sábado, 15 de fevereiro de 2014

'Terra Estrangeira' e 'Central do Brasil': estranhamentos



por Débora Costa

Os dois filmes que vão ser tratados nessa coluna trazem como mote o “estranhamento”, são eles: Terra Estrangeira e Central Brasil. Os dois road movies são dirigidos por Walter Salles, sendo o primeiro com a co-direção de Daniela Thomas. Ambos trazem uma complexa protagonista feminina, com a atuação de Fernanda Torres (Alex) em um filme e, no outro, Fernanda Montenegro (Dora).

Em 1996, Terra Estrangeira trouxe Alex, uma personagem que foi para o exterior com o namorado em busca de um futuro melhor. Outra personagem que acaba cruzando seu caminho é o Paco, que sai do país por causa da morte de sua mãe e de seus sonhos, em busca de uma esperança para sua vida. Indo de encontro ao desconhecido, as personagens se deparam consigo mesmas, seja na relação com o país estrangeiro, seja com as outras pessoas.

Dois anos depois, veio o filme Central do Brasil, com esse mesmo clima de fuga, no qual Dora sai do Rio de Janeiro para o interior do Brasil, num trajeto inverso da busca de uma vida melhor feita por tantos brasileiros, acompanhada de Josué, um garoto que busca encontrar um elo com um pai que nunca conheceu. Dora resolve ajudar o garoto a encontrar sua identidade, e nesse processo ela também acaba se resgatando, assim como as personagens de Terra Estrangeira.

Nos longas, várias situações são compartilhadas: sentir-se deslocado; tentar sobreviver; esperança de mudanças; choque de valores; apego ao passado; nacionalismo. As personagens passam por situações emocionantes em que seu interior é colocado em cheque em momentos tensos de conflitos externos.

Em contextos e com personagens diferentes, os filmes fazem quem os assiste se questionar sobre a visão de fora de onde se está e do interior de si mesmo, demonstrando que o desconhecido pode estar dentro de cada um de nós. Uma possível conclusão: podemos nos reconhecer nesse contato com o estrangeiro, com o que nos é estranho, com o Outro. 
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Débora Costa: uma feminista que cursa Direito, participa do P@je e que gosta que só de filmes.

Texto originalmente publicado na SÉTIMA: Revista de Cinema (edição 05, de 09 de outubro de 2013), que é distribuída gratuitamente na Região do Cariri cearense. A Revista Sétima é uma publicação do Grupo de Estudos Sétima de Cinema, que se reúne semanalmente no SESC de Juazeiro do Norte-CE.

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