marretas, começaria por um movimento sedicioso em Juazeiro, promovido pelo Padre Cícero Romão Batista , e viria sobre a capital do Estado."

Edmar Morel, jornalista e escritor: "O Padre Cícero arquitetou uma revolução para alijar o coronel Franco Rabelo do governo... Franco Rabelo foi deposto pelos cangaceiros do Padre Cícero e Floro Bartolomeu, com o dinheiro fácil do Banco do Brasil, mandado pelo Senador Pinheiro Machado, o dono do País."

Ralph Della Cava, historiador: "Contrariamente à maioria das interpretações tanto contemporâneas quanto atuais, parece certo que o Cel. Antônio Luís foi o arquiteto principal do plano no Cariri; Floro foi o executor-chefe e Padre Cícero, seu cúmplice atônito e indeciso. É hoje evidente que não poderia ter sido de outra forma. Antônio Luís, primo-irmão do ex-governador Accioly, chefe deposto do Crato, antigo deputado estadual e outro 'Grande Eleitor' de todo o Vale do Cariri, era quem mais tinha a lucrar com a 'revolução'. Além disso, tratava-se de um político experiente, enquanto Floro não conhecia uma única personalidade política no Ceará e jamais estivera em Fortaleza! Somente depois de ter ido ao Rio de Janeiro, em agosto de 1913, travou relações com os Accioly, com o senador Cavalcante e com o próprio Pinheiro Machado! Admite-se que Antônio Luís e Floro não foram os únicos conspiradores. Havia, ainda, o imprevisível João Brígido, redator-chefe do jornal 'O Unitário', a primeira pessoa a partir para o Rio de Janeiro em 1913 com o fim de conspirar contra o governo de Franco Rabelo."

Irineu Pinheiro, médico e escritor: "Em seu testamento declarou o Padre Cícero de modo textual: 'Não fiz revolução, nela não tomei parte, nem para ela concorri, nem tive, nem tenho a menor parcela de responsabilidade, direta ou indiretamente nos fatos ocorridos'. Mas o que se pode afirmar é que sem o apoio do Padre Cícero não teria sido possível ao Dr. Floro, chefe ostensivo da revolução, conduzir de Juazeiro um romeiro sequer para enfrentar as forças legalistas daquele tempo."

C. Livino de Carvalho, escritor: "Foi o Dr. Floro o inspirador e chefe absoluto da rebelião do Juazeiro, que, levada a bom termo, logrou derribar o governo estadual do coronel Franco Rabelo. Nessa empresa, de que recolheria honras e preitos, usou dos romeiros do Padre Cícero o qual lhe emprestava a força da influência e prestígio."

Azarias Sobreira, padre e escritor: "Padre Cícero em tempo algum pretendeu armar sua gente contra quem quer que fosse. Norma invariável de seu viver até os setenta anos, sua política era toda de paz e boa vizinhança. Foi a chegada de Floro em 1908, a sua gradativa ascendência sobre o guia espiritual daquele aglomerado humano, que a tudo imprimiu uma nova diretriz. Foi Floro quem, ao apagar das luzes de 1913, acendeu o facho da rebelião popular, que teve por epílogo a deposição do Governador do Estado Franco Rabelo. Diga-se, entretanto, de passagem, que se Franco Rabelo não houvesse sido inepto e desavisado, Juazeiro nunca teria pensado em pegar em armas para depô-lo. Porque é inegável que o militar que tinha então as rédeas do Governo Estadual, desde muito afastado no Sul do País, ignorava os anseios da alma cearense naquele agitado momento político. Certamente por isto, admitiu a seu conselho figuras inexpressivas e sem passado, sequiosas de reivindicações absurdas e ressumantes de malquerenças individuais. Dentre eles não faltava quem apontasse a destruição de Juazeiro como um fato digno de todos os louvores. Reduzir a cinzas a terra do Patriarca, eis o que se impunha. Afirmavam isto nas ruas de Fortaleza e seus partidários o repetiam pelo interior, criando, assim, no sertanejo conformista, paulatina disposição para uma reação armada. Insuflados por tais mentores, rapazes situacionistas, porventura sob o incentivo de libações alcoólicas, faziam ruidosas serenatas, indo, às vezes, proferir expressões equívocas, em noites de luar, bem perto da residência do Padre Cícero. Enquanto isto, os políticos decaídos, sabedores de tudo e saudosos da administração Acioly, recém-apeada do poder, instavam com Floro Bartolomeu no sentido de se desvencilhar de Franco Rabelo, prometendo-lhe irrestrito apoio do Governo Federal. Choviam argumentos sobre argumentos. Sucediam-se emissários do partido aciolino desarvorado suplicando ao Padre Cícero que salvasse o Ceará daquele a quem chamavam de déspota da demagogia. E já que ninguém dispunha de elementos e prestígio para empunhar o estandarte da inconfidência, que ele, Padre Cícero, não hesitasse em assumir tal decisão, ainda com sacrifício de seu passado de anjo da paz! Cedeu, enfim, o Patriarca, mas sem entusiasmo. Só o fez depois que lhe asseveraram, insistentemente, que não se faria derramar sangue: bastaria reunir em Juazeiro os deputados dissidentes, armar algumas centenas de homens e declarar deposto o Governo do Ceará."

Amália Xavier de Oliveira, educadora e escritora: "Todo brasileiro, todo cearense, todo juazeirense, precisa saber que aquela revolução, que teve por palco Juazeiro do Padre Cícero, pelo fato de haver rebentado aqui no dia 9 de dezembro de 1913, foi um movimento de ordem política, orientado e apoiado, material e moralmente pelos altos poderes da República, e que membros da alta cúpula política da oposição deram ao Dr. Floro Bartolomeu, a incumbência de chefiá-la. Infelizmente ainda hoje há quem, ou por má fé, ou por não conhecer as causas da mesma revolução, dê a responsabilidade de tudo ao Padre Cícero."

Floro Bartolomeu da Costa, médico, jornalista e político: "Será possível que não se saiba ainda hoje que fui eu o chefe da revolução do Juazeiro e o único responsável por ela? Já está por demais repisado este caso. Esse movimento que, por motivos de ordem especial, fiz irromper no Juazeiro, não foi nem podia ter sido  sustentado somente por cangaceiros e por fervorosos adeptos daquele sacerdote, porquanto, com a causa que o determinou, estava grande parte da população cearense, constituída dos religionários do grande partido em oposição ao governo."
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Outras postagens sobre a Revolução/Guerra de 1914:
- 20 de dezembro de 1913: tropa do Governo Estadual tenta invadir Juazeiro
- 1º de janeiro de 1914: tenente do Exército visita Juazeiro e Pe. Cícero
- 22 de janeiro de 1914: a tropa do major Ladislau foge para Barbalha

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domingo, 26 de janeiro de 2014

Programação da 3ª semana da Mostra 21 - Biosfera XXI: o Poder e o Capital



Mostra 21 - Biosfera XXI: o Poder e o Capital
De 13 de janeiro a 02 de fevereiro de 2014

Programação da terceira semana (de 27 de janeiro a 02 de fevereiro de 2014) 
Entrada gratuita.
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27.jan (seg), 15h, SESC Juazeiro:
(Mostra de Cinema Político Brasileiro - Homenagem ao Diretor Leon Hirszman)
DEIXA QUE EU FALO (Dir. Eduardo Escorel, Brasil, 2007, 74min)

Documentário sobre o diretor do Cinema Novo, Leon Hirszman, realizado por seu amigo e companheiro de trabalho. O filme refaz a trajetória do cineasta através de sua obra e de imagens de arquivo. Usando inúmeros depoimentos do próprio Leon, Eduardo Escorel traça a síntese das esperanças e das frustrações de toda uma geração.


27.jan (seg), 19h, SESC Crato:
O VENDEDOR (Le vendeur, Dir. Sébastien Pilote, Canadá, 2011, 107min)

Aos 67 anos, Marcel Léves é um vendedor de carros que se define pelo seu trabalho e se orgulha de ter se mantido no posto de vendedor do mês por dezesseis anos consecutivos. Diante de uma crise financeira na sua cidade, Marcel é forçado a rever seus planos de vida.


28.jan (ter), 15h, SESC Juazeiro:
(Mostra de Cinema Político Brasileiro - Homenagem ao Diretor Leon Hirszman)
SÃO BERNARDO (Dir. Leon Hirszman, Brasil, 1972, 111min)

Adaptação do romance de Graciliano Ramos. Trajetória de Paulo Honório, sertanejo de origem humilde, determinado a ascender socialmente.


28.jan (ter), 19h, SESC Crato:
O CORTE (Le couperet, Dir. Costa-Gavras, Bélgica/França/Espanha, 2005, 122min)

Após quinze anos de leais serviços como executivo de uma fábrica de papel, Bruno D. é despedido com centenas dos seus colegas devido a corte de despesas.Três anos se passam sem que ele encontre um novo emprego. Agora ele está disposto a tudo para conseguir um novo posto, inclusive partir para a ofensiva.


29.jan (qua), 19h, SESC Juazeiro:
O PODEROSO CHEFÃO – Parte III (The Godfather: Part III, Dir. Francis Ford Coppola, EUA, 1990, 162min)

Uma das maiores sagas da história do cinema continua. Nesta terceira parte da trilogia épica dos Corleone, Al Pacino revive o papel de Michael Corleone, o poderoso líder da família. Agora na casa dos sessenta anos, ele é dominado por duas obsessões: libertar sua família do crime e encontrar um sucessor adequado. O sucessor poderá ser Vincent que também poderá ser a faísca que transformará a esperança de legitimidade de Michael em um inferno de violência mafiosa.


30.jan (qui), 15h, SESC Juazeiro:
(Mostra de Cinema Político Brasileiro - Homenagem ao Diretor Leon Hirszman)
ABC DA GREVE (Dir. Leon Hirszman, Brasil, 1979/90, 89min)

Filmado no final dos anos 70, este documentário cobre o intenso movimento grevista que eclodiu nas cidades industriais de São Paulo. Serviu de laboratório para o filme seguinte do diretor, Eles Não Usam Black-tie.


30.jan (qui), 19h, SESC Crato:
Z (Z, Dir. Costa-Gavras, Argélia/França, 1969, 127min)

Conheça o caso Lambrakis, onde a morte de um político foi encoberta vergonhosamente por políticos e policiais, na Grécia dos anos 60. Vencedor dos Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e Edição, foi o primeiro filme estrangeiro a ser indicado também na categoria Melhor Filme.


31.jan (sex), 15h, SESC Juazeiro:
(Mostra de Cinema Político Brasileiro - Homenagem ao Diretor Leon Hirszman)
ELES NÃO USAM BLACK-TIE (Dir. Leon Hirszman, Brasil, 1981, 134min)

Premiadíssimo filme do diretor, baseado em peça de Gianfrancesco Guarnieri. Numa família de operários, pai e filho dividem visões opostas de mundo. O pai, um ativista sindicalizado, enquanto seu filho luta pelo sucesso individual.


31.jan (sex), 19h, SESC Crato:
O GRUPO BAADER MEINHOF (Der Baader Meinhof Komplex, Dir. Uli Edel, Alemanha/França/República Tcheca, 2008, 150min)

Na década em que sexo, drogas e rock'n roll eram as bases da juventude, um movimento surgiu com alta dose de ideologia e terminou com a execução de diferentes crimes, atentados a bomba e ações terroristas que ameaçaram por anos a democracia europeia. O radicalismo dos jovens criados no período pós nazismo liderados por Andreas Baader, Ulrike Meinhof e Gudrun Ensslin levaria até as últimas consequências a tentativa de romper um possível fascismo.


01.fev (sáb), 17h30, CCBNB Cariri:
ESTADO DE SÍTIO (État de Siège, Dir. Costa-Gavras, Alemanha Ocidental/França/Itália, 1972, 115min)

No Uruguai, começo dos anos 70, o grupo de guerrilha esquerdista Tupamaro sequestra um funcionário americano em serviço no país. A partir de seu interrogatório, somos apresentados à luta dos países sul-americanos contra a ditadura e o intervencionismo dos EUA. Ao mesmo tempo, a posição do presidente e das guerrilhas se torna cada vez mais delicada, numa Montevidéu sitiada.


02.fev (dom), 19h, SESC Crato:
ESSES AMORES (Ces amours-là, Dir. Claude Lelouch, França, 2010, 120min)

Ilva é uma mulher que se envolve em romances facilmente, pagando pela inconsequência de seus amores, que muitas vezes acontecem de forma inesperada e inusitada. Quando morava em Paris, à época da ocupação nazista, apaixonou-se por um soldado alemão. Ilva, depois, se envolve com dois soldados americanos. A diferença de raças e a incapacidade de Ilva em escolher um deles cria conflitos e provoca tragédia.
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Confira a programação completa da Mostra 21 (Biosfera XXI - O Poder e o Capital):
- Programação da 1ª semana da Mostra 21 (2014)
- Programação da 2ª semana da Mostra 21 (2014)

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Show de Luiz Melodia em Juazeiro



Estacionamento da Música
Com Luiz Melodia (voz e violão)
Quinta-feira, 30 de janeiro de 2014, 20h
No SESC Juazeiro do Norte-CE
Ingresso:
Comerciário: 2kg de alimento; Usuário: R$10,00 + 2kg de alimento
+ info.: (88) 3587.1065.

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sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Sábado em Juazeiro: espetáculo infantil 'A Lenda da Festa no Céu'



"Um grupo de amigos músicos é convidado a tocar na maior festa de uma cidadezinha do sertão do Brasil, a Festa no Céu. 'Corre a notícia que na festança só entrará quem no lugar nasceu! Mas agora? Se estrangeiro não pode ir, o que fazer com o Mateo?' - Compadecidos pelo amigo gringo zabumbeiro, os membros da banda enfrentam um momento de muita confusão! Mas também de muito gracejo com as peripécias de algumas figuras populares nordestinas e de situações fabulosas mergulhadas no mundo da música, da dança e da diversão." (sinopse da divulgação do evento)

Espetáculo infantil A Lenda da Festa no Céu
Cia. Teatral Realce (SP)
Direção: Ronaldo Liano
Sábado, 25 de janeiro de 2014, às 15h e às 19h
No Centro Cultural Banco do Nordeste Cariri (Juazeiro do Norte-CE)
Entrada gratuita
+ info.: (88) 3512.2855.

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Nattydread com muito reggae em Juazeiro



Nattydread
União Reggae Cariri
Com Missão Miranda, Mary Roots, Hélio Pim Pim e DJ Filipe
Sábado, 25 de janeiro de 2014, 21h
Na Av. Dep. Duarte Júnior, 350 (Juazeiro do Norte-CE)
+ info.: (88) 8836.3762 / 8808.6958.

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Crato: show com as bandas Hollywood e Terceiro Acorde



Retro Cine Music
Com Banda Hollywood e Terceiro Acorde
Sábado, 25 de janeiro de 2014, 21h
No Casarão Boteco (Crato-CE)
Ingressos limitados: R$10,00.

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quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Welton Santos no Música ao Pôr do Sol



Música ao Pôr do Sol apresenta:
Show com Welton Santos
Sábado, 25 de janeiro de 2014, às 17h30
Na Pracinha do Cruzeiro (Ladeira da Integração), Crato-CE. Gratuito.
Realização e outras informações: SESC Crato - (88) 3586.9163.

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quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

22 de janeiro de 1914: a tropa do major Ladislau foge para Barbalha



Há exatos 100 anos os romeiros e jagunços do padre Cícero atacaram a coluna liderada pelo major Ladislau, que acampados próximos ao valado de Juazeiro aguardavam o momento certo de atacar a "tropa" de padre Cícero. Apesar do poderio amedrontador de um canhão (que funcionava de forma risível), as tropas rabelistas usaram uma antiga e genuína tática de guerra: a do salve-se quem puder.

"Nos valados, comentava-se que poucas horas antes de morrer a beata se oferecera a Deus em sacrifício. Dera sua vida, de bom grado, pela salvação do povo de Juazeiro. Ninguém duvidava que naquele instante Maria de Araújo estaria no Céu, sentada em um trono de luz ao lado de Jesus Cristo e de Nossa Senhora das Dores. Com certeza, ela também ajudaria a proteger a todos do fogo, da bala de rifle e do tiro de canhão. Naquela noite, até os mais perversos dos jagunços entoaram os chamados cantos de sentinela, os hinos religiosos com os quais os beatos encomendavam a alma dos moribundos à Virgem:

Oh! Mãe Gloriosa,
Oh! Mãe do Juazeiro,
Oh! Mãe virtuosa,
Oh! Mãe dos romeiros!

Tem uma beata santa,
Na matriz do Juazeiro,
Meu Padim Ciço Romão
É rei do mundo inteiro!

Parecia o ronco de um trovão. Só que não vinha do céu, mas do fundo da terra. O estrondo foi tão forte que sacudiu as folhas das árvores. Imediatamente depois, ouviram-se o chiado e longo assobio no ar. Quando o projétil passou chispando sobre a trincheira, os juazeirenses entenderam o que se passava. O canhão de Franco Rabelo estava atirando contra eles. Uma, duas, três, quatro, cinco vezes. Era ensurdecedor, de perder o juízo.

A despeito de tão assombroso barulho, o alcance dos arremessos mostrou-se bem menor do que se imaginava. Um ou outro disparo alcançava certa altura e a bola de chumbo quente passava zunindo por sobre o telhado das casas localizadas mais próximas ao valado. Não ia muito além disso. O efeito era mais de ordem moral do que bélico – e só logrou sucesso após os primeiros rugidos. Em poucos minutos, percebendo que a anunciada arma mortífera fazia mais zoada do que estragos, os jagunços começaram a se divertir com a balbúrdia.

"Xô, maldita!", gritavam eles, entre gargalhadas, a cada novo disparo que voava sobre a cabeça deles.

O canhão de Emílio Sá se revelara um espalhafatoso malogro. Dias antes, logo que a Guarda Cívica chegou ao Cariri, fora feito o primeiro disparo de teste, com pólvora seca, ainda nas ruas do Crato. O resultado havia sido o mais desastroso possível. O coice provocado pelo disparo fez o canhão praticamente desintegrar a carroça de madeira no qual estava assentado. Ao mesmo tempo, subira uma imensa fumaceira. Quando a fumaça baixou, constatou-se que a força do baque havia feito o canhão virar ao contrário. A boca de bronze estava apontando para o lado oposto. Muitos soldados interpretaram aquilo como um sinal: Deus talvez quisesse mostrar que quem atacava o Padim Ciço acabava sendo vítima do próprio veneno.

O canhão foi tirado de sobre os destroços da carroça e providenciou-se para ele um estrado com rodas de ferro, antes de ser mandado para a frente de combate. O major Ladislau estava consciente de que, com aquela geringonça, não iria conseguir atingir as torres da capela do Juazeiro. No máximo, a barulheira infernal iria assombrar a jagunçada do padre Cícero. Portanto, era exatamente essa a intenção dos disparos que estavam sendo feitos contra as trincheiras, naquela investida a partir do sítio Macacos, a poucos metros de distância do valado. Em 21 de janeiro de 1914, uma quarta-feira, após pouco mais de uma semana de cerco, Ladislau resolvera contrariar a resolução oficial de prolongar o bloqueio e ordenou o ataque com uma coluna avançada. Seu contingente estava reforçado pela Guarda Cívica, por dezenas de cabras cedidos por coronéis rabelistas e por cerca de vinte sentenciados da Justiça, que se encontravam presos na cadeia do Crato mas foram postos em liberdade em troca do engajamento no conflito.

Do outro lado da trincheira, Floro ordenou que ninguém revidasse. Fizessem silêncio. Deixassem os soldados esgotarem ao máximo a munição. Os policiais estranharam a ausência de revide e começaram a desfechar pesadas cargas de fuzil contra o valado. Novamente, ninguém respondeu. Ao anoitecer, Ladislau deu ordem de cessar fogo. Estava intrigado pela completa falta de reação. Mandou erguer acampamento e foi se regalar com uma garrafa de cachaça que havia trazido no alforje. Dormiriam ali mesmo, em pleno teatro de guerra, para fazerem uma investida no terreno inimigo na manhã seguinte.

Mas não houve manhã seguinte. Na madrugada, os jagunços de Floro Bartolomeu escalaram a trincheira, ultrapassaram o fosso, esgueiraram-se pelo solo e, protegidos por trás de pedras e de um espesso bambuzal, deram bom-dia aos homens de Ladislau em 22 de janeiro, quinta-feira, com tiros quase à queima-roupa. A debandada foi geral. A tropa recuou como pôde, trocando tiros e arrastando o canhão que passara a ser um fardo inútil, mas cujo simbolismo recomendava não deixa-lo cair na mão do inimigo.

De quando em vez, ouvia-se o brado:

"Viva Franco Rabelo!"

Os soldados se aproximavam desordenadamente, julgando que reforços estavam chegando. Mas eram novamente surpreendidos pelos jagunços e romeiros, que na verdade os atraíam para ciladas e depois urravam o verdadeiro grito de guerra:

"Viva o Padim Ciço!"

Seguia-se a saraivada de balas. Nem mesmo quando conseguiam livrar-se temporariamente do contra-ataque e se acantonavam em algum lugar próximo, os homens de Ladislau tinham algum instante de sossego. Encurralados , assistiam terrificados às chuvas de objetos estranhos que caíam sobre o acampamento improvisado. Eram contas de rosário, pedaços de chifres de animais e lascas de velas derretidas lançados em disparos de bacamartes sobre eles.

"Segura isso, soldado do Cão!", gritavam os jagunços.

"Toma, macaco do Rabelo!", ouvia-se.

Aquilo assustava mais do que o barulho do tiro. Os soldados ficavam apavorados com a mandinga e fugiam para o fundo do mato.

Às 11 da manhã, um ainda ressacado major Ladislau conseguiu reunir a tropa – ou o que restara dela – e logo depois ordenou a retirada em direção à cidade de Barbalha. Os oficiais quiseram saber se ele não se enganara, se a ordem não seria dirigir a coluna de volta para o Crato. Ladislau gritava que não, com os olhos vermelhos e esbugalhados. O destino era mesmo Barbalha. Não iriam prosseguir o cerco. Estavam batendo em retirada definitiva. Era chegada a hora do salve-se quem puder.

Em Barbalha, o major subiu numa calçada mais elevada e falou aos homens que o haviam acompanhado:

"Camarada, é triste confessar; mas o padre Cícero ganhou a guerra."

Ao ouvirem aquelas palavras da boca do comandante, os soldados começaram a despir as fardas e as empilharam no chão.

Ladislau deu-lhes um último conselho:

"Deus é grande, o padre Cícero é maior. Mas o mato é maior ainda do que os dois juntos. Cada um cuide de si e ganhe o matagal.""
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Trecho escrito por Lira Neto e extraído do livro Padre Cícero: poder, fé e guerra no sertão (Companhia das Letras, 2009).

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terça-feira, 21 de janeiro de 2014

'O Poderoso Chefão 2' (F. F. Coppola)



Grifo nosso # 72

O Poderoso Chefão 2 (The Godfather: Part 2, Francis Ford Coppola, 1974)

"'Mantenha os seus amigos por perto, mas os seus inimigos ainda mais perto'. O tempo e mais dois filmes destacariam o desespero e niilismo da saga de O poderoso chefão. Esta continuação do original marcante de 1972 é uma parte essencial, 'assombrada', como queria o diretor e roteirista Francis Ford Coppola, 'pelo espectro' do primeiro filme. Não deixa de ser irônico, considerando-se que Coppola quase foi demitido das filmagens do original — e estava tão preocupado com a sua situação financeira que ficou trancado em um quarto de hotel preparando o roteiro de O Grande Gatsby quando O poderoso chefão estreou. Depois do enorme sucesso do filme, a Paramount queria tanto uma continuação que lhe fizeram uma oferta irrecusável: além de receber uma boa participação nos lucros, também teria controle artístico completo.

O poderoso chefão 2 ganhou seis estatuetas do Oscar — inclusive o único prêmio de Melhor Filme, jamais concedido a uma continuação — e é mais sombrio, mais profundo e possivelmente ainda mais envolvente em sua elaboração de como a corrupção gerada pelo poder resulta em uma completa decadência moral. As cenas, os padrões e os temas refletem deliberadamente o original, mas a parte 2 é mais triste e sentida em uma escala muito maior, com seu entrelaçamento complexo de períodos de tempo e os paralelos e contrastes entre os dois Corleones, Vito (Robert De Niro) e Michael (Al Pacino). Dessa vez apresentando uma visão claramente negativa sobre a Máfia, Coppola explora as duas gerações conforme Michael ascende em termos de poder e controle e afunda em um círculo de melancolia, crueldade e traição.

As celebrações da família são novamente centrais: o filme começa nos anos 50, na suntuosa festa na casa de campo em Lake Tahoe de Michael e Kay (Diane Keaton) para comemorar a crisma de seu filho Anthony. Aprendemos que o grande plano de legitimar o negócio da família Corleone prossegue, e Michael agora gerencia seus interesses criminosos indo de Nevada a Cuba. Michael está abalado por problemas em casa, pela vigilância por parte do governo, bem como pelas ameaças apresentadas tanto por rivais quanto por parceiros — inclusive o altamente influente diretor do Actor's Studio, Lee Strasberg, que faz a sua estreia no cinema aos 71 anos, como Hyman Roth — que vêem com maus olhos o expansionismo de Michael.

Entrelaçada com o progresso de Michael, temos a história (tonalizada em sépia) de seu pai, batizado como Vito Andolini, que acompanhamos na virada do século em Corleone, na Sicília, onde uma vendeta sangrenta faz dele um órfão, um emigrante fugitivo e depois um perplexo detento na ilha de Ellis. Anos mais tarde, no Lower East Side de Nova York, o silencioso Vito ressurge como um balconista de armazém e homem de família — De Niro, recém-saído de Caminhos perigosos, de Martin Scorsese (1973), brilhantemente recriando a caracterização de Brando no primeiro filme como um jovem e ganhando o seu primeiro Oscar. Ele observa o poder que o temido chefão local possui e secretamente, sem remorsos, se apodera dele. Respeitado e próspero, retorna a Corleone para ajustar contas antigas enquanto prepara uma herança para seus filhos.

Também este filme está cheio de personagens elaboradamente compostos e grandes sequências — a festa religiosa no bairro de Little Italy, a revolução do Ano Novo em Havana. Contudo, é a última cena de O poderoso chefão 2 que continua nos impressionando, com a sua imagem cortante de Michael, os seus pecados acumulados para além de qualquer redenção, sozinho."
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Estados Unidos (Paramount, Coppola) 200 minutos. Technicolor; idiomas: inglês / italiano; direção: Francis Ford Coppola; produção: Francis Ford Coppola, Gray Frederickson, Fred Roos; roteiro: Francis Ford Coppola, Mario Puzo, adaptado do livro de Mario Puzo; fotografiaGordon Willis; músicaCarmine Coppola, C. Curet Alonso, Nino Rota; elenco: Al Pacino, Robert Duvall, Diane Keaton, Robert De Niro, John Cazale, Talia Shire, Lee Strasberg, Michael V. Gazzo, G. D. Spradlin, Richard Bright, Gastone Moschin, Tom Rosqui, Bruno Kirby, Frank Sivero, Francesca De Sapio; Oscar: Francis Ford Coppola, Gray Frederickson, Fred Roos (melhor filme), Francis Ford Coppola (diretor), Francis Ford Coppola, Mario Puzo (roteiro), Robert De Niro (ator coadjuvante), Dean Tavoularis, Angelo P. Graham, George R. Nelson (direção de arte), Nino Rota, Carmine Coppola (música); Indicação ao Oscar: Al Pacino (ator), Michael V. Gazzo (ator coadjuvante), Lee Strasberg (ator coadjuvante), Talia Shire (atriz coadjuvante), Theadora Van Runkle (figurino).
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Angela Errigo, no livro 1001 filmes para ver antes de morrer (Editora Sextante, 2008).

FestExcesso: festa com muito funk-eletro-brega em Juazeiro



"Treme. Treme. Treeeme.
Para um festival de Cinema que tem filmes em excesso, a proposta da festa é EXCEDER.

Teremos muita música na pista numa tresloucada mistura de funk-eletro-brega que juntará Reginaldo Rossi, Diana, Odair José, Gaby Amarantos, Valesca Popozuda, João do Morro, Banda Uó, Tanga de Sereia, Karol Conka, Belchior, Sergio Mendes, Gang do Eletro e muito, muito, muito mais. E com a participação do DJ Iago Marinho!

O evento está sendo promovido pelo Grupo de Estudos SÉTIMA de Cinema e tanto irá comemorar o sucesso da MOSTRA 21 (BIOSFERA XXI: O PODER E O CAPITAL) quanto servirá também para angariarmos fundos para mais projetos de cinema em nossa região.

E por isso, e só por isso, cobraremos a bagatela de 15 reais pra entrar!

Ao longo da semana, estaremos vendendo os ingressos nas sessões de filme ou diretamente com os integrantes do Grupo de Estudos. Também poderá comprar na entrada da festa.

Preparem-se para se despir do moralismo e se atirar no fogo da FestExcesso, que vai acontecer na Rua Pedro Henrique de Souza, nº 222, no Parque São Geraldo. No Juazeiro do Norte.

Traje brega! Ouse no visual! (sinopse da divulgação do evento)
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FestExcesso
Onde mais é mais e menos é menos!
Sábado, 25 de janeiro de 2014, 22h
Na Rua Pedro Henrique de Souza, 222 (Parque São Geraldo, Juazeiro do Norte)
Vai tocar: Funk-Eletro-Brega
Entrada: R$15,00
Traje: brega.
+ info.: (88) 9668.6480 / 9905.9506 / 8814.9118.

Página do evento no Facebook: https://www.facebook.com/events/459978804108618

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Em Juazeiro: encenações da comédia dramática 'A Confissão'



Espetáculo A Confissão
Uma comédia dramática dirigida por Walter Lima Jr.
Com Ângelo Paes Leme, Silvio Guindane e Isabel Gueron
Sexta, 24 de janeiro, e sábado, 25 de janeiro de 2014, às 20h
Local: Memorial Padre Cícero
Vendas de ingresso: Skyler e Mahogany (Cariri Garden Shopping)
+ info.: (88) 8858.1708 / 8881.7921 / 9988.1352.

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Marguerite Duras: narrativa erótica e poética



por Amador Ribeiro Neto

Uma mulher e dois homens. Mais um triângulo amoroso na infinita geometria das relações humanas? Sim, se o triângulo não fosse montado pela genialidade absolutamente avassaladora de Marguerite Duras em Olhos azuis cabelos pretos (trad. Vera Adami).

A novela de Duras é apresentada como "um amor impossível entre um homossexual e uma mulher", tendo ao fundo a figura de um jovem estrangeiro — o de olhos azuis e cabelos pretos. O jovem que passa pela vida dos dois num relance. E retorna pelas seguidas invocações da memória.

Se o leitor opta por esta via temática vai debater-se nos ângulos solitários e esvaziados do triângulo amoroso. Duras reduz a condição humana a estilhaços de corpos que não cabem em si. E explodem no nada da existência. Nesta antiperspectiva a novela derrapa e muito pouca coisa tem a dizer. Não é objetivo da autora mergulhar na psicologia das personagens, nem tecer um painel social das mesmas.

Duras tira de letra tratados sobre homo/hétero/bissexualidade. Sabe (e como sabe) que a matéria da literatura não é o assunto, mas a linguagem. Ou, para evitar as dicotomias forma/conteúdo que tanto aperreiam quem lida com literatura, podemos dizer que para a autora a linguagem é o assunto da literatura.

A linguagem como assunto da literatura — um belo princípio que o nouveau roman radicalizou com maestria. Principalmente na figura de Marguerite Duras.

Aqui tocamos a linha dorsal (estrutural) de Olhos azuis cabelos pretos: um texto, antes e acima de tudo, poético. Poético na construção das imagens, nos cortes sintáticos, no ritmo denso e sedutor.

Lê-se esta novela como se lê um longo poema de T.S. Eliot – "The waste land", por ex. Como assim? Sob o sol dos objetos, das cenas, das personagens anônimas em close contínuo. Ao compasso das imagens paratáticas (uma ao lado da outra, justapostas) imprimindo uma lentidão de coito amoroso à narrativa. Imagens do silêncio que se movem entre pausas. Cena de cinema. "Mise en scène" do amor.

O amor movido pela dúvida de personagens sem nome: ele/ela/ele entrelaçam as pontas do triângulo. A falta de definição das personagens, dos cenários, das falas conduz a um campo de luz e sombra absolutos.

O sol, o verão, o branco das roupas, o amarelo-ouro. O pano preto, à noite. Tal como se apresenta, a bipolaridade nos remete às duas narrativas marcadamente delineadas: a marcação teatral (instruções para uma possível representação cênica) e a ação propriamente dita (o campo das personagens). Mas também nos remete ao par junguiano anima/animus. Mas em Duras, sem psicologismos — como já vimos. E, semelhantemente à pintura impressionista, dando pinceladas em um todo que só se entrega à distância.

É preciso estar à distância para que se veja melhor "Olhos azuis..." Como tudo aqui está no mundo do possível e jamais do provável (melhor dizer, do comprovável), o leitor, aceitando as regras poéticas do jogo de Duras, pode ir colhendo índices do texto que remetem à unicidade da personagem. Sim, é provável que não tenhamos três personagens mas apenas um sujeito que se desdobra para melhor construir sua identidade. Que tal ler a novela por aí? É algo a se pensar.

Há textos que permanecem na memória por muito e muito tempo depois de lidos. Ficam como uma sensação de qualidade inominável. Algo que caminha conosco e irrompe na memória nos momentos mais inusitados. Para nosso deleite, susto, surpresa, alegria e medo. Um copo de cólera, de Raduan Nassar, é um deles. Olhos azuis cabelos pretos é outro. "Como um gozo sufocante". Danado de belo e denso e uno e arasador.

Absolutamente genial, é capaz de nos remeter ao cerne da palavra numa viagem orgasmaravalha. E aqui cabe destacar a propriedade e a delicadeza da tradução de Vera Adami, sempre poética. Deixando o texto de Duras ser e estar, sem mais nem menos. Coisa rara.

Com Olhos azuis cabelos pretos Marguerite Duras chega para arrasar. Em 115 páginas de deslumbramentos. Imperdíveis.
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Amador Ribeiro Neto é poeta, crítico literário e de música popular. Doutor em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Professor do curso de Letras da UFPB.

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