quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Jackson Bantim



por Márcio Silvestre

Jackson Oliveira Bantim, popularmente conhecido como “Bola”, é um diretor de cinema da região do Cariri cearense. Trabalha há mais de quarenta anos com cinema e herdou o gosto pela sétima arte do seu bisavô, Luiz Gonzaga de Oliveira, conhecido como Gozaguinha, que era fotógrafo profissional, ator de teatro e exibidor de filmes, e atuou nessas áreas entre 1885 e 1930, na cidade de Crato. Bola já foi de «assistente do assistente de direção» a diretor de filmes e compartilhou com a equipe da Revista Sétima um pouco das suas experiências.

Desde os anos 70, ainda em super 8 (cartuchos de 3 minutos) tentava suas primeiras filmagens, ao lado de amigos como Luiz Carlos Salatiel e Rosemberg Cariry. Depois de filmados os cartuchos eram mandados para o Rio de Janeiro, onde eram revelados. Após um mês eles os recebiam de volta e só então sabiam se a filmagem tinha prestado ou não.

Bola lembrou-se de uma experiência engraçada que viveu em Santana do Cariri, quando tentava filmar com os amigos o seu primeiro documentário sobre a região:

“Meu pai tinha um Maverick, imitação de um carro americano de muito sucesso na época, que ele tinha comprado na Expocrato. Salatiel, Rosemberg e eu pegamos o carro e fomos à serra de Santana, lá chegando secamos um pouco os pneus e cavamos a areia com a enxada para ajeitar a estrada. Rosemberg empurrava o carro enquanto eu ficava em cima com a câmera filmando a região. Na volta, ao colocar o equipamento no carro não deu muito certo, tivemos que pegar uma bomba em Assaré para encher os pneus e voltar para casa”.

Depois dessas experiências autônomas, recebeu um convite de Jefferson de Albuquerque (cineasta cratense que na época tinha acabado de chegar do Rio de Janeiro, onde foi diretor de arte do filme Eles Não Usam Black-tie) para ser ajudante do filme O Padre Cícero, do diretor Helder Martins (primeiro cineasta cratense a trabalhar com filmes em 35 milímetros). Helder Martins deu a Bola a função de Assistente do Assistente de Direção. “Essa foi minha primeira participação em um filme de grande repercussão. O cargo não era lá essas coisas, mas eu estava lá”, comenta Bola.

O filme O Padre Cícero contava com um elenco global, entre eles estavam Jofre Soares e Cristina Aché, foi gravado em várias cidades da região, mas a maior parte foi em Rosário. “Inclusive muitas pessoas morreram de ódio dessa equipe de cinema e do governador César Cals, na época, que mandou tirar todos os postes da cidade para simbolizar o Juazeiro Antigo. Após dois meses todos foram embora e a cidade ficou mais seis meses sem energia, ninguém podia mais passar por lá, que diziam ‘lá vem os caras do filme, pega eles’, foi então que os jornais começaram a falar e o governador pôs os postes de volta”, lembrou-se Bola.

Dentre outros trabalhos no cinema, Bola foi produtor em Músicos Camponeses, de Jefferson Albuquerque Jr.; Lua Cambará, de Ronaldo Correia de Brito (primeira versão de 1977/78); e Lua Cambará, de Rosemberg Cariry.

Como diretor, Bola preza por colocar aspectos do Cariri em seus filmes. Em As Sete Almas Santas Vaqueiras ele valorizou a parte histórica, pesquisando sobre os relatos das famílias caririenses do pé-de-serra que acreditavam nas graças obtidas através da oração às almas vaqueiras. Já no filme Patativa procurou mostrar o Antônio Gonçalves da Silva, seu amigo, pois teve com ele uma amizade de 30 anos, não queria mostrar somente o poeta que todos conheciam.

Perguntamos sobre o seu próximo trabalho, o filme Asa Nordestina, e ele disse que já está em processo de filmagem e que trabalhará a questão das lendas e histórias da região, usando a xilogravura como apoio. 
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Márcio Silvestre é ator/professor de teatro. Trabalha com artes cênicas desde 2004, tem registro no sindicato dos artistas e técnicos em espetáculos de diversão (SATED-CE) e leciona teatro em escolas desde 2009. Atualmente graduando em jornalismo pela UFCA.

Texto originalmente publicado na SÉTIMA: Revista de Cinema (edição 16, de 12 de fevereiro de 2014), que é distribuída gratuitamente na Região do Cariri cearense. A Revista Sétima é uma publicação do Grupo de Estudos Sétima de Cinema, que se reúne semanalmente no SESC de Juazeiro do Norte-CE.

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