quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Truffaut e o cinema como poesia e deslumbramento do mundo



por Elandia Duarte

«De certa forma o diretor faz amor com a câmera». Essa afirmação do cineasta francês François Truffaut reflete bem sua maneira de ver e fazer cinema. Cineasta que desde criança viu surgir seu amor pela sétima arte, muitas vezes matando aula e usando o dinheiro do lanche para ir a sessões, ou mesmo entrando nelas de forma clandestina, fato este que, segundo o mesmo, o distanciou da educação escolar, mas o aproximou do mundo poético e mágico do cinema, contribuindo para posteriormente torná-lo não apenas um realizador, mas também um ávido leitor e crítico.

Nos seus trabalhos e em suas entrevistas ressalta sempre o amor ao cinema como forma de ver o mundo de maneira diferenciada, «mais bela e poética. Pois há sim bastante beleza no mundo». Chega mesmo a dizer que o cinema quase lhe salvou a vida: «...com o tempo percebi que, para mim, o cinema foi mais que um refúgio. Atualmente não há mais qualquer dúvida quanto ao aspecto neurótico do meu amor pelo cinema. No passado, eu não percebia, não tinha consciência desse fato, que hoje me parece evidente. Ao mesmo tempo é algo tão íntimo e pessoal que tenho dificuldade de falar a respeito. Eu chegaria quase a dizer que o cinema me salvou a vida...»

Neste sentido, pensar o cinema com Truffaut é pensar além da técnica, da montagem, do jogo de câmera, sem, no entanto, negar a importância destes elementos para construção da beleza do filme. Pensar o cinema truffautiano é pensá-lo através de um olhar poético, detalhista e ternamente belo.

Em seus 21 longas-metragens e em seus quatro curtas, o amor pelo cinema merece destaque com personagens que muitas vezes têm no cinema uma fuga, um auxílio, um alívio da realidade. Truffaut busca nos levar ao profundo envolvimento com a película. Afirmado que só realizou os filmes que quis, em todos eles transparece seu relacionamento amoroso com a câmera e a vontade de que nos envolvêssemos junto com ele nas imagens captadas. «Fazemos um filme pelo nosso prazer e na esperança de que o público queira compartilhar dele».

Falar de François Truffaut é sem dúvida falar de um grande diretor, que além de grande admirador, leitor e adaptador de obras literárias para o cinema, foi um grande cinéfilo. É falar também de alguém que viu no cinema mais que um trabalho, viu ali sua maneira de melhorar o mundo, com poesia, beleza e imagens. 
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Elandia Duarte possui graduação em pedagogia pela Universidade Regional do Cariri (2008) e Especialização em Arte/Educação pela mesma Instituição. Atualmente professora colaboradora no projeto de pesquisa intitulado: O papel da iniciação científica na formação dos estudantes de pedagogia da URCA. Atuando principalmente nos seguintes temas: Leitura/Educação, Arte/Educação e Formação de Professores e pseudopoeta.

Texto originalmente publicado na SÉTIMA: Revista de Cinema (edição 04, de 02 de outubro de 2013), que é distribuída gratuitamente na Região do Cariri cearense. A Revista Sétima é uma publicação do Grupo de Estudos Sétima de Cinema, que se reúne semanalmente no SESC de Juazeiro do Norte-CE.

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