sexta-feira, 28 de março de 2014

Cláudio Assis, do Pernambuco para o mundo...



por Samuel Macêdo

“eu comecei de antes, confeccionando fotogramas...”

O cineasta que iniciou sua carreira produzindo curtas-metragens, ganha fama internacional com seu primeiro longa, Amarelo Manga (2002). Nascido na cidade de Caruaru, agreste do Estado de Pernambuco, Cláudio Assis entra em contato com o audiovisual mediando cineclube e atuando como ator, ambos trabalhos na capital, Recife. As desigualdades sociais e os dramas das relações cotidianas são características marcantes da obra do diretor, premiado nos festivais de Berlim, Lisboa, Havana e em alguns Estados brasileiros.

A cultura pernambucana compõe a áurea da filmografia de Cláudio Assis. Baixio das Bestas (2006), seu segundo longa metragem, tem como temática a violência sexual e o machismo, realidade presente no país e bem marcada em Pernambuco. “É papel do cinema denunciar, sim”. Além de trazer conflitos não tão habituais para as telas do cinema brasileiro, o diretor acredita em um cinema engajado com os problemas sociais, por acreditar que através dessa postura pessoal e política, o espectador seja convidado a refletir sobre os atuais problemas da sociedade.

Febre do Rato (2011) é o primeiro longa em preto e branco do diretor. A própria expressão que popularmente significa inquietude, já mostra a intenção do filme e da direção. Cláudio Assis é considerado um dos grandes nomes do cinema autoral brasileiro, trazendo temas como sexo e violência e sendo sempre acompanhado de atores como Matheus Nachtergaele e Dira Paes, ambos com carreira consolidada na TV e no cinema. As cenas de sexo explícito e demais necessidades humanas ainda chocam o público romântico brasileiro.

Tendo sua produção caracterizada pelo baixo orçamento, recentemente o diretor enfrentou uma nova polêmica.  Seu novo filme, intitulado Big Jato, baseia-se no livro homônimo do jornalista cearense Xico Sá e foi contemplado pelo edital de apoio a filmes de baixo orçamento do Ministério da Cultura, com o valor de até R$ 1,2 milhão por projeto. Segundo as regras, o cineasta só poderia somar mais R$300 mil ao montante. Através do Programa de Fomento à Produção Audiovisual de Pernambuco, Claudio Assis irá receber outros R$ 467 mil, porém para utilizar os dois valores, R$ 167 mil seriam abatidos pelo Minc. Por considerar arbitrária a postura do Ministério, o filme que começaria a ser gravado nesse segundo semestre foi temporariamente cancelado por Cláudio Assis.
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Samuel Macêdo é formado em Comunicação Social (Jornalismo) pela UFCA; mestrando em Cultura e Sociedade pela UFBA. Constrói coletivamente alguns projetos de extensão, como o GEMI (Grupo de Estudos de Gênero e Mídia) e o Cine Arte Clube (projeto itinerante que exibe curtas e documentários). Curte assuntos ligados a cinema, cultura, história e gênero.

Texto originalmente publicado na SÉTIMA: Revista de Cinema (edição 08, de 30 de outubro de 2013), que é distribuída gratuitamente na Região do Cariri cearense. A Revista Sétima é uma publicação do Grupo de Estudos Sétima de Cinema, que se reúne semanalmente no SESC de Juazeiro do Norte-CE.

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