quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

O nobre Ribamar



Do papel # 26

Hoje compartilhamos um texto de Cecilia Sobreira sobre o Príncipe Ribamar, publicado na Revista Geral (número 16, de abril de 2013). Para ampliar a página da revista, clique na imagem abaixo.
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O nobre Ribamar
por Cecília Sobreira

Era uma vez, no árido sertão nordestino, um homem que virou príncipe. Seu nome era Joaquim Gomes Menezes, nascido e criado em Juazeiro do Norte, excelente carpinteiro e uma pessoa de bom coração. Certo dia, veio ao seu encontro, uma jovem mulher, muito bem vestida, dizendo-se princesa. No meio de sua conversa, proposta de casamento e um mundo de nobreza.

Daquele dia em diante, Joaquim ele deixou de ser. Aos poucos abandonou sua profissão e tudo o mais que o ligava ao mundo dos plebeus. Encomendou novas e galantes vestimentas, ganhou identidade real e, por anos, alimentou a ideia de ser um príncipe: Príncipe Ribamar da Beira Fresca. Assim ele circulava pela cidade, imponente, sempre com uma maleta à mão.

A princesa nunca mais voltou, mas vez por outra, chegavam às mãos do príncipe, cartas escritas por uma certa Princesa Gioconda, do reino da Eslóvia.

Uma dessas cartas dizia que estava sendo enviada pela corte real grande quantia em dinheiro para ser entregue ao Príncipe Ribamar, o que causou considerável transtorno entre o príncipe e o gerente do banco local.

Apesar de muitos duvidarem de sua nobreza, Príncipe Ribamar era  querido pelas pessoas da cidade, sendo figura constante nos palanques em dias de festa. Seus planos e projetos eram dos mais grandiosos e criativos, como desviar o curso do rio que passava pela cidade de Barbalha, para que este fizesse parte do município de Juazeiro do Norte. Também fez a planta de um prédio que deveria ser construído no subterrâneo da serra do Horto, para que não fosse alagado quando o Rio Jordão (na realidade Rio Salgadinho) desencantasse.

Príncipe Ribamar morreu sem conseguir construir as fábricas (de fazer fumaça ou desentortar banana) ou criar a cavalaria marítima que planejava. Também nunca soube que a Princesa Gioconda não passava de uma brincadeira ocorrida no carnaval, assim como a identidade real da mesma, ou a autoria das tão famosas cartas. Mas, como todo príncipe que se preze, sua morte foi notícia de jornal e hoje existe uma rua com seu nome. Provavelmente nunca mais ouviremos falar de um príncipe juazeirense com sangue azul real lavável.
Cecilia Sobreira 
(Revista Geral, abril de 2013)
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Confira outras postagens no blog sobre o Príncipe Ribamar:
- Príncipe Ribamar, o sonhador de Juazeiro
- Dois sonetos em homenagem ao Príncipe Ribamar
- Foto rara do Príncipe Ribamar


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