sexta-feira, 28 de abril de 2017

Oficina Bichos de Meia, com Débora Rodrigues, em Crato



“Na oficina do dia 29, vamos confeccionar bichos feitos de meias. Transformaremos meias em brinquedos fofinhos, costurados 100% a mão, trazendo sua originalidade e criatividade. Então, peguem as suas meias e venham com a gente costurar sonhos!!!” (sinopse da divulgação do evento)
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Oficina - Bichos de Meia
Com Débora Rodrigues
Sábado, 29 de abril de 2017, das 14h às 17h
No Auditório do Geopark Araripe
Rua Carolina Sucupira, S/N - Pimenta, Crato
Atividade gratuita
Obs.: levem suas meias.

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‘Melhor é Impossível’, filme de James L. Brooks, em exibição no Cine Café



Cine Café do CCBNB Cariri (com mediação e curadoria de Elvis Pinheiro)
Exibição do filme Melhor é Impossível
Ficha técnica:
Título original: As Good as It Gets
Direção: James L. Brooks
Roteiro: Mark Andrus (história), James L. Brooks
Elenco: Jack Nicholson, Helen Hunt, Greg Kinnear, Cuba Gooding Jr., Shirley Knight, Jesse James, Skeet Ulrich, Yeardley Smith, Lupe Ontiveros, Harold Ramis
Duração: 139 minutos
Ano: 1997
País de origem: Estados Unidos

“Nova York. O obsessivo-compulsivo Melvin Udall, um preconceituoso escritor grosseiro e sarcástico, tem como alvos principais Simon, um artista gay, que é seu vizinho e tem um cachorrinho, e Carol Connelly, uma garçonete que enfrenta problemas por ser mãe solteira.” (sinopse da divulgação do evento)

Exibição no sábado, 22 de abril de 2017, às 17h30
No Centro Cultural Banco do Nordeste Cariri (Juazeiro do Norte). Entrada gratuita.

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Banda Terceiro Acorde e Rei Bulldog se apresentam em Juazeiro



Banda Terceiro Acorde
Sexta-feira, 28 de abril de 2017, 22h

Banda Rei Bulldog (The Beatles)
Sábado, 29 de abril de 2017, 22h

No Seu Gringo
Lagoa Seca (Juazeiro do Norte-CE).

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quarta-feira, 26 de abril de 2017

Hinos Matemáticos



por Amador Ribeiro Neto

Marco Lucchesi (Rio de Janeiro, 1963) é professor da UFRJ, poeta, romancista, ensaísta, tradutor, crítico literário, memorialista, missivista, roteirista, organizador de antologias, organizador de obras, editor de revistas literárias, membro da ABL. Foi contemplado com vários prêmios nacionais e internacionais. Tem livros traduzidos para o árabe, romeno, persa, russo, turco, polonês, híndi, sueco, húngaro, urdu, bangla e, claro, inglês, francês, alemão, espanhol e italiano. Publicou, os seguintes livros de poesia: Bizâncio (1997), De passione (2000), Alma Vênus (2000), Poemas reunidos (2001), Sphera (2003), Meridiano celeste & bestiário (2006), Clio (2014). Hinos matemáticos (Rio de Janeiro: Dragão, 2015) é sua mais recente publicação.

A poesia de Marco Lucchesi é de um lirismo arrebatador. Poucos conseguem, como ele, aliar erudição e leveza, ciência e sentimento, matemática e amor. Assim é, e não poderia ser diferente, em se tratando do poeta que é, Hinos Matemáticos, um livro que desafia o leitor com fórmulas matemáticas poucamente esclarecedoras. Mas com formas poéticas abundantemente tocantes.

Uma poesia que nos rememora a velha lição valéryana: poesia e matemática são duas abas do mesmo chapéu. Mas Lucchesi vai além da simples equação aritmética. Interessa-lhe a musicalidade contida na matemática. Aquela mesma música a que toda poesia aspira ser. O “espólio inabordável entre 0 e 1”, como enuncia o poema “Busca do ouro”.

As imagens sucedem-se numa espiral que toca os mesmos pontos. E neste apoio conhecido, impulsionam-se pra novos volteios.
E as formas que não cessam
de crescer

Delírios fugazes
Líquidos lampejos

dizem os versos finais de “Solilóquio fractal”. O espaço em aberto. Expandindo-se. E isomórfico a ele, a poesia. Formas, delírios, lampejos: o leitor percorre galáxias em movimentos e banha-se num erotismo riscado a arpejos de luz e gozo.

O poema que abre o livro incandesce caminhos do devir. Cito “Canteiros”, na íntegra:
Um fósforo desata momentâneo
os fios de uma noite sem estrelas

No céu azul de Samos
voam ímpares.
E os pares sobrenadam
nas águas do Ilissos

O jardim
o conjunto de canteiros
E a floresta sombria e ilimitada

Como domar a astúcia do infinito?

O fósforo não acende, não ilumina: desata os fios de uma noite escura. Os raios do fósforo são os fios que, ao invés de clarear, ampliam a dimensão do escuro. Entre estes versos e os finais há a ilha grega de Samos, seu rio Ilissos, os canteiros do jardim, a floresta “sombria e ilimitada”. A ilha: locus de suspensão da vida. O rio antigo, hoje canalizado e subterrâneo: a dimensão espacial do lado de lá. Para além dos olhos. No entanto, tão próxima aos pés.

Depois do poeta construir a imagem sideral na progressão de “jardim”, “conjunto de canteiros” e, por fim, “a floresta”. Como se não bastasse a vastidão em si, é uma floresta “sombria e ilimitada”. Quer seja: o desconhecido dentro do desconhecido dentro do desconhecido.

Por fim, o verso que encerra o poema projeta este espaço como indomável em seus ardis, argúcia e sagacidade.

Estamos diante de um poeta que soma a matemática à vastidão do espaço – e configura-a na mais delicada poesia. Em filigranas do sublime.

Esse é o movimento presente em todos os poemas. Próximos e distantes. Perto e desconhecidos. A matemática e a palavra. Duas fontes de força bruta. O homem busca entendê-las para cantá-las. O poeta mergulha na estética da matemática para, nela, situar e localizar sua poesia. Daí o título do livro: Hinos matemáticos.

O poema “Primeira prova” orquestra a busca desta música precisa:

Orquídeas
          resplandecem
             no quintal
A geometria
de fogo
          de suas pétalas
e a forma
   do silêncio
          em que se apoiam
Trago
         o coração perdido
e os olhos tersos
         da breve epifania
Toda flor
         desponta
         no seio do silêncio
e ao seio
         do silêncio
         acorre e se dissolve
Lembro
                 de Hardy
indo ao
                                   fundo
silêncio
         dos gregos
Teoremas
         cheios
   do frescor da beleza
        de quando foram descobertos

Dois mil anos
        e sequer
uma ruga
        em seu puro semblante
(Euclides
    e a infinidade
    dos números primos
Pitágoras
   e a raiz quadrada
irracional de dois)
Os desenhos
                do matemático
      e do poeta devem
                                    ser belos
                              Flores
                              teoremas
desmaiam
                                    em súbitos
jardins
sob                              crepúsculos
fugazes
A beleza é a primeira prova
                 da matemática


Como consta das Notas que acompanham o volume, os versos em itálico são extraídos de Em defesa de um matemático, de G. Hardy. No Posfácio intitulado “A espiral e o sonho dos meninos”, o poeta explica que “a ideia de beleza na matemática, que se encontra em diversos autores, como Hardy ou Poincaré, causou em mim grande impacto. Como se me deparasse com uma verdade perdida, um substrato arqueológico que me parecia estranhamente familiar e decisivo”.

Um vetor de leitura possível para este livro é seguir as orientações do poeta nas imprescindíveis Notas e no esclarecedor Posfácio. Todavia, isto não impede que uma outra leitura se faça na contramão destas orientações. É aquela leitura em que o eu lírico desenreda-se do estrato matemático dos poemas e mergulha nas epifanias das imagens em alumbramentos de sons e sentidos. Outros sons. Outras imagens. Outros sentidos. Para além da matemática. Para dentro da poesia em si.

Esta navegação, que se norteia pelo hino, pelo canto, pela enunciação dos significados por vir, é a do encantamento que a música produz nos ouvidos e nas sensibilidades. A entrega da beleza em estado de graça. Sem preço algum. Sem merecimento algum. Entrega da poesia em revelações inusuais. Revelações de pura entrega e vasto gozo.

Então, mergulhado nestas galáxias de imagens (sonoras, visuais e semânticas), o leitor chega ao cerne da matemática sem a necessidade dos teoremas e das teorias. É quando o poema “Lendo Hadamard” ganha as ganas do leitor tomado pela beleza lírica dos poemas de Marco Lucchesi. Cito-o na íntegra:
Perdem-se os primos {venerandos números}
quando num bosque em plena madrugada
sob a lira cintilante de Orfeu
põem-se a bailar mais bravos e dispersos

O imaginário
{nuvem bosque pensamento}
é o atalho cristalino da matemática

A poesia vence. Entendemos o poeta quando diz: “o vínculo entre a beleza e a matemática há de trazer novos ventos para as matemáticas no Brasil, rompendo uma cláusula de barreira cultural. O direito dos meninos e das meninas de sonharem nos campos do pensamento matemático”.

Somos todos meninos e meninas. O sonho da poesia é nosso mundo. Obrigados ao poeta pela sua imensa poesia. Galáxia entre galáxias que nos leva a imensuráveis espaços – de caos, de exatidão, do fractal, do geométrico infinito. Espaço sideral de enternecedor lirismo. 
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Amador Ribeiro Neto é poeta, crítico literário e de música popular. Doutor em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Professor do curso de Letras da UFPB.

Textos recentes de Amador Ribeiro Neto no blog O Berro:
- Dois olhos sobre a louça branca
- Alarido
- Tudo (e mais um pouco)
- Cadela prateada
- A nova antologia da Adriana Calcanhotto
- Em pauta, Pedro Osmar
- A arte e a máquina
- O computador e a arte
- O blefe e o breque: Moreira da Silva
- Uma poemúsica de Arnaldo Antunes

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terça-feira, 25 de abril de 2017

Na escuridão, te dedico. Sobre ‘O Paciente Inglês’



por Josú Ribeiro

Paciente: alguém que sofre, e/ou espera. Passivo a quem chega. Mas o que se espera? À espera de um amor, de que se toque um piano e a pessoa certa apareça? À espera pelo retorno da morte, que deixou um sobrevivente sem causa? O Paciente Inglês (The English Patient, 1996) é um filme de espera, de sofrimento, é um filme sobre o amor. Adaptado e dirigido por Anthony Minghella, é baseado no romance do canadense Michael Ondaatje, de mesmo título, publicado pela primeira vez em 1992. Foi vencedor de 9 Oscar, incluindo melhor filme e melhor fotografia.

A história se passa no final da Segunda Guerra Mundial, Almasy (Ralph Fiennes) sobrevive a um ataque ao seu avião, tendo o corpo totalmente queimado. Fica aos cuidados de Hana (Juliette Binoche), uma enfermeira canadense que perdeu namorado e uma amiga na guerra, abandonando o pelotão militar. Hana carrega consigo traços de sofrimento, que são muito bem absorvidos pela atuação da Juliette Binoche. Entretanto, ao se propor cuidar de Almasy, o encontro é empático, dando margem a um novo renascer.

Almasy pouco sabe sobre si. Aos poucos resgata sua identidade através de memórias soltas de sua história de amor com Katharine (Kristin Scott Thomas). A saudade é a linha condutora, equilibrando-se com passado. Com poucas memórias sobre si, passeia por lembranças, e ao resgatar sua amada, resgata a si. É um filme lento, tendo uma carga poética intensa – um campo minado – que requer destreza, cuidado e atenção. Assim como na vida de Almasy, Hanna possui sofrimento, amor e a morte, cravados em sua memória.

As cenas percorrem o Egito, Tunísia e Itália. Grande parte acontece no Egito, onde lá conhecemos o “Clube da Areia” em que Almasy é arqueólogo, mapeando traços de civilizações esquecidas. É nessa expedição que se apaixona por Katharine, esposa de um amigo. Com esse cenário árido e uma imensidão de areia a cobrir a tela, a fotografia do filme me inclina a pensar ser feita de uma cortina de areia que nos deixa imersos no grande deserto, e sua capacidade de transmutação. O que lembra o tempo. Com tons alaranjados e amarelos acentuados, acaba-se produzindo bem uma temperatura quente do deserto, e sentimentos calorosos. Quando Hana aparece nas cenas – cenários cheios de árvores, poças d’água – há vários tons de verde, como se aos poucos sua esperança necessitasse ser regada para um novo florescer.

Senti melancolia, fiquei imobilizado. As histórias de Almasy, Hana e Kip, – este que aparece desarmando bombas – reflete uma carga humana de lidar com o imprevisto, lidar com o que não se pode controlar, com a fatalidade.

Almasy traz sempre consigo um livro de Heródoto, junto com algumas anotações. Além de conter histórias, dentro dele há desenhos, rabiscos, papéis curiosos. Em um livro, abrimos as páginas, percorremos a história, relemos o que gostamos, saltamos algumas linhas, frases, parágrafos que não nos cabem. Alguns fatos são enterrados, esquecidos, necessitando serem descobertos por algum acidente de percurso. Almasy, era aquele livro inseparável, com alguns desenhos, rabiscos preciosos, carregados de despedida. Palavras dedicadas sob luz desperdiçada, mas luzida de saudade, de amor e de esperança. Na escuridão, há tempo? 
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Josú Ribeiro é poeta e músico. Formado em Psicologia na Unileão.

Texto originalmente publicado na SÉTIMA: Revista de Cinema (edição 37, de novembro de 2016), que é distribuída gratuitamente na Região do Cariri cearense. A Revista Sétima é uma publicação do Grupo de Estudos Sétima de Cinema, que se reúne semanalmente no SESC de Juazeiro do Norte-CE.

Textos recentes da Revista Sétima postados no Blog O Berro:
- I Love B Movies
- Meus 10 melhores filmes de todos os tempos, por Émerson Cardoso
- V de Ideia
- O Que Terá Acontecido a Baby Jane? 
- Meus 10 melhores filmes de todos os tempos, por Elandia Duarte 
- Uma nova amiga, novas possibilidades
- Histórias de nós
- Antes de depois

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quinta-feira, 20 de abril de 2017

Banda Nuverse faz show no Crato



“Verso nu, cru, universo, novo verso. Nascida em Juazeiro do Norte, com referenciais estéticos que vão do rock, funk, jazz e new age, sua singularidade vem nas letras satíricas que contestam as injustiças do mundo atual, e em sua performance que envolve também o audiovisual.” (sinopse da divulgação do evento)
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Sesc Sonoridades apresenta:
Show com a banda Nuverse
Quinta-feira, 20 de abril de 2017, às 19h30
No Teatro Adalberto Vamozi
Sesc Crato-CE
Entrada gratuita
Mais informações: (88) 3586.9163.

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quarta-feira, 19 de abril de 2017

Dois olhos sobre a louça branca



por Amador Ribeiro Neto

Nathan Sousa (Teresina, 1973) é tecnólogo em marketing, escritor, acadêmico, professor, poeta e letrista. Autor de O percurso das horas (2012), No limiar do absurdo (2013), Sobre a transcendência do silêncio (2013), Um esboço de nudez (2014; finalista do Jabuti 2015), Mosteiros (2015), Nenhum aceno será esquecido (2015). Dois olhos sobre a louça branca (Guaratinguetá-SP: Penalux, 2016) é seu mais recente livro.

Nathan é um poeta e tanto. Disse isso quando comentei Mosteiros, aqui mesmo, em Augusta Poesia. Resultado: um fragmento do artigo foi parar numa das orelhas de seu novo livro. Feito de que me orgulho.

No entanto, seu mais recente livro é velho. Velho no sentido de nos apresentar uma poesia de fabricação conhecida, com sabor de déjà-vu. Não sei o que houve, mas Nathan resolveu investir na “poesia dita profunda”. Não se deu bem. Nem poderia. A tal poesia dita profunda é um enfeixamento de fórmulas consagradas pelo senso comum, naquilo que se acredita seja a grande poesia. Ou, simplesmente, poesia. Não é. Ledo engano. Poesia é a língua de um povo, com suas imagens e sons. Língua viva do povo, que vivifica uma nação. T. S. Eliot, que epigrafa uma das sessões do livro, com um verso de “The waste land”, disse isso num artigo antológico. É preciso aprender a lição.

Nathan Sousa revela-se admirável poeta em Mosteiros e em Um esboço de nudez – este, finalista do Jabuti. Mas erra a mão em Dois olhos sobre a louça branca. No prefácio, Alberto Lins Caldas rasga elogios ao poeta e ao seu livro: “Nathan Sousa é um poeta completo, pleno, dono do seu doloroso ofício, do seu ofício de vivente em tempos obscuros”. Lins Caldas é rigoroso na produção de sua poesia, e em seus textos críticos, mas é generoso neste prefácio. Também não funciona.

O livro peca pela inundação de metáforas, seguidas de adjetivações excessivas. Tais recursos não escondem a busca, do poeta, por uma linguagem da opulência. Há imagens em demasia, comprometendo a concisão. Esta busca de algo a mais, grandioso e magnificente, já se evidencia nas inúmeras citações que cobrem um leque que vai da mitologia grega a pop stars roqueiros. Da poesia hindu à xamanista. De Nietzsche a Kevin Carter. Do barroco ao pós-moderno.

Enfim, um painel amplo, vasto e quase irrestrito. Isso compromete a essência da poesia. Sugestão: ao invés de ficar borboleteando ao redor de tantas citações, en passant, Nathan deveria fazer o que já fez em livros anteriores: ater-se ao rigor da linguagem poética. Trocar a abundância pela parcimônia.

Vejamos. No poema “Prataria” o subtítulo já se revela majestoso: “a concavidade milenar das ostras”. Isso não é bom. A busca do pomposo acaba soando trivial. É uma prática comum entre poetas que não conhecem o caminho da poesia. E que se atrapalham nos jogos vazios de imagens. Nathan não é um poeta de volteios e desvarios neoparnasianos. Então por que os utiliza neste livro?

Outra coisa: há ingenuidade, ou comodismo, em acreditar que antíteses fazem poesia. Só o fazem quando dizem a que vêm. E quando criam relações inusuais entre termos afins. Aí, sim, funcionam. Mas em “Rapinas (dorso escuro, ventre prateado)”, de que cito a estrofe inicial, elas não produzem o efeito desejado:
vejo uma fêmea entre um feto e uma lata de detritos.
estou também na lástima desta deusa de sepultos.
e enquanto as esfinges conspiram nas esquinas,
voa uma sanha frívola de rapinas, acossando os répteis
das línguas tingidas ao sobejo e ao catchup.

Há infelicidade em construções como: “estou também na lástima”, “esfinges conspiram nas esquinas”, “sanha frívola de rapinas”, “répteis das línguas tingidas ao sobejo e ao catchup”. Pois é: o poeta não esconde seu empenho na construção de uma linguagem luxuosa, adjetivada e metaforizada. Mais grave: linguagem que se pretende inusitada. O resultado decepciona. É uma pena. Fica uma poesia à la Salgado Maranhão (a quem é dedicado um poema). Ou à la Iacyr Anderson Freitas. Falando neste, não há como não nos lembrarmos de Cabral, poeta que Iacyr clona inescrupulosamente.

Pois bem, há poemas em Dois olhos sobre a louça branca que não se desgrudam do estilo cabralino. Quando digo não se desgrudam, refiro-me a colar no grande poeta e produzir algo, não como discípulo, mas como outro retrato do mestre pernambucano. Nathan não toma Cabral para vencê-lo. Antes: é vencido por ele. E aí a marca cabralina, ao invés de conquista, passa a ser demérito. Entre outros, são exemplos da malfadada insistência: “Asas e crinas contra o tempo”, “Fascículo catalão, rabisco”, “Os ponteiros” e “Monólogo para uma gaiola (o silêncio inicial)”, que transcrevo na íntegra:
observe: este século nutre o pássaro
com cinzas, sobras e pouca sombra.
dele, sabemos da asa, do porte,
do canto (quase nada do bico).
porém, ele (o pássaro)
nada sabe do tempo que passa;
de seu desenho na paisagem;
das rinhas por onde sangra.
aprendeu (apenas) a não usar
a esgrima para domesticar as esperas.
o vertebrado (das penas) é ovíparo
e por isso nada em sua volta
está isento de mergulho:
sua plumagem de pigmentos
milenares, a evolução complexa
de combinações coloridas
(a melanina no cio, em pleno voo),
as carotenóides e as cores estruturais,
o carnaval pela máscara humana
passa (invisível). observe: o tempo
nos alimenta a opacidade
rasante.

Para além das imagens, do ritmo, da construção sintática e semântica cabralinas, nada há de Nathan aqui. O poema é bonito. Mas já foi feito. O poeta repete a lição aprendida. É um aluno aplicado. O problema é que se aplicou em demasia. Vestiu a camisa (e todo o restante da roupa) do Cabral. Assim não funciona.

Mas nem só de grandiloquência e imitatione vive o poeta. Ele também persegue a coloquialidade em alguns poemas. Sai-se bem nos versos finais de “Agudos”:
só o acaso saberá domesticar esta vaga certeza
que me fareja como se a memória e o aço
fossem desejo e língua.
ou sêmen
e pólvora.

No prefácio, Lins Caldas já havia destacado que diante da “língua que é ‘sêmen e pólvora’: a poesia que não insemina corpos e imaginações não é poesia”. Comentário que ratifica o que venho assinalando: poesia é gana, é risco, é rigor. E, para conseguir-se isso, constitui-se como “linguagem carregada de significado”, nas palavras de Pound. Exatamente: as duas coisas. Primeiro: linguagem. Segundo: carregada de significado.

De nada adiantam os malabarismos da linguagem, nem as densidades dos significados, se ambos permanecem em gôndolas distintas nas águas da poesia.

O curioso é que Nathan sabe disso tudo, de sobra. Mosteiros e Um esboço de nudez, repito, comprovam fartamente. Por que desviou o caminho certeiro das águas é um enigma esfíngico (apropriando-me de seu universo mitológico, adjetivado e proparoxítono).

Na esteira da pseudopoesia de viés filosófico, à la Antonio Cicero, temos em “Não precisamos saber (ave de Aristófanes)”:
ainda que me pesem o anonimato e a minha sombra,
restará em meu orgulho fracionado um pedaço de céu
caído como uma pedra no peito.

porém, a vida é grave,
e o tempo é o silêncio entre a lágrima
e o falso riso.

Ou no poema “Aqui se paga (sermão do sexto sentido)”, em que Vieira e a Bíblia surgem oblíqua e diluidamente:
respondo pelo que calo
e somente deus conhece
minha sintaxe de água.

porque aos peixes
é dado chorar de
olhos abertos.

Há uma displicência nesta coloquialidade a serviço das imagens surradas que não escondem o viés de autoexpiação. Além de uma pitada do pior de Manuel de Barros: a metáfora abusiva, inconsequente, encharcada de elementos da natureza.

Ou uma falsa espontaneidade das imagens associada a um coloquialismo clichê em “A remoção das montanhas (o lodo da escada)”, que cito integralmente:
subiu aos céus.
quis falar com deus,
pai, todo poderoso.

mas esquecer
os dentes no copo
de uísque, ao lado
da cama
(perto da bíblia)
onde havia anotado
o número de uma placa
de caminhão para jogar
no bicho.

Assim, Nathan Sousa não corteja o leitor: azara-o. Uma pena.

Por fim, o poeta fica devendo-nos um novo livro, pleno das delícias e dos saberes poéticos que ele domina a mancheias.
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Para ler a crítica de Mosteiros, clique aqui.

Amador Ribeiro Neto é poeta, crítico literário e de música popular. Doutor em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Professor do curso de Letras da UFPB.

Textos recentes de Amador Ribeiro Neto no blog O Berro:
- Alarido
- Tudo (e mais um pouco)
- Cadela prateada
- A nova antologia da Adriana Calcanhotto
- Em pauta, Pedro Osmar
- A arte e a máquina
- O computador e a arte
- O blefe e o breque: Moreira da Silva
- Uma poemúsica de Arnaldo Antunes
- Caetano e uma poemúsica de ninar

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segunda-feira, 17 de abril de 2017

Conversas Filosóficas debate o Amor Platônico, a Beleza e a Felicidade



"Não se pode amar e ser feliz ao mesmo tempo. Este é o título de uma das obras de Nelson Rodrigues, na qual o escritor encarna Myrna, uma mulher que aconselha sentimentalmente diversas outras mulheres através de cartas onde tece argumentos em torno de sua tese principal, a saber: amar e ser feliz é impossível. Myrna adverte, explica, comenta e escreve sobre o amor que a maioria de nós conhece. O amor cantado em bossa, brega e fossa. O amor que é ao mesmo tempo mel e fel. As cartas das leitoras de Myrna são testemunhos da ininteligibilidade do amor.

Alguns séculos distante de Nelson Rodrigues, vemos Platão perguntando: É possível amar e ser feliz ao mesmo tempo? Para o grego, a virtude é caminho para a felicidade. Em contrapartida a experiência comum nos aponta o amor como responsável pela perda da capacidade de discernir, privando-nos, assim, da virtude. Precisamos então escolher entre a virtude e o amor? A resposta não é tão simples.

Todos já ouvimos falar do “amor platônico”, entendido corriqueiramente como um amor puramente ideal, irrealizável, contemplativo, um amor de alma. Mas o Eros platônico não se mantém apenas no nível da idealidade, ele é responsável por dinamizar a vida, impelindo o indivíduo em direção àquilo que deseja. Mas o que deseja o amante? A beleza. O que é a beleza?

A pretensão destas conversas é debater estas e outras questões sobre a relação entre amor, beleza e felicidade em Platão, buscando compreender de que maneira o filósofo pode ser capaz de afirmar, contrariamente a Myrna, que não só amar não é impecilho para a felicidade, como é, antes, seu princípio." (texto de divulgação do evento)
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Conversas Filosóficas
Amor Platônico, Beleza e Felicidade
Com Profa. Me. Andréa Furtado e Prof. Alex Melo
Terça-feira, 18 de abril de 2017, 18h
No Auditório do Centro Cultural Banco do Nordeste - CCBNB Cariri
Juazeiro do Norte-CE
Entrada gratuita.
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sábado, 15 de abril de 2017

Banda Tiro Certeiro: Tributo a Chico Science & Nação Zumbi em Juazeiro



Show com a banda Tiro Certeiro
Tributo a Chico Science & Nação Zumbi
Sábado, 15 de abril de 2017, a partir das 22h
N'O Cangaço Bar
Av. Padre Cícero, 1751, Salesianos
Juazeiro do Norte-CE
Entrada: R$10,00.

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quinta-feira, 13 de abril de 2017

Programação Orient Cinemas Cariri Shopping - de 13/04 a 19/04/2017

Velozes & Furiosos 8
(The Fate of the Furious, 2017)
Direção: F. Gary Gray
Produção executiva: Chris Morgan
Produção: Vin Diesel, Michael Fottrell, Neal H. Moritz
Elenco: Vin Diesel, Jason Statham, Jordana Brewster, Charlize Theron, Dwayne Johnson, Scott Eastwood, Kurt Russell, Helen Mirren
País: EUA
Estreia: 13/04/2017
Gênero: Ação
Duração: 136 minutos
Distribuidor: Universal Pictures
Classificação indicativa: 14 anos
Sinopse: Agora que Dom e Letty estão em lua de mel e Brian e Mia se retiraram do jogo – e o restante da equipe foi exonerada – o time segue com uma vida normal. Mas, quando uma mulher misteriosa (ganhadora do Oscar Charlize Theron) seduz Dom para o mundo do crime, ele parece não conseguir escapar e a traição das pessoas próximas à ele fará com que todos sejam testados de uma forma como nunca antes foram. Das margens de Cuba e ruas de Nova York para as planícies geladas do mar do ártico, nossa tropa de elite cruzará o globo para impedir que um anarquista desencadeie o caos... e tentará trazer pra casa o homem que os tornou uma família. (para assistir ao trailer, clique aqui)

Dublado: 15h, 17h50, 20h40 (Sala 2)
Legendado: 13h10, 15h50, 18h35, 21h20 (Sala 3)
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A Cabana
(The Shack, 2017)
Direção: Stuart Hazeldine
Produção executiva: Mike Drake, Qiuyun Long
Produção: Brad Cummings, Gil Netter
Elenco: Octavia Spencer, Sam Worthington, Radha Mitchell, Tim McGraw, Ryan Robbins, Graham Greene, Megan Charpentier, Derek Hamilton
Classificação indicativa: 12 anos
País: EUA
Estreia: 06/04/2017
Gênero: Drama, Fantasia
Duração: 132 minutos
Distribuidor: Paris Filmes
Sinopse: Depois de sofrer uma tragédia familiar, Mack Phillips (Sam Worthington​) entra em uma profunda depressão, que o faz questionar suas crenças mais íntimas. Diante de uma crise de fé, ele recebe uma carta misteriosa que o convida para ir a uma cabana abandonada. Mack encontra então verdades significativas que transformarão seu entendimento sobre a tragédia que abalou sua família e sua vida mudará para sempre. (para assistir ao trailer, clique aqui)

Dublado: 13h, 15h40, 18h20 (Sala 1)
Legendado: 21h10 (Sala 1)
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O Poderoso Chefinho
(The Boss Baby, 2017)
Direção: Tom McGrath
Produção: Ramsey Ann Naito
Elenco: Vozes de Miles Christopher Bakshi, Alec Baldwin, Steve Buscemi, Jimmy Kimmel, Lisa Kudrow, Tobey Maguire, ViviAnn Yee
País: EUA
Estreia: 30/03/2017
Gênero: Animação, Comédia, Família
Duração: 97 minutos
Distribuidor: 20th Century Fox
Classificação indicativa: livre
Sinopse: Não há nenhuma dúvida de quem é o chefe desta família. Desde o dia em que chegou seu irmão bebê (de táxi... vestindo um terno), o jovem Tim, então com 7 anos, sabia que esse bebê falador seria um problema. Mas quando embarca numa missão para ganhar de volta o afeto exclusivo de seus pais, Tim descobre por acaso uma conspiração secreta que ameaça destruir o equilíbrio do amor do mundo – e este ousado bebê executivo disfarçado como seu novo irmão está no centro de tudo. Agora, eles precisam se unir como verdadeiros irmãos para deter o plano maligno, salvar seus pais, restaurar a ordem no mundo e provar que o amor é realmente uma força infinita. (para assistir ao trailer, clique aqui)

Dublado: 13h50, 16h, 18h10 (Sala 4)
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Power Rangers
(Power Rangers, 2017)
Direção: Dean Israelite
Produção: Marty Bowen, Brian Casentini, Wyck Godfrey, Haim Saban
Produção executiva: Joel Andryc, John Gatins, Brent O´Connor, Allison Shearmur, Takeyuki Suzuki
Elenco: Naomi Scott, Elizabeth Banks, Becky G., David Denman, Emily Maddison, Ludi Lin, RJ Cyler, Dacre Montgomery, Lisa Berry
País: EUA
Estreia: 23/03/2017
Gênero: Ação, Aventura, Fantasia
Duração: 124 minutos
Distribuidor: Paris Filmes
Classificação indicativa: 12 anos
Sinopse: A jornada de cinco adolescentes que devem buscar algo extraordinário quando eles tomam consciência que a sua pequena cidade Angel Grove - e o mundo - estão à beira de sofrer um ataque alienígena. Escolhidos pelo destino, eles irão descobrir que são os únicos que poderão salvar o planeta. Mas para isso, eles devem superar seus problemas pessoais e juntarem suas forças como os Power Rangers, antes que seja tarde demais. (para assistir ao trailer, clique aqui)

Dublado: 20h20 (Sala 4)
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Os Smurfs e a Vila Perdida
(Smurfs: The Lost Village, 2017)
Direção: Kelly Asbury
Produção: Mary Ellen Bauder, Jordan Kerner
Produção executiva: Raja Gosnell, Ben Waisbren
Elenco: Vozes de: Joe Manganiello, Mandy Patinkin, Rainn Wilson, Demi Lovato, Jack McBrayer, Danny Pudi, Conrad Vernon, Lewis Black
País: Estados Unidos
Estreia: 06/04/2017
Gênero: Animação, Aventura, Comédia
Duração: 89 minutos
Distribuidor: Sony Pictures
Classificação indicativa: livre
Sinopse: Nesta nova aventura completamente animada de Smurfs, um mapa misterioso leva Smurfette e seus melhores amigos, Gênio, Desastrado e Robusto, à uma empolgante e divertida jornada pela Floresta Proibida - um lugar mágico e repleto de criaturas incríveis - para encontrar uma misteriosa vila perdida antes que o malvado feiticeiro, Gargamel, o faça. Embarcando em uma viagem cheia de ação e perigo, os Smurfs estão no caminho que leva à descoberta do maior segredo da história Smurf! (para assistir ao trailer, clique aqui)

Dublado: 14h50, 16h50, 18h50 (Sala 5)
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A Vigilante do Amanhã - Ghost in the Shell
(Ghost in the Shell, 2017)
Direção: Rupert Sanders
Produção: Ari Arad, Avi Arad, Michael Costigan, Steven Paul
Produção executiva: Tetsuya Fujimura, Mitsuhisa Ishikawa, Yoshinobu Noma, Jeffrey Silver
Elenco: Scarlett Johansson, Beat Takeshi Kitano, Juliette Binoche, Michael Pitt, Pilou Asbæk, Kaori Momoi, Chin Han, Danusia Samal, Lasarus Rtuere, Yutaka Izumihara, Tuwanda Manyimo
País: EUA
Estreia: 30/03/2017
Gênero: Ação, Drama, Ficção-científica
Duração: 106 minutos
Distribuidor: Paramount Pictures
Classificação indicativa: 14 anos
Sinopse: Baseado na série mangá Ghost in the Shell e no famoso anime homônimo de Mamoru Oshii, o filme acompanha Major, uma híbrida de humano e ciborgue, que lidera um esquadrão de elite especializado no combate a crimes cometidos com uso da tecnologia: a Seção 9. Ela e sua equipe precisam aniquilar um hacker, cujo objetivo é deter os avanços da cibernética. (para assistir ao trailer, clique aqui)

Dublado: 13h (Sala 6)
Legendado: 21h (Sala 5)
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A Bela e a Fera
(Beauty and the Beast, 2017)
Direção: Bill Condon
Produção: David Hoberman, Todd Lieberman
Produção executiva: Jeffrey Silver, Don Hahn, Thomas Schumacher
Elenco: Emma Watson, Ian McKellen, Luke Evans, Gugu Mbatha-Raw, Dan Stevens, Ewan McGregor, Stanley Tucci, Sonoya Mizuno, Emma Thompson
País: EUA
Estreia: 16/03/2017
Gênero: Família, Fantasia, Musical, Romance
Duração: 129 minutos
Distribuidor: Walt Disney Studios
Classificação indicativa: 10 anos
Sinopse: A história e os personagens que o público conhece e adora ganham vida de forma espetacular na adaptação em live-action do clássico de animação da Disney A Bela e a Fera, um evento cinematográfico deslumbrante que celebra uma das histórias mais amadas. (para assistir ao trailer, clique aqui)

Dublado: 15h20, 18h (Sala 6)
Legendado: 20h50 (Sala 6)
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Ingresso:
Valores Inteiros (exceto Sala 3D Digital):
Segunda, terça e quarta (exceto feriado e véspera de feriado): R$14,00 (o dia todo)
De quinta a domingo (e feriado): R$ 18,00

Valores Inteiros para a Sala 3D Digital:
Segunda, terça e quarta (exceto feriado e véspera de feriado): R$18,00 (o dia todo)
De quinta a domingo (e feriado): R$24,00.

Promoção:
De segunda a quarta-feira, todos os ingressos por R$ 7,00, exceto sessões 3D (R$9,00 + R$8,00 óculos)

No Cinema do Cariri Garden Shopping (Juazeiro do Norte-CE)
Site Orient Cinemas: http://www.orientcinemas.com.br/
Número de telefone do cinema: (88) 3571.8275.

Programação sujeita a alterações.

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quarta-feira, 12 de abril de 2017

Alarido



por Amador Ribeiro Neto

Bruno Molinero (São Paulo, 1990) cursou a Escola de Comunicações e Artes da USP. Jornalista. Estudou na Escuela Internacional de Cine y Televisión de Cuba e na Universitat de les Illes Balears, na Espanha. Vencedor do Prêmio Jovem Jornalista, do Instituto Vladimir Herzog. Finalista do prêmio Nascente, da USP. Representante do Brasil no World Event Young Artist, na Inglaterra. Alarido (São Paulo: Editora Patuá, 2016) é seu livro de estreia.

Sua poesia é feita da mesma matéria temática do jornalismo. Caminhoneiros tomando rebite pra dar conta da carga. Dona de casa mata o marido por puro estresse. Mãe atormentada pelas fantasias do filho abortado. Garoto crucifica um inseto depois de tomá-lo como deus. Medo do motoqueiro que carrega “revólver na bermuda”.

Engenheiro perde família no terremoto do Haiti, emigra para o Brasil e passa fome. Incêndio queima casas e biblioteca – menos uma página do Drummond. Menina do pole dance apresenta queixa inusitada. Delírios de um jovem solitário diante de uma garota no metrô. A garota do BDSM. Garotinha morre e vira boneca das coleguinhas. A inveja da mulher infértil e o castigo aplicado a uma tartaruga. A estranha lição de vida do jovem polaco. Ritual de um velho ante a morte. Universitária se fotografa para as redes sociais entre tiros. Idas e vindas das mandingas. Embaraços de uma anciã carente.

Maravilhamento da filha ante a morte do pai. Estranhas descobertas de um bebedor de uísque. Jovem que faz amor no cemitério.

Manchetes de jornais. Poderiam ser e parar por aí. Mas não. Sua poesia advém da mesma escolha sintática do jornalismo. Versos curtos. Nada de inversões. Predominância quase absoluta de substantivos. Ritmo acelerado de palavra puxa palavra. Comunicação imediata.

Bruno Molinero constrói seus poemas com a matéria concreta do cotidiano. E com a materialidade das palavras. Eles são fruto de uma montagem de versos (às vezes sílabas, às vezes apenas letras) que iconizam o objeto de que tratam. Por isso mesmo, ao lado da secura e objetividade, há a arquitetura de um aporte cinematográfico.

Ler Alarido é adentrar nas tramas e teias do cinema. Ainda que a contracapa do livro enuncie: “Alarido: 1. ruído de vozes, de gritos; falatório, algazarra, gritaria. 2. gritaria de guerra, clamor de combate”. O poeta, ou quem escreve a contracapa, já que não é assinada, parece chamar a atenção para o caráter auditivo e combativo do título. De fato a denúncia é a marca desta poesia, que sabe ser engajada passando ao largo do panfletário, do didático e da pasmaceira. Coisa rara. Coisa louvável. Mas não é só isso.

Todo bom poema é uma somatória de um bom tema com um bom arranjo da linguagem. Muitos se equivocam e focam no tema desprezando o tratamento dele. Outros incorrem no erro inverso: aprimoram formas e menosprezam o tema.

Em Alarido (assim, no singular, para ecoar mais forte) temos espessa marca da materialidade da poesia. O signo é tomado no âmago de suas camadas de significado e significante. Se a palavra visa a ser música na poesia – e música que se corporifica em significados –, aqui temos um grande livro de poesia. Temos uma estreia que merece toda atenção do leitor da melhor poesia.

Na resenha da antologia É agora como nunca (organizada pela Adriana Calcanhotto), comentando um poema de Bruno Molinero, anotei: “a narrativa do jornalismo policial convertida em possante vivacidade poética. Talvez seja nosso Rubem Fonseca da poesia”. Retomo e reafirmo o que dissera. Se nosso grande prosador vem, a cada livro, renovando a narrativa contemporânea com uma marca singularíssima (que chega a confundir críticos e leitores afoitos), o poeta trilha o mesmo caminho. Parece fácil o que ele consegue. Mas foi ele quem conseguiu esta forma na poesia contemporânea. Bandeira ensaiou algo próximo no “Poema tirado de uma notícia de jornal”. Mas é outra coisa. Outro contexto. Outro momento. Bruno toma o noticiário e o recicla com forma e/ou novas intervenções textuais. E aí mora o alumbramento de sua poesia.

Vejamos. “lúcia, 51, canhota” diz:
a morte do meu pai
é minha lembrança mais bonita

estávamos nós quatro na cozinha
eu
mamãe
vó marta
e meu irmão
quando veio a bomba

– papai morreu

vestida de rosa e bolinhas amarelas até o tornozelo
vovó se levantou
subiu no banquinho em frente à pia
esticou-se para alcançar o pó de café guardado no
armário
e disse lentamente
enquanto colocava a água para esquentar

– calma, lucinha. nós já vamos vê-lo

entramos no landau azul
chumbo
e logo imaginei meu pai da mesma cor do carro
algodãozinho no nariz
terno preto
gravata fina

mas quando chegamos ao porão
em que meu velho tinha dormido para sempre
quase caí para trás

meu pai estava enforcado
mas não era um morto qualquer
caído
frouxo
flácido

ele morreu enforcado
em um quarto colorido
cheio de brinquedos
vestido de palhaço
e com milhões de bexigas amarradas no pé esquerdo
tantas
mas tantas
um exército de bolinhas cintilantes
que puxava o corpanzil de 120 quilos pelo tornozelo
em direção ao céu
e só não o levava para a lua
porque a corda amarrada no pescoço
insistia em fazê-lo flutuar de ponta cabeça

meu pai morreu enforcado
espelhado
ao contrário
invertido

ele sempre me surpreendia
aquele bandido
até na morte tinha que fazer palhaçada

deitei no carpete cinza
olhei os cabelos feito morcegos ao meio-dia
e adormeci com o cheiro forte de café que inundava o ar

Como desconhecer a força poética deste poema? Bruno vale-se do coloquial, de recortes da realidade crua e os investe de uma linguagem admiravelmente isomórfica. Quer seja: a cada sequência do poema, marcada pela divisão estrófica, o eu lírico (= lúcia, 51 anos) faz-nos companhia no percurso para o encontro da morte. E na construção do vazio da vida entre cores e brinquedos.

Em “ângela, 51, não tem ovos”, a solidão se compraz da crueldade:
nunca antes tinha tomado sopa de tartaruga
até que meti a gertrudes na panela

ela mereceu
:
decidiu colocar um ovo bem na minha frente
acredita?

vinte anos juntas,
desde que a bicha parecia um enfeite de banheiro,
e nunca tinha feito nada parecido

aí… cloc

botou a casca
melecada
ao lado do meu pé

justo ela
comprada para nos fazer companhia
quando descobri que não tenho óvulos próprios

tomei o caldo frio
ainda ouvindo-a borbulhar dentro do casco

Imagens desconcertantes vazam todo o poema. O primeiro verso começa com requintes de uma refeição sofisticada. E o último fecha o poema com requintes da crueldade anunciada. A invocação do leitor como cúmplice (“acredita?”), a incorporação da onomatopeia como economia verbal (“aí, cloc”) e o desamparo ante a traição da tartaruga, depois de vinte anos de cumplicidade, desorientam o eu lírico (= ângela, 51 anos) ao mesmo tempo em que desnorteiam o leitor. Esta quebra da norma, inicialmente sugerida, reverte a expectativa que o poema enunciava, e instala uma nova perspectiva: e aí reside a poesia.

A banalização da violência está em “marcela, 43, casada”:
matei, sim senhor
porque quis
não, até que era bonzinho
na gaveta da cozinha. uma daquelas grandes, sabe?
isso, ele estava no sofá
de costas
não, não me viu
dei dois passos e a lâmina escorregou para a cabeça dele
não tirei porque mancharia ainda mais o tapete
ora, se sabe, por que pergunta?
desculpe. sim, o corpo ficou lá
depois saí
mansão. era muito rico
não. deixou tudo para as meninas
eu sabia, sim senhor
porque quis, já disse
cansei de subir em pau de sebo. deslizar fácil não tem graça
sim. mas vou ficar muito tempo?
é que deixei a panela no fogo

A poesia, sabemos, é um texto difícil. Esta dificuldade, todavia, não reside nos malabarismos da linguagem. A bem da verdade, malabarismo, em poesia, é tiro no próprio pé. É difícil fazer um poema hermético de qualidade. Mas é também difícil fazer um poema simples, que prime pelo rigor sem cair na mesmice.

Em Bruno Molinero a palavra colhida do jornalismo é reciclada por imagens e montagens estruturais que desconstroem a percepção viciada do leitor e inauguram um novo momento. Pode ser o caso do leitor de jornais, bem como o de literatura. Bruno Molinero desinstala a segurança do leitor que, precipitadamente, acha que sabe qual é a do poema.

Não sabe. Não sabemos. Eis mais um mérito deste poeta. Cada poema está no limite do prosaico. E essa é uma grande qualidade. O poético limítrofe. Isso não é fácil. Isso fascina em Alarido.

A poesia narrativa de Bruno Molinero é neo-épica, sem deixar de ser lírica. Seu estilo épico-poético-jornalístico é um alento em tempos de tanta literatura diluída e/ou vazia. Ele estreia com marca própria. Que venha o novo livro.
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Amador Ribeiro Neto é poeta, crítico literário e de música popular. Doutor em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Professor do curso de Letras da UFPB.

Textos recentes de Amador Ribeiro Neto no blog O Berro:
- Tudo (e mais um pouco)
- Cadela prateada
- A nova antologia da Adriana Calcanhotto
- Em pauta, Pedro Osmar
- A arte e a máquina
- O computador e a arte
- O blefe e o breque: Moreira da Silva
- Uma poemúsica de Arnaldo Antunes
- Caetano e uma poemúsica de ninar
- Cazuza: navalhadas na poesia brasileira

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terça-feira, 11 de abril de 2017

I Love B Movies



por Saulo Portela
“Filmes morrem. Filmes desaparecem, são esquecidos, destruídos, perdidos. O Cinema - o processo mecânico inventado para capturar e projetar imagens em movimento - perpetuou famosos e anônimos em celuloide, respondendo ao anseio do Homem em tornar-se eterno. Mas o produto cinematográfico é matéria orgânica, perecível, quase tão mortal quanto a carne e o sangue. Com o passar do tempo descobrimos que o filme envelhece, ganha rugas, sofre cortes e amputações. Degenera-se.”
(PRIMATI, Soares. Cemitério Perdido dos Filmes B. São João dos Pinhais, 2014, p.11)

E amo mesmo. Desde sempre tive um apreço por histórias não convencionais, uma paixão por monstros oriundos do espaço sideral, do oceano e até os criados pelo próprio homem. Vampiros, lobisomens, zumbis, múmias, criaturas aquáticas e alienígenas são habitantes ou visitantes assíduos em produções do cinema B, porém esse termo, por vezes é usado de forma errônea ou mal empregado, geralmente associado a produções ruins, atuações caricatas e efeitos medonhos, logo se fazem necessários maiores esclarecimentos sobre estas pérolas do cinema.

As décadas de 1930 e 1940 representaram um marco para o cinema americano. Grandes estúdios Hollywoodianos viveram suas épocas de ouro neste período e as “double features” tornaram-se a sensação do momento: dois filmes pelo preço de um! A sessão dupla continha como atração principal um filme dos estúdios A, com atores famosos, orçamento e duração maiores e uma produção mais barata, proveniente dos estúdios B, geralmente das mesmas produtoras, que logo foram batizados de Filmes B, que aqui serão a cereja do bolo.

Embora minha predileção sempre foram os de horror e sci-fi, era bastante comum filmes B de faroeste e gangsters. Por vezes, tais produções usaram cenários e figurinos de segunda mão, mas as grandes doses de criatividade, bom humor e sensualidade compensavam qualquer orçamento limitado.

A grande depressão dos Estados Unidos ao fim dos anos de 1920 afetou o cinema de forma que o valor dos ingressos e a quantidade de espectadores caíram bruscamente. Lutando pra evitar falência criou-se a MPPDA (Motion Picture Producers and Distributors), uma espécie de cooperativa entre as maiores cinco produtoras da época, que passaram agora a controlar a produção, distribuição e exibição de filmes. Nesse contexto, os oprimidos exibidores independentes passaram a ofertar promoções e sessões especiais, como matinês, sessões gratuitas pra senhoras e as sessões duplas, criando e fortificando o conceito dos Filmes B.

As produções tornaram-se febre entre os norte-americanos, evitando a decadência e criando assim uma nova era para o cinema. Embora as produções “de segunda” tivessem caído no gosto popular, tornando-se sinônimo de bilheteria garantida, elas não eram atingidas pelo impiedoso Código Hays (1930-1968), que assombrava e censurava grandes produções, sendo assim, o cinema B tomava corpo e foi por vezes alvo de boas críticas. Grandes exemplares deste período são: Zumbi Branco (1932), A Morta Viva (1943), O Túmulo Vazio (1945) dentre ouros.

No começo dos anos 1950, a Suprema Corte Americana proíbe essa prática dos grandes estúdios, alegando que as salas não geravam competição e criavam monopólio. Tal decisão abriu mercado para o cinema estrangeiro e deu mais opções para o público, porém o dividiu em classes. Os mais abastados continuaram assistindo grandes produções e filmes de arte europeus enquanto os menos afortunados ficavam limitados a cinemas de periferia e drive-ins. Sendo assim temos a morte do cinema B tal como foi concebido, porém a quebra do monopólio favoreceu a produção independente, o que fez com que grandes exemplares do cinema de horror fossem criados e ainda levassem o título de filmes B, apesar da nomenclatura ter sido criada para nomear filmes das décadas de 1930 e 1940.

Muitas obras desse período foram perdidas, mas com as constantes homenagens a estas preciosidades, por parte de diretores em filmes das décadas de 1970 e 1980, com os inúmeros remakes e com o avanço da era digital, filmes B são facilmente encontrados em cópias físicas ou disponíveis para downloads atualmente. Então se desnude de seus preconceitos cinematográficos e se permita deliciar com personagens exóticos, mocinhas a perigo, monstros sedentos por sangue ou apaixonados e heróis invencíveis.
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Saulo Portela, 34 anos, professor de matemática, apaixonado por cinema e principalmente pelo gênero horror.

Texto originalmente publicado na SÉTIMA: Revista de Cinema (edição 37, de novembro de 2016), que é distribuída gratuitamente na Região do Cariri cearense. A Revista Sétima é uma publicação do Grupo de Estudos Sétima de Cinema, que se reúne semanalmente no SESC de Juazeiro do Norte-CE.

Textos recentes da Revista Sétima postados no Blog O Berro:
- Meus 10 melhores filmes de todos os tempos, por Émerson Cardoso
- V de Ideia
- O Que Terá Acontecido a Baby Jane? 
- Meus 10 melhores filmes de todos os tempos, por Elandia Duarte 
- Uma nova amiga, novas possibilidades
- Histórias de nós
- Antes de depois 
- Meus 10 melhores filmes de todos os tempos, por Virgínia Macedo

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domingo, 9 de abril de 2017

Tudo (e mais um pouco)



por Amador Ribeiro Neto

Chacal (Rio, 1951) nasceu Ricardo de Carvalho Duarte. O seu nome verdadeiro está no título do livro de estreia: Muito prazer, Ricardo (1971). Tudo (e mais um pouco) (São Paulo: Editora 34, 2016) reúne sua obra do primeiro ao mais recente livro, Alô poeta (2016). Em 2007 ele havia lançado, em coedição da Cosac Naify e 7Letras, Belvedere, até então o livro mais completo sobre sua obra.

Chacal é um empenhado ativista do CEP 20.000 e um dos nomes mais lembrados quando se fala da Poesia Marginal. Integra a célebre antologia 26 poetas hoje, que a Heloisa Buarque de Hollanda organizou em 1976. Esta antologia marcou época e encheu a bola de muita gente sem talento algum pra poesia. É o caso de Chacal.

Com seu jeito desleixado de escrever, acreditando e divulgando que “tudo que você sente é você mesmo e, portanto, é sua poesia”, segue fazendo sucesso entre os adolescentes remanescentes dos anos 70. E entre os novos e velhos adolescentes das décadas de 90 e 2000. Adolescentes estes que se incumbiram de alastrar um modo de fazer poesia marcado por confundir naturalidade com boçalidade, coloquialismo com pobreza vocabular, quebra da norma com ignorância estética, crítica a autores canônicos com desconhecimento da literatura. E por aí vai, no mesmo ramerrão de horrores.

E uma das piores balelas ostentadas por Chacal é a convicção de ele que se vale da concisão e da irreverência de Oswald de Andrade. E, pra piorar o texto e o contexto, boa parte da crítica repete seu jargão. Sem avaliá-lo, é certo.

Na verdade, Chacal não passa de um diluidor dos recursos oswaldianos. Diluidor significa aqui o que o leitor já sabe: aquele, ou aquilo, que diminui a concentração com a adição de líquido. No caso, concentração é a poesia de Oswald. E líquido, o despreparo, a ignorância e a preguiça de estudar teoria e história da poesia. Só quem estuda e conhece poesia é capaz de fazê-la. Sem repetir o já feito. Sem chafurdar na pasmaceira contagiosa.

Ter sentimentos, todos temos. Ser poeta é outra coisa. É, por exemplo, converter o sentimento em linguagem, rigor, exatidão. Oswald é poeta. Pessoa, T.S. Eliot, Drummond, idem. Valéry, outro grande poeta, afirma que não basta ao poeta sentir-se inspirado. É preciso fazer o leitor sentir-se como tal. Ou seja: é preciso converter seus sentimentos, pensamentos, ações em linguagem poética.

Para Chacal, basta sentir. O resto é lero-lero, conversa mole. É assim esse seu livro. Do livro publicado em 1971, ao do ano passado, não percebemos sequer uma linha de amadurecimento. A infantilização dos textos é a tônica dominante de sua obra reunida. Não há tudo e mais um pouco. Há pouco. E quase nada.

Em 1971 ele escrevia no poema “Prezado cidadão”:
colabore com a lei
colabore com a Light
mantenha luz própria

Certo, o rapaz tinha só vinte anos. Pois bem, em 2016, com sessenta e cinco, ele escreve:
o mercado quer te regular
mas a vida não tem manual
invente-se!

Pois é. Com exclamação e tudo. Mas não tem jeito. O poeta não escreve bem. E desconfio que ele saiba disso. Vive, psicanaliticamente, insistindo, no refrão: “escreve bem, escreve bem, escreve bem”. Vem a dúvida: é um imperativo para o leitor? Ou um conselho para o próprio poeta?

Vejamos:
primeiro escreve bem
depois vai procurar sua turma
faz um zine
inventa uma banda
mas antes, escreve, escreve
e fala bem porra

O leitor deve se sentir pasmo. Os clichês usados como clichês sem mais nem por quê. Não há uma negação que possa ser mimetizada. Não há uma afirmação que se fundamente numa escrita mimética. Isomorfismo, quer seja, trama do que se diz, com o modo com que é dito, inexiste. Insisto. Busco alguma relação entre forma e fundo. Nada encontro. É um texto apenas de superfície. Leviano. Nem tangencia o essencial.

A dita poesia de Chacal não existe. Ele acredita que trocadilhar boçalmente é ser oswaldiano. Por favor, salvemos Oswald desta fria.

Chacal acha que faz rir com o poema “Chiste”, que cito integralmente:
inexistível não existe.

Chacal acha que faz poema engajado em “Ganso”:
só afogando o (passo de) ganso
vamos tirar o (Brasil do) atraso

 Chacal acha que faz rir e que faz poema engajado em “Olho”:
tu pensas que me vês
mas eu é que te vejo

eu sou mais poderoso
que o incrível hulk
mais incrível
que o poderoso chefão

porque eu sou
eu sou o olho
eu sou o olho
da televisão

Por fim, a sapiência de uma lição de vida e de poesia, escrita sob a consciência crítica, política, existencial e psicanalítica, quando contava cinquenta e seis anos, no poema “Como era bom”. Cito-o na íntegra:
o tempo em que marx explicava o mundo
tudo era luta de classes
como era simples
o tempo em que freud explicava
que édipo tudo explicava
tudo era clarinho limpinho explicadinho
tudo muito mais asséptico
do que era quando eu nasci
hoje rodado sambado pirado
descobri que é preciso
aprender a nascer todo dia

Como já disse o semioticista russo Chklóvsky, a poesia reside na singularização do objeto e na alteração de nossa percepção usual da coisa. O objetivo jamais pode ser a simplificação das coisas. Ao contrário: deve criar uma nova visão do já conhecido. E não apenas uma imagem de reconhecimento. (Isso é pegadinha, não é poesia).

Após afirmar que a língua da poesia pode se aproximar da prosa, Chklóvsky pontua: “mas sem contradizer a lei da dificuldade”. Ou seja, a dificuldade é aquela “pedra de quebrar dente”, o que “açula a atenção, isca-a com o risco”, que nos ensina João Cabral, num poema que deve ser leitura obrigatória, e diária, para todo poeta.

Pois é: a poesia de Bandeira, Drummond, de Oswald é difícil. E sua dificuldade reside na própria simplicidade. O simples é difícil. Apropriar-se do coloquial não é repetir chavões. É reciclá-lo numa linguagem rigorosamente elaborada. O resto é nada.

Ao final de Tudo (e mais um pouco) fica quase nada. Ou nada. Chacal precisa ler poesia. Que tal começar por Oswald?
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Amador Ribeiro Neto é poeta, crítico literário e de música popular. Doutor em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Professor do curso de Letras da UFPB.

Textos recentes de Amador Ribeiro Neto no blog O Berro:
- Cadela prateada
- A nova antologia da Adriana Calcanhotto
- Em pauta, Pedro Osmar
- A arte e a máquina
- O computador e a arte
- O blefe e o breque: Moreira da Silva
- Uma poemúsica de Arnaldo Antunes
- Caetano e uma poemúsica de ninar
- Cazuza: navalhadas na poesia brasileira
- Tem alguém cantando aqui

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sábado, 8 de abril de 2017

Show de lançamento do disco ‘Guerreiro de Fitas’, do grupo Zabumbeiros Cariris



“O grupo Zabumbeiros Cariris promove o lançamento do seu mais recente álbum, intitulado Guerreiro de Fitas.

Brindando vivos 15 anos de carreira, de luta, amor e resistência, o grupo apresenta ao público caririense o segundo disco da banda, que contou com o financiamento da Secretaria de Cultura do Estado do Ceará (através da Lei de Incentivo à Cultura), com a direção musical de André Magalhães e com a direção e os arranjos vocais de Luciano Brayner, além de belíssimas participações, mais que especiais, de amigos dos Zabumbeiros.

Gravado no EDS Studio, em Juazeiro do Norte, e mixado e masterizado no Estúdio Zabumba (São Paulo, Brasília, Crato), Guerreiro de Fitas é fruto de um árduo e lindo trabalho conjunto, feito com muito carinho e zelo.” (sinopse da produção do evento)
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Show dos Zabumbeiros Cariris
Show de lançamento do disco Guerreiro de Fitas
Sábado, 08 de abril de 2017, às 19h30min
No Teatro Sesc Patativa do Assaré
Juazeiro do Norte-CE
Entrada gratuita.

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sexta-feira, 7 de abril de 2017

‘O Feitiço de Áquila’, filme de Richard Donner, em exibição no Cine Café



Cine Café do CCBNB Cariri (com mediação e curadoria de Elvis Pinheiro)
Exibição do filme O Feitiço de Áquila
Ficha técnica:
Título original: Ladyhawke
Direção: Richard Donner
Roteiro: Edward Khmara, Michael Thomas, Tom Mankiewicz, David Peoples
Elenco: Matthew Broderick, Rutger Hauer, Michelle Pfeiffer, Leo McKern, John Wood, Ken Hutchison, Alfred Molina
Duração: 121 minutos
Ano: 1985
País de origem: Estados Unidos

“Europa, século XII. O Bispo de Áquila toma consciência que sua amada, a bela Isabeau, está apaixonada por Etienne Navarre, um cavaleiro. Áquila fica possuído de raiva e ciúme e lança uma maldição sobre o casal.” (sinopse da divulgação do evento)

Exibição no sábado, 08 de abril de 2017, às 17h30
No Centro Cultural Banco do Nordeste Cariri (Juazeiro do Norte). Entrada gratuita.

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‘O Óleo de Lorenzo’, filme de George Miller, em exibição em Barbalha



Cine Café Volante em Barbalha (com mediação de Elvis Pinheiro)
Exibição do filme O Óleo de Lorenzo
Ficha técnica:
Título original: Lorenzo's Oil
Direção: George Miller
Roteiro: George Miller e Nick Enright
Elenco: Susan Sarandon, Nick Nolte, Peter Ustinov, Aaron Jackson
Duração: 129 minutos
Ano: 1992
País de origem: Estados Unidos

“Augusto Odone (Nick Nolte) e Michaela Odone (Susan Sarandon) são os pais de um garoto que tem uma rara doença cerebral.” (sinopse da divulgação do evento)

Exibição na sexta-feira, 07 de abril de 2017, às 19h
No Auditório da Faculdade de Medicina, no Centro de Barbalha-CE. Entrada gratuita.

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quinta-feira, 6 de abril de 2017

Khrystal faz show no Cariri



A cantora e compositora Khrystal chega mais uma vez ao Cariri. Desta vez para a realização de seu mais novo show, fruto do terceiro álbum lançado (sendo o segundo com composições próprias) pela artista Potiguar intitulado Não deixe pra amanhã o que pode deixar pra lá.

O disco traz em doze faixas novas parcerias e participações especialíssimas e composições inéditas com Thaís Gulin, Tatiana Cobbett, Paulo de Oliveira e Jubileu Filho.

Segundo Alceu Valença, o novo disco de Khrystal reflete a multiplicidade da artista. Suas letras são poemas com sonoridades, aliterações e profundidade. Khrystal vive os três tempos: o passado, o presente e o futuro projetado. Seu trabalho é parâmetro para artistas que se perdem no caminho na indústria do entretenimento.

O show de Khrystal traz um Power Trio formado pelos Músicos Paulo de Oliveira (Baixo e Programações), Stallone Terto (Guitarra) e Darlan Marley (Bateria) acompanhando a cantora.

O show já passou por Fortaleza, João Pessoa, Caruaru, Recife, Olinda e São Paulo e azeita repertório que se soma a releituras exclusivas do show que será exibido neste fim de semana, no CCBNB Cariri.

Os ingressos para show que acontece neste sábado, dia 8 de abril, começam a ser distribuídos gratuitamente a partir 13h, na recepção do Centro Cultural Banco do Nordeste Cariri. (sinopse da produção do evento)
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Show musical
Khrystal - Não deixe pra amanhã o que pode deixar pra lá
Sábado, dia 8 de abril de 2017, às 19h30
No Teatro do Centro Cultural Banco do Nordeste - CCBNB Cariri
Juazeiro do Norte-CE
Entrada gratuita
Mais informações: 3512.2855.

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