sábado, 16 de julho de 2016

As Memórias de Marnie



por Samuel Macêdo

Dirigido por Hiromasa Yonebayashi, Omoide no Marnie, 2014 -  título original - é mais um filme produzido pelo Studio Ghibli indicado ao Oscar de melhor filme de  animação. Em 2003 o Studio Ghibli ganhou o seu primeiro Oscar com a Viagem de Chihiro (Sen to Chihiro no Kamikakushi, 2001). As memórias de Marnie é um filme que nos prende especialmente pela condução de tempos. A montagem da animação costura as várias histórias ligadas ao presente, passado e futuro das protagonistas do filme.

A maior parte do filme acontece numa cidade fictícia no interior do Japão. Anna  é a filha única de um casal que vive em Tóquio e passa a sentir ódio por si mesma ao descobrir fatos relacionados ao seu nascimento. Anna é filha adotiva e descobre que seus pais recebem dinheiro para criá-la. Preocupada com o inesperado silêncio da filha, a mãe de Anna resolve mandá-la para o interior para que ela descanse e visite os parentes.

Acolhida na pequena cidade, Anna rapidamente se sente motivada para conhecer a região. Uma espécie de ilha chama a atenção de Anna, o lugar aparentemente abandonado abriga um antigo casarão que encanta a personagem. Aos poucos Anna cria métodos para chegar até o local e quando chega na casa depare-se com uma menina de cabelos grandes e loiros chamada Marnie.

Marnie convida Anna para conhecer a sua casa e a partir disso ambas tornam-se amigas e criam uma relação recíproca de afeto. A amizade entre as meninas faz com que Anna ganhe disposição e vontade de entender a si mesma e a sua nova amiga. Marnie compartilha todos os seus medos com Anna, porém, em vários momentos do filme Marnie misteriosamente some.

Sim, podemos pensar que Marnie é um fantasma. Ana também começa a acreditar nessa possibilidade, apesar de ter frequentado festas na casa do lago e ter conhecido os pais de Marnie. Assim como toda a pequena cidade, Anna sabe que o casarão está abandonado há décadas.

Marnie e Anna trocam promessas de amor e prometem nunca se separarem. Em um determinado dia, Anna chega à ilha e descobre que a casa abandonada estava sendo reformada  e uma nova família já havia se instalado. Ao olhar para a janela do quarto de Marnie, Anna encontra uma outra menina que segura um diário e pergunta a Anna se ela é Marnie, ou se a conhece.

Anna foge sem entender nada e mais uma vez se odeia porque pensa que todas as pessoas costumam abandoná-la. A nova moradora da casa do lago se aproxima de Anna e ambas passam a procurar pistas de Marnie através do seu diário incompleto. O filme bagunça as nossas expectativas. Ora pensamos que Marnie e Ana são a mesma pessoa, ora suspeitamos que Marnie é a mãe de Anna. As duas dúvidas estão erradas, porém, a relação entre as personagens nos conduzirá para uma ligação impensável.

A animação se caracteriza pela sofisticação do roteiro baseado no romance When Marnie Was There, de Joan G. Robinson. Uma animação que nos leva a questionamentos importantes sobre o autoconhecimento e que foi um forte concorrente pela estatueta do Oscar em 2016.
____


Samuel Macêdo é formado em Comunicação Social (Jornalismo), mestrando em Cultura e Sociedade e membro do Grupo de Pesquisa em Cultura e Sexualidade.

Texto originalmente publicado na SÉTIMA: Revista de Cinema (edição 29, de março de 2016), que é distribuída gratuitamente na Região do Cariri cearense. A Revista Sétima é uma publicação do Grupo de Estudos Sétima de Cinema, que se reúne semanalmente no SESC de Juazeiro do Norte-CE.

Textos recentes da Revista Sétima postados no Blog O Berro:
- Fassbender e Winslet: um encontro triunfante em ‘Steve Jobs’ 
- Sobre ‘O Menino e o Mundo’ 
- Luís Nachbin: entre passagens e fronteiras
- ‘Acho que já vi esse filme!’: o que se pode (re)ver nas salas de exibição de filmes
- O desejo aguça com o olhar: sobre a Mostra 21 de 2015
- Meus 10 melhores filmes de todos os tempos, por Elvis Pinheiro
- ‘Boa sorte’ nos próximos filmes
- Nenhum pecado será perdoado


.

Nenhum comentário:

Postar um comentário