terça-feira, 30 de setembro de 2014

Cinema Marginal Brasileiro



por Yhago Shalys

O surgimento da câmera Super-8 está atrelado ao cinema marginal do final dos anos 60. Em meio à expansão do mercado consumidor (salas de exibição e espectadores), à transformação paulatina da produção autoral do Cinema Novo em uma indústria cinematográfica e à fundação da Embrafilme em 1969, houve a cisão do cinema brasileiro entre os remanescentes do Cinema Novo e o grupo chamado de Cinema Marginal. A nova câmera simbolizou o grito de independência dos diretores sem recursos.

O Super-8 é uma câmera – e uma técnica de filmagem – utilizada por vários cineastas e artistas nos anos 70. Seu uso e difusão surgiram como uma forma alternativa de produção cinematográfica. Os baixos custos e a agilidade na hora da realização e revelação do filme transformaram a câmera em uma das armas do Cinema Marginal brasileiro desse período.

Dois filmes em São Paulo: A Margem, de Ozualdo Candeias, um filme grotesco e irônico; e O Bandido da Luz Vermelha, de Rogério Sganzerla, que ganhou vários prêmios em festivais, definiram os moldes do que, futuramente, viria a se chamar "Cinema Marginal". Nesse período, vários movimentos fincaram suas raízes por aqui, com destaque para o Movimento Cultural Tropicalista, o Teatro Oficina e outros. Esse foi o solo fértil para o desenvolvimento do Cinema Marginal. Logo depois, diretores como Neville de Almeida, José Agripino de Paula, André Tonacci, Julio Bressane, Eliseu Visconti, Álvaro Guimarães lançam trabalhos com a mesma linha estética.

O modelo proposto pelos Marginais era um modelo de filme pobre, que questionava toda uma política cinematográfica e seu modelo padrão. As condições ideológicas da época (68-70) propiciaram que algumas dessas propostas antigas fossem reativadas de maneira mais contundente, sem o freio a que foram submetidas no começo da década. Havia grupos armados de esquerda e torturas físicas à tona com a repressão dos militares. Pregava-se uma contracultura, uma antiestética, toda uma rebeldia refletida na efervescência do movimento tropicalista e da vanguarda teatral (Teatro Oficina), inspirada na Pop Art novaiorquina.

A verdadeira rejeição ao cinema bem feito em favor da tela suja e a estética do lixo. Essa estética, segundo os autores, era "o estilo mais apropriado para um país do terceiro mundo, na medida em que possibilitava a transformação das sobras de um sistema internacional dominado pelo monopólio capitalista do primeiro mundo". Isto é, cada país faz a forma de arte que sua economia permite. Uma grande característica do Cinema Marginal é o uso de elementos estéticos urbanos, história em quadrinhos, propagandas, romances, meios de comunicação em massa (rádio e TV), jornalismo sensacionalista; o cinema em sua vertente consumista.
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Yhago Shalys é músico, poeta, colecionador e estudante de Psicologia.

Texto originalmente publicado na SÉTIMA: Revista de Cinema (edição 13, de 04 de dezembro de 2013), que é distribuída gratuitamente na Região do Cariri cearense. A Revista Sétima é uma publicação do Grupo de Estudos Sétima de Cinema, que se reúne semanalmente no SESC de Juazeiro do Norte-CE.

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