terça-feira, 16 de setembro de 2014

'Hamam - O Banho Turco'



por Verônica Leite

Um dia estou eu na sala de aula, quando escuto meu professor sugerir a um colega, um filme que me pareceu bastante interessante, devido a sua temática. Até então, nunca tinha assistido a um filme produzido nesse país e, com imensa curiosidade, parti para assisti-lo.

Haman ou O Banho Turco (título no Brasil) é um filme discreto que descreve a história de Francesco (Alessandro Gassman), um arquiteto italiano casado, que recebe a notícia que sua tia, que residia em Istambul, havia falecido e lhe deixado uma propriedade como herança. Sua relação conjugal vinha um pouco conturbada e fria, mas ele pede à sua esposa (vivida por Francesca d'Aloja) que viaje à Turquia e resolva tal situação. Com a recusa da mesma, ele, sem alternativa, viaja para Istambul e se depara com várias surpresas que vão mudar sua vida para sempre. Encanta-se pela culinária e pelo povo hospitaleiro, em especial, o filho (Mehmet Gunsur) do casal que o recebe.

Francesco, ao conhecer a propriedade, fica sabendo que a mesma era um antigo "Hamam". Encantado com o que vê, aprofunda-se na história familiar, a qual lhe faz mudar de opinião, não mais querendo voltar à sua vida medíocre na Itália. Maravilhado por Istambul e pela família que o recebe, Francesco agora queria reformar toda a propriedade e colocar o Hamam em funcionamento novamente, e isso faz com que sua esposa, ansiosa por uma separação, parta atrás de Francesco para resolver essa situação. Chegando lá, acaba descobrindo o que não queria... e agora, é ela que não deseja mais a separação. Mas um final triste faz com que ela também mude de ideia e fique em Istambul para que o Hamam realmente reabra.

Após o término do filme (dirigido por Ferzan Ozpetek) fiquei pensativa, questionando sobre as relações que temos com a nossa própria vida e com os que nos rodeiam, as importâncias e insistências por algumas coisas que pensamos não sobreviver sem elas. Da mesma forma que temos costumes culturais, temos emocionais. Deixamos que o medo do novo, da descoberta, nos aprisione, e quando resolvemos abrir as portas, pode ser tarde, assim como aconteceu com Francesco...

O Banho Turco é um filme delicado, com histórias e tabus familiares e religiosos que, de certa forma, retratam o cotidiano de algumas famílias que a gente já ouviu falar. Tem sua trilha sonora instrumental apaixonante. As interpretações feitas com uma sutileza na introdução da homossexualidade (que vem a ser recorrente nas obras do diretor).

Achei importante a abordagem cultural acerca de Istambul e os "hamams". E, quando estive na Turquia, tratei logo de ir conhecer um, queria sentir um pouco da sensação que tive ao assistir o filme e vi que aquele é um lugar ritualístico para a cultura do povo turco. O banho público a vapor foi herdado dos bizantinos que, por sua vez, foi herdado dos romanos. Sua importância ultrapassa os benefícios do relaxamento e bem estar, como em nosso mundo ocidental conseguimos com os spas. Nos hamams, os frequentadores se encontram para trocar confidências, fazer negócios, festejar a chegada de hóspedes queridos, importantes acontecimentos como os "arranjos" de casamentos e/ou outros tipos de relacionamentos.

A partir desse filme, tive a curiosidade de conhecer um pouco mais sobre a história do cinema turco, que não tem uma trajetória tão antiga, tendo seu apogeu a partir da década de 1950, ao redor da rua Yesilçam (que quer dizer Verde Pinho), que fica em Beyoglu – distrito de Istambul que é considerado a Hollywood, a Pinewood (Reino Unido) da Turquia.

As salas de cinema raramente exibiam projeções locais, e a maior parte da programação consistia de filmes das mais fortes indústrias do ocidente, em especial a dos Estados Unidos, França, Itália e Alemanha. A partir da década de 1970, período conturbado por diversos golpes de estado, o cinema começou a perder espaço para a televisão, produzindo menos filmes, caindo de 300 filmes para cerca de dois a três por ano na década de 1990.

Por identificação, comecei a assistir os filmes do diretor Ferzan Ozpetek, nascido em Istambul, mas que se mudou para a Itália para estudar cinema, naturalizando-se lá. É um cineasta que trata da temática gay na maioria de seus filmes. Sua estreia na direção foi com Hamam, lançado em 1997 e apresentado na 50ª edição do Festival de Cinema de Cannes. O filme conseguiu a façanha de ficar em cartaz durante um ano nos Estados Unidos.
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Verônica Leite Machado é enfermeira especializada em Estomaterapia e Bloco Cirúrgico. Estudante do Curso de Artes Visuais da Universidade Regional do Cariri (URCA), professora de Artes Visuais do Colégio Elit (Juazeiro do Norte) e bolsista do grupo de pesquisa O Prazer da Arte, no GPEACC (Grupo de Pesquisa de Arte em Contexto Contemporâneo, na URCA).

Texto originalmente publicado na SÉTIMA: Revista de Cinema (edição 13, de 04 de dezembro de 2013), que é distribuída gratuitamente na Região do Cariri cearense. A Revista Sétima é uma publicação do Grupo de Estudos Sétima de Cinema, que se reúne semanalmente no SESC de Juazeiro do Norte-CE.

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