domingo, 11 de setembro de 2016

A época em que está meu espírito



por Erick Linhares

“Você liga seu pequeno ecrã de 21 polegadas e torce pela América e pela democracia. Não existe alguma América, não existe uma democracia. Existe apenas IBM, ITT, AT&T, DuPont, Dow, Union Carbine e Exxon. Essas são as nações do mundo hoje!”

Eu ainda me sinto transtornado com esse filme! Essa produção me leva a viagens incríveis sobre como a televisão pode ser danosa; como o sistema no qual vivo é cheio de regras, as quais sou obrigado a seguir sem haver participado de sua elaboração no contrato social; sem saber o porquê ou a origem, ou como essas regras são implantadas hipnoticamente através da cansativa repetição da mídia esmagadora sobre o que é bom ou ruim, o que devo ou não fazer, o que é moda, o que eu devo comprar, criticar, temer... O medo implantado para que possamos ser escravos sempre do que é dito. Usar o medo para escravizar (HUXLEY, A. L., 1982).

Eis o meu sentimento depois do filme Zeitgeist (2007). É um documentário dividido em três partes: 1) Fala sobre a farsa da religião como a maior “estória” já contada pela humanidade, usando a bíblia como alegoria dos astros e metáforas, além de mostrar que não há indícios históricos sobre a existência de Jesus Cristo, sendo apenas um plágio de outras várias religiões pagãs (religiões não judaico-cristãs); 2) Sobre o atentado de 11 de Setembro, muito “sensacionalizado” na mídia divulgando os “terroristas” como inimigos do mundo. O doc fala sobre como a mídia manipula para que as pessoas acreditem no que as grandes corporações e os EUA querem dizer e usar como desculpa para fazerem guerras. As pessoas que assistem ao telejornal repetem tudo que passa na notícia como robôs condicionados (e, aqui, Aldous Huxley é um profeta ao falar sobre isso em sua obra mais famosa, Admirável mundo novo); 3) E, por fim, Zeitgeist faz uma análise sobre os bancos e como eles usurpam a liberdade de trabalho e controlam o dinheiro no mundo, sendo todo o sistema monetário um grande palco para que as grandes empresas escravizem as pessoas que precisam do dinheiro e trabalho para ter os recursos que os poderosos roubaram da Terra.

Vale ressaltar que esse filme tem mais duas sequências tão boas e polêmicas quanto o primeiro, acerca das quais não irei me aprofundar aqui, porém todas elas são bem fundamentadas e bem analisadas; eu mesmo tomei a precaução de buscar em fontes imparciais sobre egiptologia, demolição de prédios (no caso do World Trade Center), sistema monetário, entre outros.

Muitos me dizem: “mas esse filme é tendencioso”. Óbvio que é! Tudo que quer mostrar um ponto é tendencioso para um foco determinado de argumentação. Tudo que é dito é em direção a algo para ser mostrado e tende a isso, e eu sou tendencioso a comprar a ideia desse filme. De toda forma, acho melhor para mim não ser tendencioso a comprar as ideias da mídia, ou do sistema econômico em geral. Meu sentimento é que esse sistema é realmente uma farsa para que poucos, um número insignificante de pessoas perante aos bilhões que vivem na Terra, ganhe dinheiro à custa da alienação da maioria sobre seu trabalho, sua família, sobre as privatizações, sobre as fronteiras, moda... Sobre a vida.

Teoria da conspiração? Não sei. Deixo claro aqui que é uma das “verdades” que se pode existir num leque de possibilidades que tende ao infinito. Mas acreditar nas coisas ditas como verdade, tudo que nos ensinam, tudo que a gente aprende na vida através da escola, família, mídia... também é apenas uma das escolhas. A minha tendência a ir para o outro lado, remar contra a maré, é fundamentada em coisas que acho um paradoxo, algumas coisas que estão na nossa frente, mas que não pensamos por estarmos ocupados demais assistindo à novela das nove, algo como: o mundo nos dá tudo que precisamos (água, alimentos, sol, oxigênio...), porém alguns desses elementos são possuídos, privatizados (água, alimentos, terrenos...) para depois serem vendidos para outras pessoas. Por que as pessoas precisam pagar por uma coisa que é do mundo? Quem deu o direito de privatizar? Bem, eu não engulo “a vida como ela é” ou como ela é contada pela oligarquia poderosa.

Este documentário é de extrema importância por chocar a “realidade” que nos foi ensinada, mexer com ela e nos fazer pensar sobre nossa vida e como nossa consciência é montada. Os argumentos são muito bem estruturados e, o melhor, com fatos e notícias que nos deixam na dúvida sobre até onde esse sistema (financeiro, capitalista, de sociedade organizada...) é eficaz. E aí me perguntam “e então, o que se deve fazer?”, bem, uma possível “resposta” está no final do documentário. Assistam.
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Erick Linhares é formado em Psicologia pela Faculdade Leão Sampaio, onde foi coordenador geral do Centro Acadêmico do curso. Atualmente é bolsista na Especialização em Gestalt Terapia.

Texto originalmente publicado na SÉTIMA: Revista de Cinema (edição 32, de junho de 2016), que é distribuída gratuitamente na Região do Cariri cearense. A Revista Sétima é uma publicação do Grupo de Estudos Sétima de Cinema, que se reúne semanalmente no SESC de Juazeiro do Norte-CE.

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