sábado, 7 de maio de 2016

Nenhum pecado será perdoado



por Saulo Portela

O (in)consciente coletivo é permeado por valores adquiridos ao longo de várias gerações. Tais princípios tiveram sua fundamentação pautada em preceitos cristãos cheios de moralismo, de modo que quem ousa descumpri-los é digno de castigo ou punição divina, ainda que esta seja feita através das mãos de um assassino frio e diabólico.

É, talvez a morte seja uma pena severa demais, mas esta é a premissa de quase todos os filmes  de horror, que atribui aos vilões a função social de prezar pela moral e bons costumes, matando jovens incautos que insistem em quebrar os dez mandamentos ou cometer os pecados capitais.

A luxúria é certamente o pecado mais recorrente e punido em filmes de horror. Em Sexta-feira 13, Jason Voorhees era apenas uma criança inocente que morre afogada no Crystal Lake enquanto seus desleixados monitores, inflamados de desejo, insistiam em pecar contra a castidade quando deveriam estar cuidando dele. Sedento de vingança, Jason retorna em oito sequências e mais um remake para esfaquear, eletrocutar, enforcar, estrangular, afogar ou decapitar quem ousasse ter relações sexuais antes do casamento.

Mantenedora de um romance com homem casado e ladra, a jovem Marion Crane (Psicose, 1960) hospeda-se no Bates Motel enquanto foge após cometer um furto. Norman Bates é o responsável por punir a garota que quebrou o sétimo e nono mandamento, esfaqueando-a no chuveiro.

A vaidade de Guy Hoodhouse (O Bebê de Rosemary, 1968) por tornar-se um famoso ator, fez com que ele fosse capaz de oferecer sua alma e esposa nas garras do demônio, que através de uma relação sexual/estupro a engravida de um ser que virá a se tornar o anticristo.

Movida por inveja, Rhoda (A Tara Maldita, 1956) de apenas oito anos, é capaz de cometer as maiores atrocidades, chegando ao ponto de matar um coleguinha da escola para roubar sua medalha de honra ao mérito. O castigo dado à garotinha de rosto angelical e com tendências psicóticas é vindo literalmente do céu.

Os exemplos são quase infinitos. Cada assassino traz em sua essência o desejo humano, moralista de julgar e condenar quem não segue à risca a cartilha tão anunciada nos púlpitos das igrejas. Então, se você eventualmente derrapa em algum dos pecados citados acima, é bom certificar-se de que não há nenhum serial-killer ou entidade vingativa nas redondezas antes de continuar sua jornada pecaminosa. Oremos!
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Saulo Portela, 34 anos, professor de matemática, apaixonado por cinema e principalmente pelo gênero horror.

Texto originalmente publicado na SÉTIMA: Revista de Cinema (edição 26, de novembro de 2015), que é distribuída gratuitamente na Região do Cariri cearense. A Revista Sétima é uma publicação do Grupo de Estudos Sétima de Cinema, que se reúne semanalmente no SESC de Juazeiro do Norte-CE.

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