terça-feira, 28 de janeiro de 2014

'Cousa estranha', soneto de Patativa do Assaré

Embalado pra viagem # 97

Cousa estranha

Esta noite, já quase madrugada,
No silêncio melhor de toda gente,
Despertei do meu sono inocente
Pelo doido ladrar da cachorrada.

E fiquei a dizer: não devo nada,
Criminoso não sou, vivo contente.
Quem me vem perturbar, tão insolente,
O repouso feliz desta morada?

Me fugiram os pulsos, pois sou fraco
E lembrei-me de gato, de cassaco
E raposa, mexendo no poleiro.

Porém logo notei estranha coisa:
Nem cassaco, nem gato, nem raposa.
Era um vice-prefeito em meu terreiro.
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Patativa do Assaré em Cante lá que eu canto cá: filosofia de um trovador nordestino (15 ed., Editora Vozes, 2008).
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