sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Entrevista com o 'brega star' Falcão na Revista Bizz de outubro de 1994



Do papel # 29

"10 + 1 perguntas para Falcão": entrevista com o brega star cearense Falcão, publicada na revista Bizz 111, de outubro de 1994. À época, o cantor-galã divulgava o disco Dinheiro Não é Tudo Mas é 100%. Para ampliar as páginas da revista, clique nas imagens.
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10 + 1 perguntas para Falcão
Uma grande dificuldade ao se entrevistar Marcondes Falcão Maia, um cearense nascido em Pereiro há 36 anos, é perceber quando ele fala a verdade ou parte para a gozação. Falcão dispara suas frases malucas ao mesmo tempo em que entra num papo sério. O cantor nordestino e símbolo sexual ataca as paradas com seu disco O Dinheiro Não É Tudo Mas é 100%, entoando letras “sábias”, como “Prometo Não Ejacular Na Sua Boca” ou transformando a brega “Fuscão Preto” em “Black People Car” num inglês “shakesperiano”. Falcão, que digamos, não é o Keanu Reeves,  se diz assediado pelas mulheres e quer se eleger presidente do Brasil pelo PCB do B (Partido dos Cornos e Bregas do Brasil)

1 - Como nasceu O Dinheiro Não é Tudo Mas É 100%?
FALCÃO - Eu estava saindo da Continental [onde fez Bonito, Lindo e Joiado, em 1991] e decidi bancar meu próprio disco. Até que um dia o Fagner apareceu e disse: “Vou te levar para a BMG-Ariola”. Ele chamou o Robertinho do Recife para a produção e até hoje não sei por que eles caíram na besteira de fazer isso. O título saiu da esculhambação geral que acontece no Brasil. Se tivesse o real na época em que pensei no disco, eu sairia com um real na capa. Vale mais.

2 - Estão surgindo muitos valores humorísticos que são cearenses. Além de você há o Tom Cavalcante, Zé Modesto (ambos da Escolinha do Professor Raimundo). Existe algum tipo de Clube dos Bregas?
O Ceará hoje em dia vive uma onda de bregas. Eu sou mais pelo lado musical, mas há pessoas de teatro e de televisão fazendo isso. Há outros que fazem música, como Lailtinho Brega, que canta bregões clássicos. Sobre o Zé Modesto, eu costumo chamá-lo de “irmão do Falcão”.

3 - Como foi a história de você se candidatar a presidente?
Eu tenho um partido chamado PCB do B (Partido dos Cornos e Bregas do Brasil) e me candidato em tudo que é eleição. Fui candidato a rei, a prefeito de Fortaleza e agora a presidente. Sou uma alternativa para essa verdadeira legião de cornos e bregas desse meu Brasil. Eles já têm em quem votar.

4 - Qual sua plataforma de governo?
Primeiro, vou lançar a Declaração de Direitos do Corno. Diz que todo corno tem direito de ser tratado como gente. Inclusive tem um lema entre a gente, que agora foi redigido numa linguagem mais técnica: “toda penalidade imposta a um ser humano do sexo masculino cuja fidelidade conjugal tenha sido abruptamente subtraída, mesmo assim ainda é ineficiente”. Resumindo: todo castigo pra corno é pouco.

5 - Os cornos terão uma espécie de sindicato?
Pretendo fazer uma Confederação do Corno. No meu governo, ele vai ser legalizado e vai virar um “estado de espírito”. Podemos colocar no registro civil do sujeito, na carteira de identidade que ele é corno. Isso vai facilitar a vida da pessoa. Se o cidadão chega numa empresa procurando emprego e o chefe também é corno, é lógico que ele terá prioridade.

6 - Em quem você se inspirou para escrever “As bonitas que me Perdoem mas a feiúra é de lascar”? Na letra dessa música você diz que um analista pediu para que você o comesse. Como é essa história?
Depois que eu reacendi a carreira de Waldick Soriano com “I’m not dog no”, eu sonhei com Vinicius de Moraes. Ele se queixava para mim que a obra dele andava esquecida. Pensei em fazer uma música em francês, mas escrevi uma letra original, parafraseando a famosa frase do Vinícius. Agora o analista: como sou um cara fisicamente muito cobiçado, tenho muitos fãs — que chamo carinhosamente de “falconetes”. Esse analista “anda de marcha a ré”, gostou da personalidade e me queria de qualquer maneira. Mas eu dei um jeito de deixar ele na mão.

7 - Você acha que as pessoas que ouvem o seu disco ficam mais inteligentes?
Claro! É um disco didático, feito para ensinar as pessoas através do humor e da irreverência. Faço uns bolerões, umas valsas para o povão. Eles acham que sou um Frank Sinatra, um Julio Iglesias, querem me rasgar todo. Devo perder umas trinta cuecas por mês. E os jovens gostam de mim porque, apesar de não ser roqueiro, eu tenho uma certa irreverência — marca registrada no rock.

8 - E o que você achou do Ciro Gomes assumir o Ministério da Fazenda?
Acho bom. Só estou me escondendo porque tenho medo que ele me chame para ser assessor dele. Dizem no Ceara que ele anda me procurando. O Ciro Gomes é um cara novo, não tem rabo preso e vai fazer uma boa administração.

9 - Uma das suas grandes características é a “dança do jegue”, não?
Foi uma dança que eu inventei baseada nos movimentos sensuais do jegue. Mas eu observei de longe, porque eu não sou bobo de ficar espiando um jegue excitado de perto.

10 - O Falcão hoje em dia faz sucesso no mundo todo?
Sem dúvida. Inclusive o Paul McCartney entrou em contato comigo para fazermos os New Beatles. Era eu, ele, Agnaldo Timóteo e Genival Lacerda. O projeto só não deu certo porque houve ciumeira por parte da Linda McCartney.

+ 1 - Sendo uma figura tão desejada, sua mulher não tem ciúmes de você?
Não, ela já sabe administrar essa criatura aqui. Ela sabe que isso é coisa de um galã como eu.
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"Dinheiro não é tudo mas é 100%", música do álbum homônimo de Falcão, de 1994:

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