domingo, 5 de outubro de 2014

Leon Hirszman: diretor engajado



por Elvis Pinheiro

Descendente de judeus poloneses que fugiram para a América por conta da opressão nazista crescente na Europa, Leon Hirszman desde a infância, no Colégio Israelita, acostumou-se a ser um crítico da sociedade e defensor dos ideais de Liberdade e Igualdade em qualquer lugar do mundo.

Quando analisamos o percurso trilhado por este cineasta carioca, podemos observar que todo o tempo ele esteve de acordo com um pensamento político de esquerda e de uma real e fiel proximidade com as lutas da classe trabalhadora. Seu primeiro trabalho no cinema foi como assistente de direção e continuidade num filme de Elzevir Pereira da Silva, Juventude Sem Amanhã (1958), e sua primeira experiência como roteirista, produtor e diretor foi com "Pedreira de São Diogo" (1962), um dos episódios do longa-metragem Cinco Vezes Favela, onde os trabalhadores de uma pedreira se unem contra as ordens de um capataz de detonar certo sítio que porá em risco as casas de uma favela.

Fervoroso defensor da causa cineclubista que o fez conhecer as produções de grandes cineastas, tais como Eisenstein, Jean Vigo, Jean Renoir, Chaplin, e dividido entre o documentário e a ficção, muitas vezes, os resultados obtidos com o primeiro alimentaram a criação de suas produções ficcionais. Dirigiu, ainda, muitos curtas-metragens que o mantiveram em atividade quando se via impossibilitado financeiramente para concluir longas.

Antes de dirigir a adaptação do romance de Graciliano Ramos, São Bernardo, realizou dois filmes: A Falecida (1965), baseado na obra de Nelson Rodrigues, e Garota de Ipanema (1969). O público não estava preparado para ver a história de uma jovem alienada e sem perspectivas e onde esperava ver glamour, encontrou forte crítica a um modo de vida burguês enfadonho e desencantado.

Foi durante a produção do documentário ABC da Greve (1979) que junto com Gianfrancesco Guarnieri começou a desenhar o projeto de seu filme de maior sucesso, Eles Não Usam Black-tie.

Leon Hirszman em todos os seus filmes acreditou que o Cinema era e deveria ser palco das discussões mais importantes da sociedade. Ele acreditava que questões como a do Petróleo, dos recursos mineiras, da Ecologia, dos operários e suas greves, do domínio das multinacionais nas decisões políticas seriam argumentos perfeitos para a produção de obras cinematográficas importantíssimas. Faltou-lhe recurso, liberdade e tempo para ver seus sonhos em película: muito jovem, antes de completar 50 anos, faleceu. Deixou-nos algumas obras inconclusas e uma diretriz quanto a tudo o que o cinema pode oferecer à sociedade além de simples diversão passageira.
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Elvis Pinheiro é editor da Revista Sétima e professor. Desde 2003 é Mediador de Cinema no Cariri cearense.

Texto originalmente publicado na SÉTIMA: Revista de Cinema (edição 14, de 11 de dezembro de 2013), que é distribuída gratuitamente na Região do Cariri cearense. A Revista Sétima é uma publicação do Grupo de Estudos Sétima de Cinema, que se reúne semanalmente no SESC de Juazeiro do Norte-CE.

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