quinta-feira, 3 de abril de 2014

Poemas para crianças



por Amador Ribeiro Neto

Criança é um público-alvo muito especial. Tratá-la como criança é o ideal. O diabo está no que se entende por “criança”. Nossa sociedade detém valores morais, familiares, religiosos e, principalmente tecnológicos, que transformam-se da noite para o dia. Difícil falar em planejamento hoje. A não ser em setores cuja marca seja o conservadorismo.

Ruth Rocha reuniu em Poemas que escolhi para as crianças (São Paulo, Editora Salamandra), poemas de poetas canônicos como Artur Azevedo, Casimiro de Abreu, Castro Alves, Cassiano Ricardo, Fagundes Varela, Gonçalves Dias, Olavo Bilac, Qorpo Santo...

Poetas contemporâneos reconhecidos como Arnaldo Antunes, Adélia Prado, Ana Maria Machado, Augusto de Campos, Carlos Drummond de Andrade, Ferreira Gullar, Joaquim Cardozo, José Lino Grünewald, José Paulo Paes, Manuel de Barros, Mário Quintana, Paulo Leminski, Vinícius de Moraes...

E poetas contemporâneos da novíssima geração como Alberto Martins, Cacaso, Chacal, Francisco Alvim, Frederico Barbosa, Lau Siqueira, Nelson Ascher, Pedro Bandeira, Péricles Cavalcanti, Renata Palottini, Ricardo Silvestrin...

E entre estes últimos, este resenhista que lhes escreve. Se omiti meu nome foi porque meu poema selecionado, “Falta água e falta”, teve sua autoria atribuída a outro poeta. Enquanto a editora não tomar as medidas legais, fica este meu registro.

O livro, com 160 páginas, farta e belamente ilustrado por nada menos que nove ilustradores, é dividido em nove sessões temáticas. Cada página é um deleite para os olhos que leem e veem. Leem os poemas e se deliciam com eles e com o trabalho gráfico.

O volume se espraia pelas mãos do leitor como um objeto de sedução: sua beleza vai da capa à última contracapa. Nada passou despercebido aos ilustradores, à organizadora Ruth Rocha, e à sua equipe de apoio.

Este é um livro que merece cuidadosas e reiteradas leituras. E nem é preciso enfatizar a importância da maioria dos poetas antologizados. Basta ver/ler o livro como sempre apregoou Décio Pignatari: “vler” num todo indissolúvel de saber, sabor e prazer.

Crianças e adultos vão se maravilhar, por exemplo, nas redondilhas maiores do poema que Bilac escreveu pra imagem da avó. As redondilhas tecem o clima da época, e ainda introduzem uma musicalidade advinda dos  tempos medievais.

“Canção do exílio”, de Gonçalves Dias, reintroduzido no universo das crianças, ganha um novo e  rico contexto, que  nos provoca a lê-lo para além  da ótica do estrangeiro. É um convite para todos cirandar.

“Forma” de José Lino Grünewald é um quase um game que hipnotiza as crianças nas várias telas, do smartphone ao iPad, passando pelo lap-top e chegando ao personal computer, entre outros.

“Os predadores da utopia”, de Lau Siqueira, “Valsinha” de José Paulo Paes, “Menina lendo”, de Frederico Barbosa, traz a poesia pro dia-a-dia de todos nós. Um volume  que veio pra agradar, ensinar e entreter. Poesia é isto.
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Amador Ribeiro Neto é poeta, crítico literário e de música popular. Doutor em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Professor do curso de Letras da UFPB.

Publicado pelo jornal Contraponto, de João Pessoa-PB. Caderno B, coluna “Augusta Poesia”, dia 28 de março de 2014, p. 7.

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