sábado, 9 de abril de 2016

‘Tangerinas’: em um pensamento contemplativo



por Verônica Leite

Falar do filme Tangerinas é exemplificar um tipo de convivência. Esse é um assunto que sempre me atraiu e, talvez por isso, ele tenha se tornado o meu preferido entre os indicados ao Oscar 2015, na categoria melhor filme estrangeiro.

O diretor e também roteirista Zaza Urushadze trata de um tema que é fato em todas as comunidades ao redor do mundo, independente da cultura, geografia e/ou economia, tornando-se assim, inerente ao ser humano. Até a autoconvivência, de forma passiva e questionadora, ele usa como elemento ilustrativo para contextualizar as questões de valores pessoais.

Como os gêneros são etiquetas de uso e não de essência, alguns filmes se misturam, justapõem ou subvertem esses gêneros. A guerra é usada como «pano de fundo», exaltando o silêncio, o cuidado, a paciência, a compaixão esquecida no nosso cotidiano. Cenas simples e reflexivas conseguem mexer com nossas emoções, nos fazendo revisitar valores adormecidos. As tangerinas entram como uma pintura na parede pendurada na nossa sala, onde contemplamos todos os dias e sempre sentimos sensações distintas e questionáveis sobre um turbilhão de assuntos íntimos. Um objeto aparentemente insignificante, como a «fita cassete amarela», ilustra uma monotonia diária significativa do carinho, da atenção de uma descoberta de amizades, de tolerância e xenofobia.

O olhar dispensa o sentido das palavras para «falar», ao mesmo tempo que a voz humana causa um efeito diretamente no ouvinte. O «dizer» e o «fazer» dos personagens nos instigam a calcular a distância entre esses dois verbos.

Outra particularidade que notei foi a quantidade de objetos dispostos nas cenas dentro do casebre, um cuidado essencial que demonstra a importância maior que é o diálogo. E nas externas, as luzes sombrias do inverno acolhem um sentimento de ternura entre os personagens, construindo assim, um roteiro do desenvolvimento das emoções vividas entre eles.

Termina o filme e continuam minhas reflexões...
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Verônica Leite Machado é enfermeira especializada em Estomaterapia e Bloco Cirúrgico. Estudante do Curso de Artes Visuais da Universidade Regional do Cariri (URCA), professora de Artes Visuais do Colégio Elit (Juazeiro do Norte) e bolsista do grupo de pesquisa O Prazer da Arte, no GPEACC (Grupo de Pesquisa de Arte em Contexto Contemporâneo, na URCA).

Texto originalmente publicado na SÉTIMA: Revista de Cinema (edição 25, de outubro de 2015), que é distribuída gratuitamente na Região do Cariri cearense. A Revista Sétima é uma publicação do Grupo de Estudos Sétima de Cinema, que se reúne semanalmente no SESC de Juazeiro do Norte-CE.

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